Afinal, Pablo Neruda pode não ter sido envenenado como avançou a família do escritor

Agência Lusa , NM
17 fev 2023, 00:58
Rodolfo Reyes, advogado e sobrinho de Pablo Neruda, com a advogada do caso, Elizabeth Flores (EPA)

Investigadores Hendrik e Debi Opinar foram menos incisivos em relacionar a presença da bactéria ‘clostridium botulinum’ com a morte do escritor

Dois dos especialistas que investigaram a morte do poeta chileno Pablo Neruda, ocorrida em 1973, afirmaram quinta-feira que a presença de uma bactéria no corpo do escritor não significa que ele tenha morrido envenenado.

A bactéria ‘clostridium botulinum’ "estava presente no momento de sua morte, mas ainda não sabemos porquê. Só sabemos que não deveria estar lá", disseram Hendrik e Debi Poinar, da Universidade McMaster do Canadá, em declarações à Agência France-Presse.

Ambos fazem parte do painel de especialistas internacionais que investigou o possível envenenamento de Pablo Neruda, e cujas conclusões foram entregues na quarta-feira à juíza chilena responsável pelo caso, Paola Plaza.

Na quarta-feira, em conferência de imprensa, a juíza explicou que o relatório dos peritos irá ser analisado para que o tribunal se possa pronunciar sobre o caso.

"Neruda foi assassinado", disse Rodolfo Reyes

Na segunda-feira, a família de Pablo Neruda afirma que a investigação dos especialistas forenses determinou que o poeta morreu envenenado, há 50 anos, por via de uma bactéria encontrada nos restos mortais.

“Sabemos agora que o ‘clostridium botulinum’ não deveria estar no esqueleto de Neruda. O que significa isto? Que Neruda foi assassinado, que houve intervenção de agentes estatais em 1973”, disse Rodolfo Reyes, sobrinho do poeta, em declarações à Efe.

Os investigadores Hendrik e Debi Opinar foram menos incisivos em relacionar a presença da bactéria e a morte do escritor por envenenamento, em 1973.

A morte de Pablo Neruda, Nobel da Literatura em 1971, é um dos grandes debates do Chile pós-golpe de Estado. A posição oficial há muito defendida é a de que Neruda morreu de complicações decorrentes de cancro da próstata, mas o antigo motorista do escritor, Manuel Araya, argumentou durante décadas que ele havia sido envenenado.

A bactéria, responsável pelo botulismo, foi encontrada em 2017 num dos molares de Neruda por outro painel de cientistas, que na altura rejeitou logo a versão da ditadura, negando que a causa de morte do poeta fosse o cancro avançado da próstata de que padecia desde 1969.

A incógnita que permanece é a de saber como e por quem a toxina botulínica foi introduzida no corpo do autor de “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”.

Grande parte da família de Neruda apoia a versão do motorista do poeta, Manuel Araya, segundo a qual foi envenenado através de uma injeção no abdómen, por um agente secreto do regime que se fez passar por médico na Clínica Santa Maria em Santiago do Chile.

Pablo Neruda morreu no dia 23 de setembro de 1973, apenas 12 dias após o golpe de Estado com que Augusto Pinochet derrubou o Governo de Salvador Allende.

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