Uma crónica sobre essa infinita capacidade que temos que temos de olhar para o que não interessa assim tanto no futebol português
Einstein dizia conhecer duas coisas infinitas: o universo e a estupidez humana.Se o génio alemão, criador da teoria da relatividade geral, voltasse ao mundo dos vivos e tivesse o mínimo interesse pelo futebol português, acrescentaria por certo um terceiro elemento infinito:
O excessivo foco nos três grandes
Essas críticas, como jornalista, ouço-as há anos, da parte de dirigentes, treinadores, jogadores e adeptos de equipas menos cotadas. E cada vez mais sinto que, no geral (há sempre boas e más exceções), elas têm fundamento
É possível fugir a isto? Tem que ser.
O mais curioso é que, quando se tenta fazê-lo, quase sempre percebemos que valeu a pena. Porque há mesmo muitos pormenores nos clubes menos visíveis que não nos deviam escapar.
Vitamina Viterbo
Neste terço final de campeonato, cada equipa começa a lançar os seus últimos trunfos, em nome da salvação.
Se lá por cima qualquer deslize pode complicar ambições de título (Benfica e FC Porto) ou de acesso à Champions (Sporting e FC Porto) e à Europa (Sp. Braga, V. Guimarães, eventualmente ainda Belenenses ou Paços e até Nacional e Rio Ave, via Taça), cá mais para baixo passa-se o inverso: qualquer ponto somado
O que se tem passado com a Académica
Será só o «efeito chicotada»? Em que consistirá mesmo essa «vitamina Viterbo»
Vitória no Estoril, empate em casa com o Arouca, vitória em Moreira de Cónegos: sete pontos em três jornadas, em contraste absoluto com os 15 somados em 21 jogos por Paulo Sérgio.
Este bom trabalho do Pedro Jorge da Cunha
O Petit milagre do Bessa
O futebol do Boavista está longe de poder ser apontado como exemplo neste campeonato. Falta uma ideia de jogo, faltará também qualidade individual. Mas os 25 pontos já somados
Quem diria, nessa altura, que em fase tão adiantada da época, este Boavista viria a estar à frente de equipas como a Académica, o V. Setúbal ou o Gil Vicente?
Se aquilo que mais nos atrai no futebol são momentos de génio ou a qualidade de um coletivo, a capacidade de uma equipa superar as suas limitações e, com isso, atingir objetivos aparentemente inalcançáveis também deve ser destacada. E tem havido, esta época, um «Petit milagre» no Bessa, muito por mérito do seu treinador
E até no plano individual tem havido surpresas, como Afonso Figueiredo
Ganhar ao V. Guimarães por 3-1 é, admitamos, um belo resultado
O caso Rui Quinta
Nada melhor do que apontar o exemplo de quem está... em último, para mostrar que mesmo quem está no fundo tem coisas boas a descobrir.
O Penafiel,
O desempenho em Alvalade, no jogo de fecho da jornada 24, foi mais uma prova: estar a perder 2-0 aos sete minutos e ainda ir ao 2-2 (com o aliciante do Sporing ter estado boa parte do duelo com menos um, é certo), dá conta dessa capacidade.
O Penafiel não pontuou, mas encostou o leão às cordas em plena Alvalade e isso, em grande parte, foi mérito da visão de Rui Quinta, que lançou bem em jogo Bruninho, Vítor Bruno e João Martins.
Benfica e FC Porto experimentaram sérias dificuldades de passar no «Municipal 25 de Abril». O triunfo em Setúbal
Mas, lá está, mesmo o último tem futebol suficiente para marcar três num jogo que perde em casa, ou ir a Alvalade e sonhar com o empate (teve que soltar-se o talento de Nani
E isso é bom. Não podemos achar fantástico que haja muitos golos na Bundesliga e depois acharmos apenas «inconsequente» que uma equipa como o Penafiel faça golos mas perca jogos.
Eu, pelo menos, acho melhor assim.
«Nem de propósito» é uma rubrica de opinião e análise da autoria do jornalista Germano Almeida. Sobre futebol (português e internacional) e às vezes sobre outros temas. Hoje em dia, tudo tem a ver com tudo, não é o que dizem?