Nunca é fácil perceber quando se deve dar um passo atrás para se poder dar dois à frente. O regresso a Paços, arriscado em quase todos os pontos de vista, está a dar razão ao técnico que falhou no FC Porto
No futebol, como na vida, quando se chega a um determinado nível, há sempre o risco de cair na ilusão de que isso é uma «garantia» que valerá para sempre.Perceber quando se deve dar um passo atrás para se poder dar dois à frente
Não deve ter sido fácil, mas Fonseca soube chegar à melhor decisão: meses depois de ter sido treinador do FC Porto, aceitou descer alguns degraus na escadaria futebolística, regressando ao Paços de Ferreira, de onde tinha saltado para o Dragão.
Quantos aceitariam fazer o mesmo?
É verdade que não é caso único. Outros técnico portugueses que chegaram a grandes viriam a treinar, mais tarde, equipas bem mais modestas (Quinito, Carlos Manuel, José Couceiro, Domingos...), mas uma passagem tão rápida e logo para o mesmo clube de onde se transferira para o FC Porto, isso sim é caso único.
Os riscos eram evidentes
Por outro lado, o tal provérbio que nos avisa que não se deve «voltar a uma casa onde se foi feliz» seria, em situação normal, alerta sério para Paulo Fonseca. Não haveria mais a perder do que a ganhar com este regresso à Capital do Móvel?
Paços-Dragão-Paços...
A 5 de março passado, no dia em que completou 41 anos, Paulo Fonseca consumou a saída do FC Porto
Nesse dia, escrevi isto no meu perfil pessoal do Facebook: «Paulo Fonseca voltará a ser um treinador de topo em Portugal. Mas ficaram esgotadas as possibilidades de continuar a ser feliz nesta passagem pelo FC Porto. Não faltará muito para voltarmos a vê-lo em bom plano».
O balanço da passagem pela casa portista foi obviamente negativ
Pouco para um clube com a dimensão e os hábitos de vitória do FC Porto (certamente), mas não tão pouco assim para passagem tão fugaz por casa que costuma dar muito tempo aos treinadores para mostrarem o que valem.
Menos alternativas do que Lopetegui esta época
E convém lembrar que Paulo Fonseca, na época passada, estava longe de ter a abundância de qualidade de que Julen Lopetegui dispõe esta época no Dragão...
A verdade é que o regresso a Paços, com os tais riscos que tinha à partida, está a correr acima de qualquer expetativa.
Impossível repetir o terceiro lugar de 12/13? Sim, quase impossível, pelo menos, quando vemos um V.Guimarães tão forte (à frente do FC Porto!) e um Sp. Braga com talento e ânimo para lugar, pelo menos, pelo quarto posto.
Mas o Paços 14/15 de Paulo Fonseca, em poucos meses, mostrou ser muito mais competente, muito mais eficaz e muito mais organizado que o desastroso Paços 13/14, a viver em instabilidade permanente (primeiro a «culpa» era de Costinha, depois passou a ser de Calisto, mais tarde era de Jorge Costa, que só salvou o Paços da queda na segunda mão do play-off com o Aves, para apurar a 18.º vaga de Liga alargada pelo regresso do Boavista...)
Mérito de Paulo Fonseca
Escolheu um esquema de 4x4x2 (depois de anos com o Paços em 4x3x3, sob diferentes treinadores), montou equipa que não perde a organização, mesmo quando as coisas não estão a correr bem.
Para já, está a valer o sétimo posto, mas só a um ponto do Sporting, e a apenas dois de Braga e Belenenses.
Mesmo ontem, em jogo que aparentemente não estava a correr tão bem (Estoril a surpreender com vantagem de 0-1, risco de derrota em casa com equipa que estava abaixo na tabela), Paulo Fonseca voltou a responder bem, lançando Edson Paraíba para o golo do empate.
Para se provar qualidade, não é preciso estar-se num grande nem é obrigatório lutar-se pelo título.
É preciso ser consistente, mostrar trabalho continuado. Ganhar sem ser «por acaso», mas por mérito
Pela segunda vez em três anos, é isso que Paulo Fonseca tem feito em Paços de Ferreira. Com coragem e competência. Oportunidade mais vistosa do que a Mata Real há-de voltar a aparecer. De certeza.
PS: