É bom ver alguém sentir que atingiu o cume da sua carreira. As escolhas que o novo selecionador tem feito só seriam possíveis vindas de alguém que não receia críticas ou consequências
(ponto prévio: escrevi 95% deste artigo ainda antes do jogo de Manchester e, portanto, não o fiz «contagiado» pelo excelente resultado e pela exibição por vezes fraca e, só a espaços razoável, de Portugal frente à Argentina...)
Ainda é muito cedo para levar Fernando Santos a julgamento, mas os primeiros dois meses (nem isso, a apresentação foi a 24 de setembro...) têm sido muito positivos.
Mostram, pelo menos, que o novo selecionador nacional encontrou a rota certa
Na minha opinião, por três grandes razões
1. Porque ignorou as exigências simplistas de «renovação»
2. Porque conseguiu, em tempo recorde, desmontar a ideia
3. Porque não se preocupou nem em proteger nem em atacar o legado de Paulo Bento
O valor acrescentado à Seleção
Há outros casos, de elementos que já tinham estado nas contas de Paulo Bento, mas que não eram opções regulares e que com Fernando Santos poderão ter mais hipóteses: André Gomes, por exemplo.
Mesmo nomes que estavam nos planos de Paulo Bento e que ainda constaram nas primeiras convocatórias de Fernando Santos (Rafa Silva, que até foi ao Mundial; Ricardo Horta e Pedro Tiba, que fizeram parte da derrota com a Albânia, fim de linha para Paulo Bento), poderão também ainda merecer futura escolha de Santos.
A juntar a tudo isto, a seleção de sub-21, não sendo imbatível (a derrota em Burnley, no particular com Inglaterra, até pode ter tido essa virtude de nos avisar sobre isso), fez percurso notável rumo ao Europeu do próximo ano, na República Checa.
E, de repente, o leque de escolha alarga-se...
E outro ponto muito positivo dos primeiros tempos de Fernando Santos no cargo de selecionador nacional tem a ver, precisamente, com a ligação frutuosa com os sub-21.
Isso está a ser facilitado pela atitude extremamente profissonal e positiva de Rui Jorge e também por um elo de ligação fundamental nesta relação, que é Ilídio Vale.
Há uma «bateria» de jogadores que se encontram nesse limbo entre a equipa de sub-21 e os «AA» (André Gomes, Bruma, João Mário, William Carvalho e, no limite, também nomes como Ivan Cavalerio, Rúben Neves, Mané ou Ricardo Horta).
Nesta ligação Seleção principal/seleção sub-21 haverá, certamente, alguns momentos críticos, em que terá que se decidir o que deve prevalecer (em princípio, os interesses da equipa AA, mas por exemplo na convocatória final para o euro na República Checa será de admitir que a prioridade vá paraos sub-21, sendo que a equipa sénior terá, dias antes, importante jogo com a Sérvia, a 13 de junho...)
Seja como for, fica clara a conclusão de que, em poucos meses, a Seleção Nacional passou da depressão pós-mundial, com uma suposta urgência de «renovação» geracional, para uma realidade de alargado leque de escolhas.
As vitórias na Dinamarca e com a Arménia (sobretudo o triunfo em Copenhaga) ajudaram a reforçar o espaço de manobra do novo selecionador para seguir este caminho.
Está tudo bem?
Não, claro que não. O súbito aumento da média de idades do onze de Portugal (com a inclusão de nomes como Ricardo Carvalho, Tiago ou Danny), integrando-se nessa recusa em aceitar a «renovação porque sim»
E falta também um «10»
O problema do «9»
Por outro lado, há um «calcanhar d’Aquiles» que continua a perseguir as opções dos selecionadores de Portugal: a questão do ponta de lança.
Postiga e Hugo Almeida estão a iniciar a fase descendente, Éder, com o devido respeito, sendo um avançado interessante, não me parece ter qualidade para se assumir como ponta de lança de referência da Seleção Nacional.
Ronaldo?
Fernando Santos já ensaiou, na Dinamarca, um cenário que não obriga à alteração do esquema tático, mas, na verdade, não coloca qualquer ponta de lança de raiz no onze (Nani, Ronaldo e Danny no onze). Mas com a Arménia voltou à solução convencional, dando a titularidade a Postiga.
O esquema testado esta noite, em Manchester, com a Argentina (mesmo sendo em jogo que não serve de exemplo para o resto da qualificação para o Euro-2016), voltou a sinalizar a intenção de Fernando Santos de preparar a Seleção para a possibilidade de deixar de jogar com ponta de lança
A questão terá que continuar a ser trabalhada.
Mas uma coisa é certa: o sorriso de Fernando Santos
Ainda por cima, tem sido empurrado por uma pontinha de sorte que levou Portugal a vencer mesmo no final (e talvez em ambos os casos não merecendo a vitória...) na Dinamarca e frente à Argentina.
Às vezes, também sabe bem ganhar assim.
PS:
«Nem de propósito» é uma rubrica de opinião e análise da autoria do jornalista Germano Almeida. Sobre futebol (português e internacional) e às vezes sobre outros temas. Hoje em dia, tudo tem a ver com tudo, não é o que dizem?