«4x4x3»: o Ferrari encarnado já abranda

11 mar 2014, 10:28
Belenenses vs Benfica (LUSA)

A paixão pela velocidade alterna com passeios de fim de semana

O Benfica é um carro de alta cilindrada, já se sabe. Um Ferrari encarnado, diria, com matrícula de 2009, ano em que Jorge Jesus assumiu o volante.

A paixão pela velocidade, a atração pelo risco, a adrenalina no sangue. Prego a fundo, sempre. «Carrega Benfica».

No lugar do «pendura» a sensação de ter as costas coladas ao banco, tal a vertigem. O coração nas mãos, constantemente, e o medo espelhado nos olhos. Aquela sensação de falta de ar, como se o peito estivesse a ser empurrado para trás.

O sorriso do condutor no final da viagem, e o convidado com o estômago às voltas. Tantas vezes. Mas aqui e ali começaram a aparecer uns «furos». Tal era a velocidade que nem se dava pelos buracos. Mas eles lá estavam, a travar a caminhada, para descanso do passageiro.

Mas agora a condução do Ferrari encarnado parece mais ponderada. Não se perdeu a paixão pela velocidade, a vontade de mostrar que é possível chegar dos zero aos cem em pouco tempo, mas a viagem deixou de ser toda assim.

Este carro de alta cilindrada já sai da auto-estrada
. Já se entendem os prazeres de um bom passeio de fim de semana pela estrada nacional, a apreciar a paisagem. Viajar com calma e chegar com segurança ao destino traçado. Ter até a ousadia de deixar o volante noutras mãos.

Quer isto dizer que o Benfica de Jesus sempre foi asfixiante. Na dinâmica, na vocação ofensiva, na capacidade para pressionar em zonas adiantadas e para iniciar os ataques na mesma zona em que eles terminam, ou perto disso.

Entrava quase sempre a todo o gás, mas ficava desconfortável quando o perdia. A adrenalina nunca resistiria noventa minutos. E depois? Restavam duas opções.

A primeira que o Benfica experimentou foi descansar com bola. Pegar no jogo, circular a bola, baixar o ritmo. Não resultou. Basta lembrar o golo de Kelvin, no Dragão, que começa num lançamento lateral a favor do Benfica, no meio-campo ofensivo.

A solução era outra:
descansar sem bola
. É isso que o Benfica tem feito, com o sucesso que se tem visto pelos raros golos sofridos e até pelas escassas oportunidades de golo concedidas.

«Sabemos que há períodos do jogo em que podemos não estar tão fortes e o adversário pode ter o controlo do jogo, mas também nos sentimos confortáveis. Deixamos que façam alguma circulação na zona de construção, mas não mais do que isso», disse Jesus após a receção ao PAOK
.

O Benfica é agora um bloco muito coeso em organização defensiva. Mérito de Jorge Jesus, uma vez mais, e assente em três pontos. O primeiro tem a ver com a saída de Matic, um jogador que tinha o dom de pressionar em todo o campo. Dado que Fejsa é um jogador bem mais fixo, a equipa não se podia comportar da mesma forma. Depois a utilização de dois avançados móveis, que formam uma primeira linha defensiva bem agressiva (com Cardozo seria diferente). Por fim o papel defensivo dos extremos, nomeadamente Markovic, que não estava habituado a tal trabalho. Jesus já destacou
, de resto, a evolução do jovem sérvio no que diz respeito ao sacríficio em prol do coletivo.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.







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