Novos casos de cancro vão aumentar 77% em 2050, alerta OMS

Agência Lusa , AM
1 fev, 11:51
Estudo considera que aumento de cancros em idades mais jovens pode ser início de epidemia (Imagem Getty)

Cancro do pulmão ressurge como o mais comum em todo o mundo

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima mais 35,3 milhões de novos casos de cancro em 2050, um aumento de 77% face aos 20 milhões de casos estimados em 2022, contribuindo o álcool, tabaco e obesidade para este aumento.

"A magnitude do cancro está a subir", afirmou Freddie Bray, chefe do departamento de vigilância do cancro da Agência Internacional de Pesquisa em Cancro (IARC) da OMS, em conferência de imprensa realizada nas vésperas do Dia Mundial do Cancro, que se assinala em 4 de fevereiro.

O rápido crescimento da carga global de cancro reflete, segundo a OMS, o envelhecimento e o crescimento da população, bem como as alterações na exposição das pessoas a fatores de risco, muitos dos quais associados ao desenvolvimento socioeconómico.

"O tabaco, o álcool e a obesidade são fatores-chave por detrás do aumento da incidência do cancro, sendo a poluição atmosférica ainda um fator-chave dos fatores de risco ambientais", conclui a organização.

Em termos de carga absoluta, a OMS diz esperar que os países com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) elevado registem o maior aumento absoluto na incidência, com 4,8 milhões de novos casos adicionais previstos para 2050, em comparação com as estimativas de 2022.

No entanto, o aumento proporcional da incidência é mais impressionante nos países com IDH baixo (aumento de 142%) e nos países com IDH médio (99%), destaca, adiantando que, da mesma forma, se prevê que a mortalidade por cancro nestes países quase duplique em 2050.

O impacto deste aumento não vai ser sentido de igual forma nos países com diferentes níveis de IDH, alertando a OMS que aqueles que têm menos recursos para gerir "o fardo do cancro" são os que vão suportar o peso do fardo global do cancro.

Apesar dos progressos, a OMS alerta para as disparidades significativas nos resultados do tratamento do cancro, não apenas entre regiões de alto e baixo rendimento do mundo, mas também dentro dos países, avisando que "o local onde alguém mora não deve determinar se ele mora" e que "os números mostram urgência".

A OMS lembra as ferramentas que já existem para permitir que os governos priorizem os cuidados oncológicos e garantam que todos têm acesso a serviços de qualidade e a preços acessíveis.

"Esta não é apenas uma questão de recursos, mas uma questão de vontade política”, defendeu, na mesma conferência de imprensa, o chefe da União Internacional para o Controlo do Cancro, Cary Adams.

Questionada pelos jornalistas sobre a relação da doença da covid-19 com o aumento de novos casos de cancro, nomeadamente por falta de exames de deteção precoce, a vice-chefe do departamento de vigilância do cancro da IARC, Isabelle Soerjomataram, disse que "foi mínimo" o impacto de mortes neste período e que foi "menos do que o esperado", mas sem adiantar dados ou mais pormenores.

Cancro do pulmão ressurge como o mais comum em todo o mundo

O cancro do pulmão foi o mais comum no mundo em 2022 e a principal causa de morte por cancro, seguido pelos da mama e colorretal, revelou a Organização Mundial de Saúde (OMS).

O ressurgimento do cancro de pulmão como o mais comum em todo o mundo está "provavelmente" relacionado com o consumo persistente de tabaco na Ásia, anunciou a organização, num encontro com a imprensa dias antes de se assinalar o Dia Mundial do Cancro (4 de fevereiro).

As estimativas do Observatório Global do Cancro da IARC (a agência internacional de pesquisa em cancro da OMS), abrangendo 185 países e 36 cancros, mostram 10 tipos a representar coletivamente cerca de dois terços dos novos casos e mortes ao nível mundial em 2022.

O cancro de pulmão aparece como o mais comum, com 2,5 milhões de novos casos, representando 12,4% do total de novos casos, e o cancro de mama feminino surge em segundo lugar (2,3 milhões de casos, 11,6%) seguido pelo colorretal (1,9 milhões de casos, 9,6%), da próstata (1,5 milhões de casos, 7,3%) e do estômago (970 mil casos, 4,9%).

O cancro de pulmão foi a principal causa de morte por cancro (1,8 milhões de mortes, 18,7% do total de mortes por cancro), seguido pelo colorretal (900 mil mortes, 9,3%), do fígado (760 mil mortes, 7,8%), da mama (670 mil mortes, 6,9%) do estômago (660 mil mortes, 6,8%).

Os dados mostram diferenças por sexo na incidência e mortalidade: Para as mulheres, o cancro de mama foi o mais comummente diagnosticado e a principal causa de morte por cancro (e o cancro mais comum nas mulheres em 157 de 185 países), enquanto nos homens foi o cancro de pulmão.

Nos homens, os cancros da próstata e colorretal foram os segundo e terceiro mais comuns, enquanto os do fígado e colorretal foram a segunda e a terceira causas mais comuns de morte por cancro.

Já nas mulheres, o cancro de pulmão e colorretal ficou em segundo e terceiro lugar, tanto em número de novos casos quanto em número de mortes.

O cancro do colo do útero foi o oitavo mais comum a nível mundial - em mulheres em 25 países, muitos dos quais na África Subsariana - e a nona principal causa de morte por cancro, sendo responsável por 661.044 novos casos e 348.186 mortes, segundo a OMS.

Em 2022, registaram-se cerca de 20 milhões de novos casos de cancro e 9,7 milhões de mortes, estimando-se 53,5 milhões de pessoas que estavam vivas nos cinco anos seguintes ao diagnóstico de cancro.

"Cerca de uma em cada cinco pessoas desenvolve cancro durante a vida, aproximadamente um em nove homens e uma em 12 mulheres morrem da doença", alerta a OMS.

Um inquérito global da organização mostra que apenas 28% dos países participantes cobriram adicionalmente cuidados para pessoas que necessitam de cuidados paliativos, incluindo alívio da dor em geral, e não apenas relacionados com o cancro.

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