«Rui Costa tem de marcar um golo por jogo»

21 fev 2001, 21:35

Orgulho por Figo e não só

- O protagonismo de Figo, pelo menos em termos mediáticos, mudou alguma coisa em relação ao equilíbrio do grupo? Recordo que na sua primeira passagem como seleccionador Figo, João Pinto, Rui Costa, Paulo Sousa estavam mais ou menos no mesmo nível...

- Sim, agora o Figo é claramente mais mediático, mas isso não mudou nada na harmonia do grupo, porque há entre eles uma admiração e uma amizade tão grandes que só saem reforçadas pelos sucessos dos companheiros. Todos nós temos orgulho e vaidade por termos na equipa um jogador e um amigo que é considerado o melhor do mundo. Da mesma forma que o Rui Costa lhe segue as pisadas de muito perto a nível mundial. E isto porque temos a tendência ara destacar os chamados artistas, embora não seja justo esquecer os grandes pilares que temos atrás, casos do Fernando Couto e Jorge Costa, entre outros, que têm sido uns autênticos monstros

- Falou no Rui Costa, e dentro do sistema táctico-base há ainda outra opção, que utilizou nos jogos com a Estónia e a Irlanda, por exemplo...

- ...temos a alternativa de não apresentar dois médios recuados, e nesse caso jogamos em 4x1... e arrume o resto como quiser, visto que jogamos com dois flanqueadores, dois avançados e mais um homem solto nas costas. 

- O que eu lhe pergunto, até pegando no exemplo do jogo com a Irlanda, é se essa arrumação não tira equilíbrio à equipa, obrigando Rui Costa a um maior desdobramento defesa-ataque que lhe diminui a capacidade criativa?

- Não. O Rui Costa está preparado para assumir essa missão dentro do campo. Ele tanto pode jogar como costuma fazê-lo na selecção como, se a sua missão passar por algum sacrifício, pode recuar, passando a ser o pautador de jogo, o esclarecido, que abre na direita, ou na esquerda, joga curto ou longo, e se preocupa em apoiar. Ele faz esse papel como poucos. 

- Mas mesmo que ele cumpra bem esse papel não acha que a equipa perde alguns argumentos com esse recuo?

- Não podemos pegar só no caso da Irlanda, até porque essa experiência já foi feita em muitos jogos e com sucesso. Naquele jogo as coisas não correram como queríamos, mas não atribuo isso ao efeito de termos jogado com o Rui mais recuado. Em Itália, ele também joga muitas vezes assim. Não me custa nada imaginar uma dupla a meio-campo com Paulo Sousa e Rui Costa, por exemplo. E a equipa não se ressentiria disso, desde que à frente deles estivesse um jogador inteligente na ocupação dos espaços. 

- Posso concluir que está disposto a retomar esse sistema em jogos futuros?

- Claro. Ainda vou mais longe: se tiver alguém que faça na frente as compensações em seu lugar, o Rui Costa até poderia jogar sozinho à frente da defesa. Ele quer é jogar! É um jogador que admiro muito e adoro ver, porque tem uma elegância extrema. Muito talentoso, tem imensos recursos, que curiosamente nem sempre põe à prova. Às vezes ainda se perde em alguns pruridos quando pode assumir mais o um-para-um e o remate. Pelas suas características, o Rui Costa tem de fazer um golo por jogo. E se não o fizer, deve pelo menos chutar cinco, seis, dez vezes à baliza.  

- Fala por experiência? Vê nele alguns pontos de contacto com o jogador António Oliveira?

- Eu?! Já nem me lembro de quando jogava à bola... 

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