«O ideal seria conciliar Nuno Gomes e Pauleta»

21 fev 2001, 21:30

Experiência por fazer

- Pela primeira vez, vai poder contar com os jogadores que foram castigados no último Europeu. É um dado importante?

- É bom, porque a concorrência é sinónimo de qualidade. Poder ter o máximo de jogadores disponíveis é sempre uma satisfação acrescida. São três jogadores com um passado importante na Selecção, em especial pela sua prestação no Europeu, em que todos deram um contributo importante para que Portugal tivesse um desempenho tão conseguido. Isto não significa, porém, que tenhamos a obrigação de convocá-los, ou que eles tenham assento cativo na Selecção. Neste entretanto, há males que vêm por bem. Vínhamos de uma situação em que não tínhamos nenhum avançado e neste momento temos pelo menos três.  

- No caso de Nuno Gomes a expectativa é redobrada...

- A ida para Itália só lhe fez bem. Está um jogador muito mais maduro e experiente, mas ainda com grande margem de progressão.  

- Para este jogo com Andorra terá uma decisão complicada, atendendo ao sucesso da aposta em Pauleta. Vai decidir com base em que argumentos?

- Sinceramente, ainda não pensei nisso. Mas não vai ser fácil. O ideal seria fazer coabitar os dois, até para percebermos até que ponto podem ser compatíveis. Curiosamente, ainda não fizemos essa aferição. 

- Está a pensar experimentar essa ideia?

- Se tivermos hipótese...  

- Já com Andorra?

- Com Andorra vamos encontrar uma parede, com onze homens atrás. Se não tivermos a arte de criar espaços e situações de superioridade, através da dinâmica, do talento e da velocidade, não há opção táctica que nos faça ganhar esse jogo. 

- O aparecimento de jogadores especializados na função de ponta-de-lança - e a Nuno Gomes e Pauleta podemos acrescentar João Tomás - é um dado relativamente recente. É uma diferença importante em relação à sua experiência de 1996, quando teve de adaptar o Sá Pinto a esse lugar?

- Nessa altura fizemos uma opção por dois avançados (o Sá Pinto e o João Pinto), se calhar encontrando alguma discordância. Mas não se esqueçam que nessa altura já tínhamos começado a trabalhar o Nuno Gomes na Selecção A. Ele foi pela primeira vez internacional comigo, em França. Hoje, felizmente, a quantidade e qualidade dos jogadores que se movimentam bem na frente é superior. Até podemos manter a mesma dupla avançada, com o Sá e o João, mas vamos tendo cada vez mais alternativas. Podemos, finalmente, ir ao encontro do que julgamos ser melhor para a Selecção com as várias opções ao nosso dispor. 

- Até pela perspectiva dos regressos, o jogo com Andorra pode ser visto como uma oportunidade para afinar alguns pormenores, relativamente ao embate com a Holanda, daqui por um mês?

- Não, não pode. O dia em que pensarmos que já ganhamos alguma coisa é o dia em que começamos a perder. Esta ideia assenta em experiências anteriores: não é por acaso que nos vêem imediatamente à memória o Azerbaijão, a Arménia, Malta e outros. É quando partimos com a certeza da nossa superioridade sobre esses adversários que a nódoa cai no melhor pano. Não podemos cair no erro frequente de ultrapassar as nossas responsabilidades e não vivermos intensamente o imediato pensando noutra coisa qualquer, seja ela o jogo seguinte ou não. O jogo de Andorra vale os mesmos três pontos que os jogos com a Holanda, a Irlanda ou o Chipre. Nenhum jogo oficial pode servir para preparar qualquer outro. 

- O grupo ainda não está imune a essas situações?

- Não está. A teoria do futebol é muito engraçada, porque se fundamenta nos resultados e nas estatísticas. Dizemos que tal ou tal equipa é fraca, porque nunca venceu, ou dificilmente vence um jogo. Mas o próximo jogo é sempre uma oportunidade para mudar esses dados. Se essa perspectiva fosse válida, não fazíamos estágio nem levávamos os melhores jogadores e passávamos por cima de uma série de problemas. O caminho para o sucesso passa cada vez mais por uma grande disciplina mental. A falta dela implica o risco de novos dissabores, em tudo semelhantes aos que já conhecemos num passado recente. 

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