"Monstro" ou "estética"? Ambiente aprovou passadiço de betão e ferro no rio Seia

28 nov 2022, 21:16

Obra está a ser paga com fundos comunitários e gerou movimento cívico de protesto. Instituto da Conservação da Natureza e Florestas aprovou projecto com 13 condicionantes

Uma obra financiada com fundos europeus está a levantar polémica em Oliveira do Hospital, no distrito de Coimbra, e há mesmo quem lhe chame um "monstro" que está a crescer no rio Seia.

Em causa um passadiço de betão e ferro projectado com o objectivo de ver o rio de outra perspectiva e visitar uma queda de água de cerca de dez metros provocada por um açude construído há mais de um século.

O espaço fica numa zona de Rede Natura, protegida pela legislação, e era essencialmente conhecido pela população local.

Agora, a câmara municipal pretende trazer mais visitantes ao concelho e para isso avançou com a construção de uma passagem pedonal em forma de passadiço, algo comum em dezenas de concelhos.

O problema é que aqui, em vez da habitual madeira, o passadiço de 440 mil euros para atravessar e ver o rio está a ser construído em betão e ferro, gerando críticas e até a criação de um "Movimento Cívico para Salvar o Açude da Ribeira".

Os críticos falam num verdadeiro atentado à preservação da natureza, mas a autarquia de Oliveira do Hospital justifica-se: diz que o projecto foi aplaudido e escrutinado pela oposição, mas também pelas autoridades ambientais, com pareceres positivos da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).

Quem contesta não percebe como é que foi possível autorizar uma obra destas com pilares de cimento no meio do rio, destruindo, segundo afirmam, uma paisagem única, numa obra que ainda não acabou e já afectou irremediavelmente as grandes rochas características das margens que deviam ficar intactas.

O parecer positivo do ICNF tinha treze condicionantes e os trabalhos não podiam, por exemplo, "causar alterações no leito e nas margens do rio Seia", bem como "nas áreas dominadas por afloramentos rochosos" onde não deviam "ser realizadas operações que possam modificar ou destruir as estruturas geológicas".

O presidente da autarquia diz à reportagem do Exclusivo do Jornal das 8 da TVI que este é um problema de "apreciações de carácter estético". José Francisco Rolo pede que se espere pelo fim dos trabalhos e pelo uso que será dado ao espaço para ter uma opinião definitiva.

Francisco Ferreira, presidente dos ambientalistas da Zero, lamenta que "não tenha existido sensibilidade em relação aos materiais utilizados nesta paisagem", sublinhando a necessidade de "saber construir com a natureza, usando materiais também eles naturais".

A associação defende que o ICNF deve fiscalizar a obra para garantir que todas as condicionantes impostas foram, de facto, cumpridas.  

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