Noruega torna-se no primeiro país a aprovar mineração no fundo do mar (mas nem todos estão contentes)

10 jan, 02:08
Nódulos polimetálicos (Pallava Bagla/Getty Images)

Associações ambientalistas e especialistas dizem que pode estar em causa o habitat de muitas espécies. Minérios presentes no fundo do mar podem servir para produzir baterias elétricas

É um passo histórico mas com o qual nem todos concordam. A Noruega tornou-se no primeiro país a aprovar a prática de exploração mineira no fundo do mar, depois de uma lei ter sido aprovada no parlamento, com 80 dos 100 votos favoráveis.

Apesar das muitas críticas de ambientalistas e de alguns deputados, a lei passou mesmo, permitindo a aceleração de projetos para a exploração de minérios em águas profundas, onde estão os chamados nódulos polimetálicos, ricos em vários minérios que podem vir a ser úteis no futuro. Trata-se de produtos com alta procura, nomeadamente para tecnologias consideradas verdes, como as baterias dos carros elétricos. 

Bom para a produção de baterias, pode ser precisamente o contrário para os habitats. Vários cientistas temem que este tipo de atividade venha a devastar a vida marinha. 

Para já o plano fica circunscrito às águas territoriais, mas o acordo para a mineração em águas internacionais pode ser alcançado ainda este ano. Para já essa exploração fica legal nos 280 mil quilómetros quadrados da costa norueguesa, uma área que é sensivelmente o triplo de Portugal. 

O governo norueguês afirmou que está a levar tudo com muita cautela, sendo que só vai emitir licenças quando novos estudos confirmarem que os benefícios suplantam os riscos. 

Ecossistemas como os corais podem ser dos mais afetados com a exploração do fundo do mar (Sam McNeil/AP)

Em causa está a exploração de minérios como lítio, cobalto ou outros, considerados essenciais para a produção de tecnologias limpas, como as baterias. 

É verdade que estes materiais até estão disponíveis em terra, mas há um risco de fornecimento, uma vez que a sua concentração se espalha por poucos países, e algumas dessas explorações estão em risco – a maior reserva de cobalto fica numa zona de conflitos na República Democrática do Congo, o que coloca incerteza constante sobre a exploração deste material. Assim, e caso o resto do mundo siga a Noruega, a diversificação pode aumentar. 

Menos apologistas estão União Europeia e Reino Unido, que para já impedem a mineração no fundo do mar, evocando preocupações ambientais. É que as técnicas de recolha atuais provocam poluição sonora e visual, além de terem impacto nos habitats dos organismos que dependem das rochas de onde vão ser extraídos os minérios, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza. 

Para já, e independentemente da aprovação do projeto, o governo norueguês não vai dar já autorizações para começarem a ser realizadas explorações. As empresas que as queiram fazer vão ter de submeter propostas, nas quais têm de incluir os efeitos ambientais dos projetos, que depois têm de ser analisados caso a caso pelos deputados. 

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