Com humor à mistura, Nicola Sturgeon abandonou “o melhor emprego do mundo”

15 fev 2023, 11:54
Nicola Sturgeon (AP)

"Para os que se sentem chocados, desapontados, talvez até zangados comigo, não tenham dúvidas que isto é muito difícil para mim. A minha decisão é tomada com base no meu sentido de dever e amor. Amor pelo meu partido e amor pelo meu país”, explicou a líder escocesa

“Hoje, anuncio a minha intenção de me demitir do cargo de primeira-ministra e de líder do meu partido”. Foi assim que Nicola Sturgeon comunicou a sua saída do cargo de primeira-ministra de Escócia nesta quarta-feira.

A ainda líder do Partido Nacional Escocês revela estar “muito orgulhosa” do que conseguiu fazer durante os oito anos que ocupou o cargo.

“Ser primeira-ministra da Escócia é, na minha opinião, o melhor emprego do mundo. É um privilégio enorme, que me inspirou nos melhores e nos mais difíceis momentos. Desde que entrei que senti que uma parte do sucesso está em saber a altura certa para sair e, quando essa altura chegasse, ter a coragem para o fazer. Para o meu partido pode ser demasiado cedo, mas, na minha cabeça e no meu coração, eu sei que este é o momento”, afirmou Sturgeon, em conferência de imprensa.

A chefe de governo afirmou que a decisão “não é uma reação às pressões de curto prazo”. “Sei que há decisões importantes que o governo enfrenta neste momento, mas quando é que isso não acontece? Esta decisão surge após uma análise mais profunda e prolongada. Embora pareça súbita, estou a debater-me com ela há umas semanas”, confessou.

“Sei que há pessoas que se sentem desapontadas por tomar esta decisão agora. Para os que se sentem chocados, desapontados, talvez até zangados comigo, não tenham dúvidas que isto é muito difícil para mim. A minha decisão é tomada com base no meu sentido de dever e amor. Amor pelo meu partido e amor pelo meu país”.

Sempre com bom humor, Sturgeon revelou que tem estado, “essencialmente”, a tentar responder a duas questões: “é correto para mim continuar? É correto para o país, para o partido e para a causa da independência, para a qual eu dediquei a minha vida, se eu continuar?”, afirmou, garantindo que a resposta a estas duas questões é um “não”.

“Fui primeira-ministra durante oito anos, fui vice-primeira-ministra durante quase oito também. Estes empregos são um privilégio, mas também são difíceis. Quando entrei para o governo em 2007, os meus sobrinhos eram bebés, tinham apenas alguns meses. Nesta altura, estão prestes a celebrar o seu 17.º aniversário. Agora que penso nisso, é a idade exata para ficar aterrorizado com a ideia de a tia ter mais tempo para eles”, disse, arrancado risos dos jornalistas presentes.

“O meu ponto é o seguinte: dar tudo de nós é a única maneira de fazer este trabalho. O país não merece menos que isso. Mas, na verdade, isto só pode ser feito por algum tempo. Para mim, está em perigo de se tornar demasiado tempo. Uma primeira-ministra não tem folgas, especialmente nesta era em que quase não há privacidade. Até mesmo coisas que as pessoas tomam como garantidas, como ir tomar café com os amigos, tornam-se muito difíceis”, explicou.

Nicola Sturgeon ocupa os cargos de líder do Partido Nacional Escocês e de primeira-ministra da Escócia desde 2014. Nos últimos anos, tentou a realização de um segundo referendo para a independência da Escócia, após o de setembro de 2014, ganho pelo “não” com 55,7% dos votos. Contudo, encontrou forte oposição por parte do executivo britânico, principalmente do de Boris Johnson, e, no ano passado, o Supremo Tribunal do Reino Unido deliberou que o governo escocês não poderia convocar um referendo sem o consentimento do governo britânico.

Sturgeon vai permanecer nos cargos até que o seu partido escolha um novo líder, processo que já está em curso.

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