Mundial: a tarde em que Shakira alcança Cafú

12 jul 2014, 21:08
Shakira Espanha

Colombiana vai participar na terceira final

* enviado-especial ao Brasil

Um dos clássicos na véspera de finais das grandes competições é a sacramental conferência de imprensa com os artistas que vão atuar na festa de encerramento. Este sábado, no Maracanã, não foi diferente: Shakira, Carlinhos Brown, Wyclef Jean, Santana, Alexandre Pires e Ivete Sangalo foram à sala de imprensa para aquele momento sempre meio embaraçoso em que se misturam metáforas musicais e desportivas e se fala na grande festa global. A ideia é promover canções que serão rapidamente esquecidas assim que Nicola Rizzoli apitar para o final e a Taça for entregue – como é o caso de «Dar um jeito (We will find a way)», hino oficial da competição, que vai ser interpretado em campo a partir das 18.20, hora portuguesa (a final começa às 20).

Como sempre, depois das declarações de circunstância, as partes mais animadas da conversa vieram na sessão de perguntas e respostas, com Shakira a chamar a si os holofotes. Afinal, a cantora colombiana vai igualar o recorde de Cafu, ao participar na terceira final de campeonato do Mundo, depois de ter atuado nas edições de 2006 e 2010. Uma relação especial com futebol e Mundiais que, no seu caso, se transpôs para a vida privada, como ela fez questão de lembrar: «O futebol mudou e afetou o meu percurso de tantas maneiras, nunca poderei esquecer que na final de 2010 encontrei o amor da minha vida. E, se não fosse o Mundial, o meu filho Milan não estaria aqui hoje», contou.

A parte da conversa dedicada ao ativismo social esteve a cargo do haitiano Wyclef Jean, que destacou os benefícios que podem resultar do futebol, lembrando as suas origens: «Nasci no Haiti, numa favela, como as que há aqui no Brasil», contou, antes de recordar um jogo de solidariedade e recolha de fundos que a seleção brasileira realizou no seu país, em 2004, que a canarinha venceu por 6-0: «A cada golo os haitianos festejavam com mais entusiasmo e aí, além de ficar com uma ligação grande ao Brasil, tive a certeza de que o futebol é um meio interessante para ajudar as pessoas», frisou.

Wyclef, que foi candidato às presidenciais no seu país, foi confrontado com uma pergunta incómoda, que pretendia saber como se sentirá ao atuar para uma plateia de 1600 VIP onde constarão alguns chefes de Estado com práticas ditatoriais reconhecidas. Com algum jogo de cintura, o antigo membro dos Fugees safou-se: «Não sou político, sou estrela de rock. Mas já vimos muitos ditadores que usaram futebol como arma política. Temos é de olhar para o facto de que estamos aqui a atuar para pessoas, não para eles, e sublinhar que a FIFA tem desempenhado um papel importante no combate o racismo e à discriminação», disse.

Do lado dos artistas brasileiros, as intervenções andaram muito em redor do legado que o Mundial pode deixar ao Brasil – em especial numa altura em que a goleada sofrida diante da Alemanha esvaziou o balão de uma euforia que andava no ar: «Como brasileiro não me sinto fracassado em nenhum momento. O país é novo, tão novo como esta seleção. É um equívoco depositar expectativa tão alta em crianças», disse Carlinhos Brown, que sublinhou também a importância das favelas («o local onde as etnias se apuram») na construção da identidade cultural do Brasil.

Ivete Sangalo, por seu lado, exprimiu o desejo de que o Brasil continue a transformar-se, como o fez para preparar o Mundial: «Que a torcida do futebol, por uma seleção, seja agora a torcida por um país, e o seu desenvolvimento social», resumiu.

Quanto a prognósticos sobre a final de domingo, Wyclef Jean foi claramente pela Alemanha, Alexandre Pires antecipou uma decisão a penaltis, por causa de «uma Argentina fechadinha e no contra-ataque», e Shakira captou os últimos flashes, entre elogios à Colômbia («há muitas formas de ganhar um Mundial e para mim a Colômbia ganhou-o») apelos ao fim dos desempates por penaltis («são demasiado cruéis») e revelações da vida íntima com Piqué («como todos os desportistas ele sofre muito com as derrotas, mas eu tenho maneiras de consolá-lo»).

Foi então que Santana levantou uma pálpebra para deixar o seu prognóstico, dizendo que «um vencedor é vencedor, mesmo quando perde, e um perdedor é perdedor, mesmo quando ganha». A conferência acabou pouco depois, o mundo compreendeu e o dia amanheceu em paz.

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