Cromo do Dia: da meia cheia de sangue ao nome em homenagem ao "Burrito"

16 dez 2022, 13:03
Gonzalo Montiel e Neymar no Brasil-Argentina, final da Copa América (Getty)

O argentino que marcou um penálti sem olhar e perdeu um dente por causa disso

«El Cachete» - o bochecha -  é um tipo habituado aos penáltis. Não só em campo, como fora dele. Na vida, na hora mais difícil, no momento de angústia, Gonzalo Montiel provou ser um ganhador. A história do internacional argentino exemplifica muitos desses rapazes que nascem em bairros difíceis, mas conseguem sair deles. Montiel não só saiu como venceu, apesar de tudo o que a vida lhe atirou. É por isso que a imagem final de Montiel na Copa América espelha bem quem ele é. Um rapaz que atravessou as maiores adversidades para chegar ao sucesso e que, agora, está a um jogo de ser campeão do mundo.

Para já, o lateral do Sevilha formado no River Plate é campeão da América do Sul com a Argentina. Montiel, o Cachete, aguentou as dores de um tornozelo lesionado após uma valente «cacetada» de um brasileiro - Fred - e foi até ao fim, para que também ele estivesse ao lado de Messi quando o capitão levantasse o troféu. O vermelho que enchia a meia direita de Montiel contrastava com o branco e celeste do equipamento, na mesma medida que o seu sorriso era o oposto perfeito da dor.

Criado no problemático bairro de Virrey del Pino, na província de Buenos Aires, Montiel desde muito cedo teve de lidar com a adversidade, algo que lhe moldou a personalidade, à medida que ia crescendo no River Plate. E a história dele com o clube de Nuñez começou ainda nem ele nascera. O avô, Jeronimo, fanático do River Plate, mal soube que a filha estava grávida quis pôr-lhe o nome de Ariel Ortega Montiel, em homenagem ao «Burrito Ortega», um dos maiores ídolos dos adeptos riverplatenses. O senhor Jeronimo e a filha Marisa lá chegaram a um consenso e Montiel ficou Gonzalo Ariel.  

O penálti sem ver e o dente

«O meu avô foi uma pessoa especial para mim, por isso dedico-lhe os golos e fiz-lhe a promessa de que não daria uma entrevista até que jogasse no campeonato argentino», contou Montiel, ainda nos tempos do River, ele que aponta para o céu sempre que entra em campo e marca um golo: o avô foi assassinado, quando ele era ainda miúdo, numa discussão com uma mulher, por causa dos cães que Jerónimo passeava na altura.

O avô não foi a única perda com que o jovem Montiel teve de lidar: uma noite, após uma derrota com o Boca Jrs no Monumental, soube que perdera um dos melhores amigos e meses depois voltou a lidar com a dor.- «Faleceram mais dois, morreram a tiro no bairro», disse, citado pelo Olé.

Ainda assim, o miúdo que saiu de casa com o objetivo de tirar os pais de lá nunca virou a cara a uma luta: nem aquela com Neymar na final da Copa América, nem no frente a frente com um guarda-redes, na hora dos penáltis.

Quanto estava no River Plate, o defesa central que se transformou num lateral de eleição com Marcelo Gallardo era o marcador oficial das grandes penalidades. Ficou famosa a que fez ao Colón, sem olhar, na Taça da Liga da Argentina. Os festejos também deixaram marcas: «Estava a festejar com os meus colegas, cerrei demasiado os dentes e parti um.»

Este texto foi baseado no perfil de Gonzalo Montiel, que pode ler no dossier dedicado à seleção da Argentina, um dos vários conteúdos publicados no âmbito da Guardian Experts’ Network, a rede de meios de comunicação que tem o Maisfutebol como representante português, para partilha de informação relativa ao Mundial 2022.

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