Ministro da Saúde admite encerrar algumas urgências. E culpa 1980/1990 pelo "problema grave" da falta de médicos em 2023

CNN Portugal , MJC
17 out 2023, 22:48

Manuel Pizarro considera que as políticas de há 40 anos estão na base do que se passa agora e que o Governo não é responsável por isso. E faz novo pedido à população para ligar primeiro para a linha Saúde 24 antes de haver deslocação a um hospital

O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, admite que o problema da falta de médicos em Portugal não é fácil de resolver mas confia que a reforma em curso do Serviço de Nacional de Saúde (SNS), "com a generalização das unidades de saúde familiar, vai permitir inverter este percurso". "Isto não se vai fazer de um dia para o outro nem de um mês para o outro. Até ao final de 2024 vamos ter de fazer um grande esforço porque vai ser difícil compensar todas as aposentações", mas o governante acredita que, entretanto, os resultados vão começar a ser visíveis.

Em entrevista ao Jornal Nacional da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal), no primeiro de dois dias de greve dos médicos - que, de acordo com a Federação Nacional dos Médicos (Fnam), teve uma adesão superior a 90% -, Manuel Pizarro fez questão de garantir que está a negociar com os médicos num exercício "de boa-fé e de espírito aberto" e disse que espera que do outro lado haja também essa abertura: "Uma negociação precisa de dois lados", sublinhou, passando para os médicos a pressão sobre o resultado do próximo encontro, marcado para esta quinta-feira. "O objetivo desta negociação é melhorar o acesso dos portugueses aos cuidados de saúde e também valorizar os médicos."

Se "é indiscutível que os médicos são insuficientes", que soluções é que se podem procurar? Antes de mais, aumentar o número de médicos formados, diz o ministro. "Houve um erro do cálculo. Entre 2019 e 2024 há um grande conjunto de aposentações de médicos" e, por isso, mesmo aumentando o número de estudantes nas universidades de medicina isso não será suficiente a curto prazo.  "Nos anos de 80 e 90, as faculdades de medicina estavam praticamente fechadas e estamos a sofrer as consequências dessas políticas", explicou.

Depois, a negociação com os médicos.  Pizarro espera que a maioria dos médicos aceites as condições propostas pelo Ministério da Saúde e que podem significar um aumento do número de horas de trabalho por semana.

Apesar de todos estes esforços, o ministro da Saúde não consegue garantir que os problemas do SNS vão ficar resolvidos brevemente e que não terá de encerrar total ou parcialmente algumas urgências. "É algo que temos sempre em cima da mesa", admite, sublinhando que, apesar de tudo, há contextos diferentes no país. "No contexto metropolitano, por exemplo", esta pode ser uma solução com menos implicações do que no interior. Poderá implementar-se em Lisboa um modelo "inspirado pelo Porto, que há muito tempo tem urgências centralizadas e rotativas", avança o ministro. "Copiado não, porque as dimensões e circunstâncias são diferentes, mas inspirado."

O mais importante, admite, é criar alternativas - com médicos de família e equipas das unidades de saúde familiar - para que as pessoas não recorram às urgências dos hospitais quando tal não for necessário. E é por isso que Manuel Pizarro parece estar confiante na "grande reforma" do SNS, com a "generalização das unidades de saúde familiar" - "estão a crescer, são modelos muito satisfatórios para a população e para os médicos". 

"Estamos a testar vários modelos de reorganização dos hospitais. Em dois concelhos dos país - Póvoa de Varzim e Vila do Conde -, que têm cobertura total dos médicos de família e uma urgência, estamos a fazer um apelo à população para que contacte a linha Saúde 24 e procure ir ao centro de saúde se não for de facto uma urgência. A experiência está a correr muito bem", garante.

"Cada uma destas mudanças tem de ser precedida de um planeamento muito grande para não introduzir insegurança nas pessoas", diz, revelando no entanto que pretende estender esta experiência a outros pontos do país. "Vamos fazê-lo progressivamente - vamos continuar no Norte, onde há cobertura plena de médico de família. Este modelo será mais difícil de implementar noutras zonas, como Lisboa, onde reconhecemos que temos um problmea grave na medicina geral e familiar."

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