As empresas deverão conseguir evitar choques na produção ou no abastecimento, antecipa a Comissão Europeia. Ainda assim, reconhece que os aumentos nos custos de transporte serão passados aos clientes
A crise no Mar Vermelho determinou uma escalada de 400% no preço do transporte marítimo e um atraso de 10 a 15 dias nas entregas, devido ao desvio dos navios para o Cabo da Boa Esperança. A Comissão Europeia reconhece que esta situação pode ter “um impacto significativo na economia europeia”, mas descarta para já problemas no fornecimento e na produção.
Os ataques dos houthis no Mar Vermelho têm forçado as empresas de transporte a evitar passar por esta região e pelo Canal do Suez, uma rota responsável por 12% do comércio global. Segundo as previsões intercalares de Inverno da Comissão Europeia, em 2022, cerca de 23% de todas as importações de bens da União Europeia foram transportadas via marítima da Ásia, a maioria através do Mar Vermelho.
“Disrupções nesta importante rota comercial podem, portanto, ter um impacto significativo na economia da UE“, refere o relatório, acrescentando que as empresas devem conseguir evitar problemas maiores de produção. Contudo, a Comissão Europeia reconhece que “os maiores custos de transporte vão inevitavelmente ser passados aos consumidores, mas o impacto direto na inflação deverá ser relativamente pequeno“.
Bruxelas estima que o tempo de transporte marítimo entre a Ásia e a Europa tenha aumentado entre 10 a 15 dias e os custos dos contentores em várias rotas entre a China e a Europa disparado cerca de 400%, adiantando que estes aumentos estão a ter impacto no custo do transporte marítimo global, com um aumento de 210% nos preços dos contentores.
Apesar dos atrasos nas entregas, os preços de produção têm sido pouco afetados e os inventários permanecem em níveis elevados, com as empresas a mostrarem-se melhor preparadas para lidar com esta situação.
Em termos de impacto nos preços, Bruxelas estima que a pressão na inflação da União Europeia se situe num intervalo entre 0,2 e 0,3 pontos percentuais. “Esta variação parece amplamente plausível, tendo em conta as estimativas recentes da repercussão dos custos de frete para a inflação global, a origem das importações da UE e cenários alternativos de normalização progressiva dos custos de transporte como excesso de capacidade em contentores e navios”, avança o relatório.
A Comissão Europeia refere ainda que a passagem de aumentos de custos para os consumidores “deverá ficar mais visível no segundo trimestre deste ano”, sobretudo nos bens industriais e certas categorias de alimentos.
“O impacto na inflação poderá ser maior se os custos do transporte permanecerem permanentemente elevados e a procura global recuperar de forma mais forte do que estimado“, reconhece a Comissão Europeia. “Uma nova escalada constitui um risco claro para as perspetivas económicas, em particular se o conflito perturbar o abastecimento de energia, fazendo com que os preços do petróleo e do gás subam”, remata.