Montenegro fez as pazes com Rio e recebeu um aviso de Marques Mendes: "A degradação do Estado Social atingiu proporções nunca antes vistas"

6 mar, 21:32
Campanha - Montenegro

Caravana da AD terminou em Barcelos, com um discurso de Marques Mendes que foi ovacionado num comício dentro de uma tenda à pinha. Antes, foi a vez de Rui Rio entrar na campanha com um ataque direto ao cabeça de lista do Chega por Viana do Castelo: "Nós já não sabíamos como nos vermos livres do doutor Eduardo Teixeira"

Luís Marques Mendes esperou que anoitecesse para aparecer no largo do Teatro Gil Vicente em Barcelos. De braço dado com Luís Montenegro, de sorriso nos lábios e quase sempre com uma expressão de surpresa pela enchente que o perseguia e o tentava cumprimentar a todo o custo, o putativo candidato a Presidente da República percorreu as ruas até chegar a uma tenda montada e ao barrote. “Montenegro é uma boa garantia para os indecisos, vai ser um primeiro-ministro de confiança. Conheço-o bem”, anunciou mal chegou ao palco. 

Em cerca de 20 minutos, Marques Mendes falou essencialmente para os indecisos e alertou-os para “a degradação do Estado Social que atingiu proporções nunca antes vistas” na saúde, na educação e na habitação. “Precisamos de mudar de governo e de políticas para criar uma nova ambição e uma nova esperança aos portugueses”, apelou o antigo presidente do PSD. 

Na plateia, onde estavam a aplaudir de pé centenas de militantes sociais-democratas da região de Braga, não estava João M., para quem a ideia de um estado social “que funcione” vai ditar em quem vai votar no próximo domingo. Com 47 anos, barba grisalha e os olhos vincados, João esteve sentado toda a manhã por cima de uma manta coberta e enfeitada com uma estátua de Nossa Senhora de Fátima. 

Caravana da AD começou em Arcos de Valdevez/ LUSA

Às 11:50, na rua Soares Pereira, tinha as mãos erguidas na direção de Luís Montenegro e da comitiva que o seguia durante uma arruada matinal em Arcos de Valdevez. “Fiquei chateado, senti-me ignorado, as pessoas puseram-se aqui em frente, mas nem um olá nem uma esmola”, conta à CNN Portugal ao mesmo tempo que alguns metros à frente, Montenegro discursava, prometendo aos jovens, aos trabalhadores, aos reformados e aos pensionistas: “Não vos vamos deixar sozinhos”.

João é pensionista. Recebe 175 euros todos os meses depois de, há dois anos uma operação ao coração no Hospital São João que correu mal - combinado com um problema de coluna - o ter atirado para a invalidez. “Trabalhava na junta de Freguesia de Vila Verde, mas agora já não posso trabalhar e olhe, estou aqui a pedir esmola, porque para não dormir na rua são 50 euros todos os meses e para medicamentos são outros 60 euros, não é possível viver assim, é por isso que aqui estou”.. 

Todos os dias, João apanha boleia de uma amiga para chegar à mesma rua onde Luís Montenegro começou a sua arruada. Tem um amigo numa charcutaria ao lado que o ajuda na alimentação e “aqui sempre se ganha mais um dinheirinho”, diz. No domingo, vai votar, mas sem esperança que as coisas mudem. “Uma pessoa vota por um, vota por outro e é tudo a mesma coisa”, afirma. 

A comitiva de Montenegro saiu durante a manhã de Arcos de Valdevez, mas continuou no distrito de Viana do Castelo, onde Rui Rio foi o convidado de gala de uma segunda arruada que foi ganhando cada vez mais intensidade e teve o seu momento alto quando, de uma varanda, Montenegro abraçou Rio que, nas palavras do atual líder social-democrata, “simboliza a força e coesão na Aliança Democrática”. “Nós não estamos aqui para os pequenos jogos da política, para falar para os portugueses”, declamou. 

Montenegro percorreu as ruas lado a lado com Rui Rio/ LUSA

Nesse momento, Lália Barros de 64 anos não se fartava de gritar: “Deixem passar, deixem passar que eu sou baixinha!”. Avançando como uma enguia no meio de jotas e bandeiras que a cobriam a cara. “Quer ver o Rui Rio?”, perguntou-lhe um militante. “Quero é ver o próximo primeiro-ministro de Portugal, o outro não me interessa”, respondeu. 

“O outro partido teve tudo e deitou tudo fora”

Lália, natural de Viana do Castelo - uma das regiões no país onde o PSD tem mais militantes -, reformou-se antecipadamente há seis anos após ter sido operada a um cancro da mama. “Ganho uma miséria”, conta, ao mesmo tempo que diz ter “esperança” em Montenegro por duas razões. Uma, “o outro partido teve tudo e deitou tudo fora” - jotas aplaudem com força -. Outra, “este senhor ainda não teve uma oportunidade e é preciso darmos oportunidades a quem quer o bem”. 

Mesmo que perca. “Se não ganhar, ao menos que se una com o Chega”. “Eu sei que ele disse que isso não vai fazer, mas aí é que esteve mal, porque pode dar uma boa aliança”. 

Lália lá conseguiu passar pela multidão e chegar à zona onde Rui Rio e Luís Montenegro respondiam às perguntas dos jornalistas. Precisamente no momento em que Rio falava do Chega, mais propriamente de Eduardo Teixeira - antigo presidente do PSD de Viana do Castelo que aceitou ser cabeça de lista pelo partido de André Ventura. “O Chega fez um grande favor ao PSD aqui, porque, eu que o diga, nós já não sabíamos como nos vermos livres do doutor Eduardo Teixeira e o Chega fez um grande favor e levou-o para fora do PSD”, disse Rio.

Quem esteve sempre ao lado de Rio durante a arruada foi José Pedro Aguiar-Branco, antigo ministro da Defesa e cabeça de lista da Aliança Democrática por Viana. À CNN Portugal, disse que a recentemente celebrada paz entre os dois rivais internos, revela “como existe nesta reta final de campanha uma grande união em torno de uma estratégia subscrita e acompanhada por todos os membros do PSD, na qual todos acreditamos e na qual esperamos mostrar aos portugueses que não é uma fatalidade termos o ensino e a saúde como estão”.

Com dois antigos presidentes do PSD do seu lado, e em vésperas da tradicional arruada de Santa Catarina, Montenegro fechou o dia com um discurso, após a intervenção de Marques Mendes, onde voltou a falar para os pensionistas e reformados. “Queremos que vivam um período com tranquilidade, mantendo a atividade e mantendo também as famílias por perto”. “Esta sociedade, para conseguir chegar a este objetivo, tem de criar riqueza, só com isso terá instrumentos para criar um estado social que dê a tal resposta que tanta gente ambiciona e não tem”.

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