Montenegro disse a Marcelo que o Governo não está a "compreender a real situação dos portugueses"

Agência Lusa , BC
18 abr 2023, 16:41

Líder do PSD foi recebido em Belém, onde diz ter transmitido ao Presidente apreensão com as posições do Governo. Sobre outros temas abordados na conversa com Marcelo, Montenegro quis manter "recato"

O presidente do PSD transmitiu ao Presidente da República a sua apreensão por “o Governo não estar a compreender a real situação” dos portugueses e reservou outros temas da conversa para “o recato das relações institucionais” entre ambos.

No final de um encontro de cerca de 45 minutos com o Presidente da República, pedido pelo líder do PSD, no Palácio de Belém, que foi colocado na agenda como “audiência ao líder da oposição”, Luís Montenegro fez apenas uma declaração aos jornalistas, sem responder a perguntas, dizendo ter de prosseguir a iniciativa “Sentir Portugal”, esta semana dedicada ao distrito de Lisboa.

“Transmiti ao Presidente da República que fico apreensivo porque parece que o Governo não está a compreender a real situação em que muitos portugueses vivem e isso é mau porque não augura nada de bom no futuro em termos de mudança de políticas públicas”, afirmou, reiterando que “o país está numa rota de empobrecimento”.

Ainda antes de os jornalistas terem oportunidade de fazer perguntas, Montenegro admitiu que foram tratados no encontro “vários aspetos que não devem ser tornados públicos”.

“Funcionam no recato das relações institucionais de colaboração e cooperação institucional entre um grande partido como é o PSD e o Presidente da República. Relativamente a aspetos mais envoltos nesse recato do relacionamento institucional, compreendem que não vou falar deles”, disse.

“Até já, vou continuar a sentir Portugal em Lisboa”, despediu-se, em seguida.

Luís Montenegro diz ter falado com Marcelo Rebelo de Sousa sobre a “situação, política, económica e social do país e de alguns temas que interessam à vida dos portugueses”.

“Vemos este como um momento muito singular em que vivemos em dois países: o país dos ‘powerpoint’, das festas, dos anúncios e o país da vida quotidiana, da vida real, da rotina de muitos portugueses que todos os dias enfrentam a dificuldade de não terem dinheiro para fazerem face a despesas elementares”, disse.

Como exemplos, apontou a dificuldade dos que “querem ir ao centro de saúde e não têm médico de família”, “querem ir a um serviço de urgência e muitas vezes está encerrado”, têm filhos em escolas “onde não há professores” ou têm “grandes dificuldades em pagar as prestações da casa ou em arrendar casa”.

“Há, portanto, um país que tem esta grande diferença entre a mensagem do Governo, o entusiasmo, até alguma euforia nos anúncio e obras grandiosas do PRR, e as agruras da vida quotidiana das famílias portuguesas”, considerou.

A audiência de Luís Montenegro com Marcelo Rebelo de Sousa aconteceu no âmbito da iniciativa “Sentir Portugal”, e depois de uma semana em que ambos divergiram publicamente sobre se o PSD é já ou não uma alternativa ao Governo.

Há uma semana, o Presidente da República voltou a afastar a hipótese de dissolução, invocando a conjuntura e falta de “uma alternativa óbvia em termos políticos", e Luís Montenegro respondeu depois a Marcelo Rebelo de Sousa, que tinha assegurado não estar no bolso nem do Governo nem da oposição.

“O PSD e o seu líder não estão no bolso de ninguém, têm total independência na sua ação política e o PSD assegura ao país, aos portugueses e ao Presidente da República que é alternativa ao Governo do PS e que estamos prontos para assumir todas as consequências de ser alternativa quando for oportuno”, afirmou Montenegro.

No dia seguinte a estas declarações, o chefe de Estado prometeu avisar se um dia mudar de posição sobre a questão da alternativa política e interrupção da legislatura, confrontado com a afirmação do presidente do PSD de que está pronto para ser Governo.

Na sexta-feira, em entrevista à CNN o presidente do PSD rejeitou que o partido possa fazer acordos de Governo ou ter o apoio de “políticas ou políticos racistas ou xenófobos, oportunistas ou populistas”.

Na mesma entrevista, Montenegro defendeu que o Presidente da República não deve ser “nem um ajudante nem um óbice” para a oposição, admitindo que nem sempre o partido tem gostado de ouvir as posições do chefe de Estado.

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