Seguido por um "pai político" que falou mal dele, Montenegro avança com assalto ao eleitorado do PS e do Chega

5 mar, 20:38

Caravana da Aliança Democrática passou por Aveiro e Leiria, onde foi interrompida por vários protestos - uns silenciosos, que o candidato nem reparou, outros mais barulhentos, que o levaram a alguns momentos de tensão por causa da gestão da floresta. Embalado pelas sondagens e por um violino, mostrou estar confiante

Em Aveiro, Montenegro foi seguido de perto pelo seu “pai político” que não há muito tempo dizia que o líder do PSD era o pior que o partido tinha para oferecer. Em Alcobaça, pediu que “ninguém facilite até ao último segundo” e nas caldas da Rainha escolheu Paulo Portas para liderar a ofensiva a António Costa - que reapareceu na campanha. Embalado pelas sondagens, e a cinco dias da derradeira decisão, Luís Montenegro está a investir tudo no assalto ao eleitorado do PS e do Chega. “Eu hoje vejo que muitos eleitores potenciais do PS e do Chega estão a ingressar no apoio da AD”, repetiu ao longo do dia.

Quem não conseguiu convencer, no entanto, foi André Ferreira, oficial de justiça de 40 anos no Tribunal do Trabalho de Aveiro que, da janela, ao ver a caravana passar, correu até à remodelada Avenida Dr. Lourenço Peixinho para questionar Montenegro sobre o que vai fazer para valorizar a classe que, por causa dos baixos salários, não tem conseguido estancar a saída de milhares de profissionais todos os anos. 

“Se quiser entrar e ver as condições deploráveis do tribunal, faça o favor”, convidou André Ferreira, mal teve a chance. “Posso lá ir num instante, mas deixe-me dizer, já estive com as associações representativas do setor e estamos a estabelecer diálogo para valorizar todas as carreiras da função pública e as condições de trabalho o mais rápido possível”, respondeu-lhe Montenegro, que acabou por não entrar no edifício, mas prometeu “abrir um processo de diálogo ato imediato a vencer as eleições”.

“Vamos tentar mudar isso”, disse Montenegro a André Ferreira. “Pois, é, a caravana passa… e vai continuar tudo igual”. “Espero que não, depende dos resultados do domingo”. “É preciso valorizar a administração pública, isso já estamos nós fartos de saber, mas vai ser valorizado com o quê, depende dos resultados de domingo, foi o que ele disse. Pronto, é tudo muito vago”, queixou-se o oficial de justiça após a conversa com o candidato da Aliança Democrática. “Não, claro que não me convenceu”.

Campanha de Montenegro começou em Aveiro e acabou nas Caldas da Rainha, onde Paulo Portas foi o convidado de gala de um jantar-comício / LUSA

Ao lado do candidato da AD, nesse momento, seguia o presidente da Câmara Municipal de Aveiro, José Ribau Esteves que chegou a avaliar competir com Luís Montenegro na liderança do partido após a saída de Rui Rio. Nessa altura, o autarca, numa entrevista ao Diário de Notícias, referiu mesmo que o atual líder da Aliança Democrática representava “o pior que o PSD tem". À CNN Portugal, disse que tudo não passou de um bate-boca isolado. “Como estávamos numa disputa, obviamente que procurámos defender e evidenciar o que são menos valias ou defeitos dos companheiros que estão connosco a disputar uma eleição”. 

Aliás, argumenta Ribau Esteves, ele próprio é “considerado por muitos um pai político de Luís Montenegro” por ser ele quem escolheu Montenegro, na altura “um jovem da JSD”, para integrar as listas em que foi eleito pela primeira vez para o Parlamento. Agora, reitera, é o tempo da união. “Temos de mostrar que somos um partido solidário, embora a tradição de solidariedade no PSD não seja tão forte como no PS”, ainda assim, “temos de melhorar as nossas performances, independentemente de termos opiniões diferentes e de lá atrás termos estado em lados opostos de lutas”. 

No final da arruada, Montenegro voltou ao hábito de subir a um banco de jardim para falar a quem o seguia, maioritariamente militantes das diversas concelhias do distrito. O discurso foi dedicado ao eleitorado que está a pensar votar ou PS, ou Chega: "Nós olhamos hoje para o PS e olhamos para o Chega e confundem-se muito um com o outro porque um e outro só falam de pequenas coisas, não falam dos verdadeiros problemas que importunam a vida das portuguesas e dos portugueses".

Esses partidos, declarou, "estão sempre importados apenas em criar pequenos episódios, pequenas polémicas" e o PS, em particular, trouxe os “dois anos de casos e casinhos no Governo” para a campanha.

“Votem à esquerda!”. Jovem interrompe serenata de violinista-surfista a Montenegro

Com o tique-taque da campanha a chegar à reta final, esta quarta-feira, foram muitos aqueles que, como o oficial de justiça, tentaram chegar a Montenegro para lamentarem o estado apático das campanhas eleitorais face os seus problemas. 

Em Aveiro, o candidato do PSD passou sem reparar em duas professoras que estavam numa varanda a protestar com um cartaz onde se lia que estavam “cansadas de ser maltratadas”. Numa rua mais à frente, uma senhora segredou a Luís Montenegro que tinha sido vítima de negligência médica, levando-a a ser amputada e a estar há oito anos à espera de que o caso se resolva em tribunal e em Águeda, noutra arruada, foi confrontado por Manuel Reis, ambientalista, que denunciou que as políticas da Aliança Democrática vão levar ao aumento da plantação de eucaliptos na região. 

Manuel Reis entrega vaso a Luís Montenegro em protesto contra a gestão florestal, em Águeda/ LUSA

“Estamos a falar de ordenar e explorar o território com respeito pelo clima, mas também com respeito pelas pessoas”, disse Montenegro e, perante a insistência do manifestante, disparou que tem “de responder não é como você quer, é como eu penso”.

Depois de Águeda, Montenegro seguiu para uma terceira arruada que acabou perto do Mosteiro de Alcobaça. No largo do monumento, depois de passar por relojoarias, cervejarias e doçarias conventuais, foi surpreendido por Nuno Santos, o músico que se tornou conhecido mundialmente por surfar as ondas da Nazaré ao mesmo tempo que tocava violino. 

Nuno Santos, de 43 anos, chegou esta semana ao País e só agora vai começar a avaliar todas as propostas dos partidos, pelo que os próximos dias, diz, vão ser “cruciais” na escolha de onde vai colocar a cruz no boletim de voto. “Não tenho qualquer alinhamento partidário, eu voto no indivíduo e agora é que vou ter tempo para perceber as propostas de cada um”.

Nuno dedicou-lhe uma música dos Madredeus e, no final, foi interrompido por uma jovem que passou à frente de Montenegro a gritar “votem à esquerda!”. “Cruzes canhoto”, reagiu imediatamente Nuno Melo enquanto aplaudia o músico, que tentava encontrar um microfone para que Montenegro pudesse fazer o terceiro discurso do dia a uma multidão que empunhava flores laranja. “Estamos numa boa onda, numa onda de mudança que a cada dia fica mais forte!”, declarou num megafone.

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