Mercenários, corrupção e violência. Lotus "está muito bem posicionado para suceder a Prigozhin"

27 ago 2023, 16:35
Anton Yelizarov (Russian Defence Forum)

Comparou Prigozhin ao Rei Artur e falou de si como seu cavaleiro. Anton Yelizarov é o comandante militar do Wagner e pode tornar-se o novo líder do grupo de mercenários

O desaparecimento do líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, cobriu o futuro da mais famosa empresa de mercenários de incerteza. Poucos duvidam que o grupo continuará a operar em África e noutros continentes, onde são empregues como o braço armado não-oficial do Kremlin, no entanto, ainda ninguém sabe quem vai chefiar a organização. As suspeitas recaem agora sobre o único comandante do grupo Wagner que não desapareceu com a queda do avião, na quarta-feira, Anton Yelizarov.

Também conhecido pelo nome de código “Lotus”, Yelizarov foi o responsável pela conquista de Soledar, na região de Donetsk, durante o final de 2022. Esta ofensiva, que permitiu abrir o caminho para a conquista dos flancos de Bakhmut, foi uma das mais violentas batalhas da invasão russa, valeu ao comandante o respeito entre os pares e os elogios públicos do seu antigo patrão, Yevgeny Prigozhin, que o apelidou de “o conquistador de Soledar”.

“Prigozhin era um homem da comunicação. O comandante militar do grupo [Wagner] é o Lotus, que foi quem tomou Soledar. Este homem está muito bem posicionado para suceder Prigozhin”, afirma o major-general Agostinho Costa.

A sua figura reservada e com pouca exposição mediática, esconde uma longa carreira militar, corrupção e muita violência. De acordo com a organização Dossier Centre, do dissidente russo Mikhail Khodorkovsky, “Lotus” nasceu em 1981, na região de Rostov, formou-se na Escola Militar de Guardas Ulyanovsk Suvorov, em 1998. Daí seguiu para uma das unidades de elite do exército russo, para a Escola Superior de Comando Aerotransportado de Ryazan. Foi destacado na 7.ª Divisão de Assalto Aéreo de Guardas em Novorossiysk, onde comandou uma companhia.

As suas capacidades de liderança fizeram com que ascendesse ao comando da 10.ª brigada de forças especiais separada em Molkino. Durante o comando desta força, ganhou a sua primeira experiência de combate, no norte do Cáucaso. Em 2014, quando a guerra no Donbass estava prestes a estalar, a carreira de Yelizarov sofreu um golpe inesperado. O militar foi acusado de fraude na aquisição de um apartamento do Estado, após fornecer documentos falsos. O tribunal considerou-o culpado e condenou Yelizarov a três anos de prisão e a uma multa de 100 mil rublos (aproximadamente de mil euros). O militar ainda chegou a ser processar o Ministério da Defesa, mas perdeu acabou por ser despejado em 2016.

O choque com o Ministério da Defesa fez com que quisesse mudar de patrão, mas não de área. O grupo Wagner era a escolha “natural”. Em 2016, registou-se no grupo, ganhando o nome de código Lotus. O seu primeiro trabalho foi na Síria, onde acabou por ser ferido por estilhaços, em 2017. No ano seguinte, vai para a República Centro Africana como instrutor. Um ano antes da invasão russa da Ucrânia, Yelizarov foi destacado para Líbia, onde comandou uma unidade de assalto. Todas estas ações levaram a que fosse sancionado por diversos países ocidentais.

Mas foi na Ucrânia onde ganhou popularidade entre os grupos pró-Wagner e entre os mercenários que serviram sob o seu comando. O sucesso trazido no terreno por Yelizarov fez com que tivesse o respeito e a confiança do seu chefe. Esta batalha foi uma das mais violentas da guerra até então, com ambos os lados a empenharem um grande número de soldados em combate "casa a casa". Durante o funeral do comandante do grupo Wagner Aleksey Nagin, Prigozhin e Yelizarov apareceram publicamente lado a lado, junto do governador da região de Volgogrado. 

“Conheces a história do Rei Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda? Então, todos os comandantes do grupo Wagner são os cavaleiros e o nosso líder é o director. Não podemos ser divididos, todas as decisões são tomadas em conjunto, no Conselho dos Comandantes. Criámos uma estrutura desprovida da componente da corrupção”, afirmou o mercenário, numa entrevista a um canal de Telegram ligado ao grupo Wagner.

Tudo isto faz crer que Yelizarov era uma figura extremamente leal a Prigozhin e que terá apoiado o motim que levou os mercenários a marchar para a Moscovo, no mês de junho deste ano.

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