"Não paramos. A luta vai continuar". Milhares de professores saíram à rua para concentração nacional em Lisboa

Agência Lusa , SM
11 fev 2023, 17:29

Docentes de todo o país estiveram em Lisboa, este sábado, com uma lista de reivindicações que inclui a contagem do tempo de serviço que esteve congelado mais de seis anos, e garantem que "a luta vai continuar".

O protesto começou na praça do Marquês de Pombal, em Lisboa, com vários autocarros estacionados nas imediações, que levaram vários professores de todo o país a concentrarem-se para uma marcha pela Avenida da Liberdade, até ao Terreiro do Paço. 

Eram cerca de 15:30 quando arrancou, ao som de apitos e bombos de manifestantes acompanhados por um grande dispositivo policial, empunhando faixas, bandeiras e t-shirts que serviam de tela para as suas reivindicações.

"Os professores estão em luta nas escolas e na rua", "não paramos" e a "luta vai continuar" foram as palavras mais ouvidas. Entre a lista de reivindicações estão a contagem do tempo de serviço correspondente a mais de seis anos, em que as progressões na carreira estiveram congeladas.

Para Conceição Viana, professora de Filosofia, em Oeiras, os motivos para participar na manifestação nacional convocada pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof) são vários, "mas os que têm prioridade têm a ver com a contagem do tempo de serviço", as condições laborais e os critérios de recrutamento.

"Fundamentalmente, em termos pessoais, a questão da contagem do tempo de serviço, mas estou solidária com as questões que dizem respeito a professores com outra idade e noutra fase do percurso", disse à Lusa.

Já para Álvaro Oliveira, professor de Português e Francês, no Monte da Caparica, em Almada, "a paragem obrigatória do 5.º e 7.º escalão não faz sentido nenhum".

"Os professores têm tempo de serviço, fazem tudo, progridem e depois ficam pendurados nestes escalões. Além disso, o tempo de serviço que esteve sem contar, continua sem contar e a questão dos salários é uma coisa ridícula, porque o senhor ministro [da Educação] diz que há progressão salarial, mas eu desde de 2008 que ganho exatamente o mesmo, estamos em 2023, portanto é uma mentira pegada", apontou.

Também Dina de Jesus, professora de Português em Vale de Cambra, disse que vem "a todas as manifestações, porque a situação não se altera".

"Nós temos de manter a nossa posição, porque é importante para nós, para os nossos alunos, para os pais, para o país inteiro", disse à Lusa, mostrando um cartaz com as palavras "democracia", que considera estar em causa, e "respeito", porque é o que não sente que falta por parte dos dirigentes políticos.

"Estou no sexto escalão, mas devia estar no sétimo quase no oitavo. Andamos aqui a marcar passo e descontámos os anos que estivemos congelados, o Estado arrecadou os nossos impostos e roubou-nos o tempo de serviço", acusou Dina de Jesus, exigindo "uma vida digna" para os professores do país.

"É muito estranho" que Costa ainda não se tenha pronunciado, diz BE

Quem também esteve presente foi a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, tendo defendido que a luta dos professores se deve a "uma revolta sincera" e desafiou o Governo a "assumir a sua responsabilidade" e atender às reivindicações da classe. 

"Os professores, literalmente, pagam para trabalhar, porque andam com a casa às costas e não têm sequer despesas de deslocação pagas", criticou.

A líder do BE considerou ainda que esta é também a "revolta do país que vê que há milhões para tudo e para mais alguma coisa", mas "onde faltam sempre os milhões é nos salários de quem trabalha", e apontou que "há um problema no país com uma inflação que galopa e os salários não acompanham".

"Muitas crianças não têm professor não é por causa da greve, é porque já não há professores no país porque as carreiras foram de tal forma desarticuladas e as condições da escola são tão difíceis que há muitos professores a reformar-se e os mais jovens não querem ser professores, e com razão", acrescentou.

Catarina Martins afirmou que "o que falha em absoluto é o Governo", sustentando que não se pode "fazer de conta que é o ministro da Educação a negociar quando o ministro das Finanças vai e diz que não vai haver aumento de despesa estrutural".

"O que o ministro das Finanças está a dizer é que quer que os professores paguem eles a inflação e a escola pública", criticou.

Questionada se deve ser o primeiro-ministro a liderar as negociações, a bloquista afirmou que é "muito estranho" que António Costa "ainda não tenha dito uma palavra sobre a escola e os professores", um "serviço público fundamental da democracia que precisa de resposta".

"O Governo não tem alternativa", diz PCP. "Deve encontrar caminhos"

"É justa a luta dos professores, são justas as suas reivindicações, como se pode ver por esta magnífica mobilização que está em curso", afirmou o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, que marcou presença no protesto nacional de professores.

O representante comunista defendeu que o "Governo não pode é ficar indiferente ao que se está a passar também este sábado aqui na Avenida da Liberdade", em Lisboa.

Uma delegação do PCP, que incluiu também a líder parlamentar, Paula Santos, esteve na manifestação em "solidariedade com a justa luta dos professores" e com "o respeito que merecem, mas também uma solidariedade com a escola pública, que também é isso que está em causa".

Paulo Raimundo assinalou que os professores "são muitos e estão muito determinados" e salientou que esta realidade "não pode passar ao lado" do Governo, "porque só a convicção, só a justeza destas reivindicações é que permitem que esta gente toda se concentre durante várias semanas consecutivas, da forma como têm feito".

"Estão a lutar por eles mas também estão a lutar pelo futuro do nosso país, que é a educação pública", assinalou.

Considerando que "o Governo não tem alternativa", Raimundo defendeu que o Governo deve "encontrar caminhos" para atender às reivindicações dos professores, e "não partir de uma premissa que os problemas são o que são e não há nada a fazer".

A manifestação nacional em Lisboa foi convocada pela Federação Nacional de Professores (Fenprof), mas contou também com a participação da Federação Nacional de Educação (FNE) e outras sete organizações sindicais, bem como da Associação de Oficiais das Forças Armadas e de representantes da PSP.

O Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP), que ainda tem uma greve a decorrer nas escolas, não faz parte dos organizadores, mas esteve presente.

As duas últimas grandes manifestações em Lisboa aconteceram em janeiro e foram organizadas pelo STOP, levando milhares de docentes para as ruas gritar por "Respeito" e "Melhores Condições de Trabalho".

No início do ano letivo, a tutela decidiu iniciar um processo negocial para rever o modelo de contratação e colocação de professores, mas algumas propostas deixaram os professores revoltados, como foi o caso da possibilidade de os diretores poderem escolher parte da sua equipa.

Desde então, as negociações entre sindicatos e ministério têm decorrido em ambiente de forte contestação, com os professores a realizarem greves e manifestações.

Fora da agenda negocial, estão reivindicações que os professores dizem que não vão abandonar, tais como a recuperação do tempo de serviço ou as progressões na carreira que os docentes.

A plataforma sindical que organizou o protesto de este sábado prometeu que no final da manifestação serão apresentadas futuras ações de protesto.

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