Gastos maiores do que as receitas, ativos diminuem e passivo regista valor mais alto de sempre em 2022/23
As receitas totais da II Liga fixaram-se nos 42 milhões de euros em 2022/23 e os gastos totais ascenderam a 63 milhões de euros na última época, sendo que os ativos diminuíram e o passivo registou o valor mais alto de sempre, indica o Anuário do Futebol Profissional Português, apresentado na manhã desta terça-feira, no Porto.
De acordo com o documento, elaborado pela EY em parceria com a Liga, as receitas das sociedades desportivas da II Liga registaram uma queda de 10% face a 2021/22, situação «explicada pela subida de divisão do Rio Ave». Já os gastos totais subiram 0,4% para 63 milhões de euros. Apesar de ter existido uma diminuição de gastos com pessoal, de menos três milhões de euros, os gastos com Fornecimento e Serviços Externos (mais seis milhões de euros), ajuda a explicar a subida deste valor.
«Em termos financeiros, falamos de uma Liga normalmente deficitária para quem participa. Estamos a falar de 2,6 milhões de euros de receita média por clube (2.610ME) face a 4 milhões de euros (3.954ME) de custos médios por clube», assinalou Miguel Farinha, da EY, durante a apresentação do relatório, apontando ainda que a situação financeira – pior em 2022/23 – não é «saudável» atendendo aos ativos e ao passivo.
Em 2022/23, indica o relatório, o total do ativo das sociedades desportivas da II Liga diminuiu 7% para 45 milhões de euros (ativo médio de 2.781ME por clube). Apesar do aumento dos ativos intangíveis (+7ME), a diminuição da rubrica clientes (-7ME) e de outras menos substanciais diminuiu o ativo. Já o passivo disparou para o valor mais alto de sempre, de 97 milhões de euros (+24% face a 2021/22, com passivo médio de 6.050ME por clube). Um aumento que se deveu «sobretudo ao aumento dos financiamentos bancários (+ 14 milhões de euros) e de dividas com associados (+ 4 milhões de euros)», indica o documento.
Após a apresentação, questionado pelo Maisfutebol, Miguel Farinha apontou que as soluções passam pela centralização dos direitos televisivos – a implementar até 2028/29 – e também pelas infraestruturas dos clubes.
«Uma das soluções passa pela centralização, outra passa pela melhoria das infraestruturas, mais adeptos nos estádios», referiu. De acordo com o Anuário do Futebol Profissional, em 2022/23 houve uma ocupação média de 27% nos estádios da II Liga.
«Se conseguirmos aumentar isto para os 50%, já é muita gente a ir ao estádio em todos os jogos. Permite aumentar receitas de bilhética, merchandising e as receitas comerciais, porque mais empresas vão querer estar associadas. Agora, é preciso um trabalho de fundo sobre isto. Acho que o trabalho de mexer nas infraestruturas do futebol em Portugal é muito necessário atualmente e é preciso que os clubes percebam isto e que as entidades governamentais e se calhar as autarquias também tenham noção, façam esse investimento e acompanhem os clubes nesse investimento», considerou.