Novo Santiago Bernabéu: o futuro à espera do Sp. Braga em Madrid

7 nov 2023, 09:00

O velho estádio deu lugar a uma estrutura futurista, ainda com as últimas obras a decorrer, e com uma série de inovações tecnológicas pensadas para fazer do Bernabéu mais do que um estádio, um espaço capaz de receber todo o tipo de eventos. Já custou mais de mil milhões de euros e não fica por aí

O Sp. Braga será a primeira equipa portuguesa a conhecer por dentro o novo Estádio Santiago Bernabéu, ainda com as últimas obras a decorrer na reta final da concretização de um velho sonho merengue. Passaram mais de quatro anos desde o início dos trabalhos de reconstrução e já não há sinais do velho estádio enquadrado por quatro torres que o mundo conheceu durante décadas. No mesmo lugar, no central Paseo de la Castellana, está agora uma estrutura futurista de linhas assimétricas, coberta com lâminas de aço para passar  uma sensação de fluidez. Lá dentro, uma sucessão de mudanças e inovações tecnológicas pensadas para fazer do Bernabéu mais do que um estádio, um espaço capaz de receber todo o tipo de eventos, 365 dias por ano. Tudo isto custou muito dinheiro, mais de mil milhões de euros. E o clube ainda vai pedir aos sócios autorização para um novo empréstimo.

A equipa do Real Madrid jogou em Valdebebas durante 18 meses na fase inicial da reconstrução. Voltou a casa em setembro de 2021, enquanto as obras prosseguiam e com a capacidade do estádio reduzida. Na temporada atual, quando o Real Madrid jogou pela primeira vez em casa a 2 de setembro, frente ao Getafe, grande parte das novas funcionalidades já estavam à vista. Mas os trabalhos finais continuam e ainda não há data oficial para a conclusão e para a inauguração – foi avançada a hipótese de 14 de dezembro, a celebrar os 76 anos do estádio, depois 23 de dezembro, mas o mais provável é que aconteça apenas em 2024.

O Belenenses no início da história

Passaram 76 anos desde que Santiago Bernabéu, antigo jogador e histórico presidente do Real Madrid, concretizou a construção do estádio a que chamavam então Novo Chamartín e que anos mais tarde viria a ter o seu nome. Numa zona privilegiada e central de Madrid, o recinto teve como convidado para a inauguração, a 14 de dezembro de 1947, o Belenenses, para um jogo que os merengues venceram por 3-1.

Desde aí o estádio passou por várias remodelações. Teve 75 mil lugares, chegou a ter 125 mil, modernizou-se. Mas nunca teve uma reestruturação tão profunda como esta.

Foi um objetivo desde o primeiro dia para Florentino Pérez, quando chegou pela primeira vez à presidência em 2000. Mas só saiu do papel em 2019, depois de muitos avanços e recuos e de um concurso ganho por três empresas, a L35 Architects, a GMP e a Ribas. É uma obra gigante de arquitetura e engenharia, que começou por envolver a demolição de alguns edifícios adjacentes ao estádio, inclui novos acessos e parqueamentos e uma remodelação profunda da estrutura. Duas das icónicas torres do velho Bernabéu foram reconstruídas, as outras foram substituídas por estruturas metálicas.

Mais 12 metros de altura, mais «intimidante»  

A remodelação incluiu também uma nova bancada com 3000 lugares, mas isso não se refletirá necessariamente num aumento correspondente da capacidade de 81 mil lugares do estádio, face à requalificação de outras zonas do recinto para garantir maior conforto e facilidade de acesso.

Mas o Bernabéu cresceu. E já era um estádio particularmente construído em altura, face às limitações do espaço onde se integra. «É tremendamente íngreme. A consequência nos jogos é que se vê uma parede de pessoas. Intimida muita gente e é um dos grandes motivos de sucesso do Bernabéu», diz Alejandro Lorca, um dos arquitetos responsáveis pela renovação, ao The Athletic.

Agora, ganhou ainda mais 12 metros de altura, até à nova cobertura fixa sobre todas as bancadas, que inclui ainda outra inovação - um teto retráctil, composto por dois painéis que correm para se encontrarem e criarem um espaço totalmente fechado. A estrutura pode abrir e fechar-se em 20 minutos.

O relvado guardado numa estufa

Além das mudanças no exterior, na estrutura e numa série de comodidades, das zonas VIP a espaços de restauração ou comerciais, a grande inovação tecnológica do novo Bernabéu é o relvado retráctil. Uma solução técnica única, em que o tapete é dividido em seis placas e recolhe para o «hipogeo», uma espécie de estufa no subsolo, onde pode ser mantido com equipamento de ventilação e climatização, um sistema de rega subterrâneo e tratamento com luzes ultravioleta.

Entre as inovações técnicas está também uma bancada amovível, que pode ser recolhida em poucos minutos através de um sistema de elevadores hidráulicos, deixando espaço livre e garantindo igualmente uma via mais ampla para operações logísticas.

Muito mais do que um estádio

Há ainda o marcador eletrónico de 360 graus, percorrendo todo o estádio num total de 3.700 m2 de ecrãs led, que promete potenciar o conteúdo audiovisual no estádio e ser um dos elementos de base para um «Santiago Bernabéu digital», como anuncia o clube., fazendo do estádio uma plataforma tecnológica que potencia a experiência dos adeptos, através do princípio do segundo ecrã, com acesso nos seus dispositivos móveis a «conteúdos próprios do clube que completem a experiência dos jogos em direto».

Todas estas inovações pretendem melhorar a experiência de quem vai ao estádio, sim. Mas sobretudo pretendem transformar o Bernabéu num grande cenário de eventos. Para receber congressos, exposições, concertos, jogos de ténis, basquetebol ou da NFL. Um enorme e versátil espaço de entretenimento, com a possibilidade de ser utilizado diariamente e, com isso, potenciar as receitas do clube.

«O centro de entretenimento mais importante da Europa»

Florentino Pérez resume assim a ideia. «Graças a Santiago Bernabéu, o estádio está no melhor local de Madrid. É uma sorte que temos. Nós só jogamos lá 26 ou 27 jogos por ano, então, estando num local tão emblemático, pensámos em fechá-lo e torná-lo no centro de lazer e entretenimento mais importante da Europa», disse há um ano no programa El Chiringuito o presidente do clube, que na apresentação do projeto tinha estimado em 150 milhões de euros o potencial de receitas adicionais do novo Bernabéu.

Esse processo já está em marcha. Em maio de 2022, o Real Madrid assinou um acordo com o Sixth Street, fundo de investimento norte-americano que detém, entre outras, uma participação nos San Antonio Spurs, e com a empresa Legends, especializada em gestão de estádios e também detida pelo fundo, para a exploração do novo Bernabéu. Válido por 20 anos, esse acordo representa um encaixe de 360 milhões para o clube e dá à Sixth Street direito de exploração de «determinados novos negócios» no Bernabéu, segundo informou o clube. O Financial Times noticiou que o acordo implicaria uma repartição de receitas, com 30 por cento para o fundo.

Já há agenda para eventos no novo Bernabéu a partir de 2024, que inclui por exemplo um concerto de Taylor Swift em maio.

Custos a derraparem e um novo empréstimo em cima da mesa

O Real Madrid tem muito dinheiro para recuperar. O custo do novo Bernabéu foi inicialmente estimado em 525 milhões de euros, mas atingirá mais do dobro. Os gastos aumentaram por causa de imprevistos como a pandemia ou a guerra na Ucrânia, com consequências na escassez de materiais e na subida dos preços, mas também por causa de novas soluções que foram acrescentadas ao projeto.

O clube já recorreu a dois empréstimos bancários para fazer face aos custos, o primeiro de 575 milhões de euros e o segundo de 225 milhões de euros, destinado ao relvado retráctil, que não estava no projeto inicial.

Em junho, os custos estavam estimados em 893 milhões de euros. Mas agora o Real vai pedir autorização aos sócios para proceder a novo empréstimo, que deverá ser na ordem dos 370 milhões de euros, segundo o Bloomberg. A decisão será tomada no próximo sábado, 11 de novembro, em Assembleia Geral.

Incluindo gastos e juros dos créditos, o valor total do investimento superará os mil milhões de euros. Não será assim um custo muito menor do que os 1.450 milhões estimados pelo Barcelona para a renovação em curso do Camp Nou, que inclui outras infraestruturas do clube catalão.

O processo também não decorreu sem problemas, nomeadamente em relação ao impacto na cidade. Há vários processos em tribunal interpostos por associações de cidadãos de Madrid, que contestam nomeadamente a construção de um túnel e dois parques de estacionamento que integram o projeto do estádio.

A evolução do novo Bernabéu

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