A piada do "swing", a Ryder Cup e as contrapartidas do BES. Julgamento de Pinho foca-se no golfe

31 out 2023, 15:46
Manuel Pinho. Foto: Nicolas Asfouri/AFP via Getty Images

Entre piadas, ex-gestor da Herdade da Comporta, que foi ouvido como testemunha no caso EDP, assume que organização do torneio mundial de golfe exigia contrapartidas do Estado português e foi aí que se discutiu a intervenção do BES na candidatura

“Tenho três perguntas para si, uma por curiosidade, uma pergunta fácil de responder e uma um pouco mais complexa”, anunciou a Defesa de Manuel Pinho antes de realizar as três questões a Carlos Cortez, antigo administrador da Herdade da Comporta que esta terça-feira foi ouvido como testemunha no caso EDP.

A primeira pergunta era relativa a quem ultrapassou Portugal - que candidatou a Herdade da Comporta - na corrida para ser o país anfitrião do campeonato de golfe Ryder Cup em 2018. “França, Paris”, respondeu Cortez. 

A segunda era sobre se o facto de Manuel Pinho ser o presidente da Comissão Executiva da candidatura do país à Ryder Cup viria a “ajudar, ou a facilitar em alguma coisa” a posição da Herdade da Comporta - detida pelo Grupo Espírito Santo - em relação às outras candidaturas internas, como a do Algarve. “Não. Comigo seguramente não, nunca tive conhecimento”, respondeu também a testemunha.

A terceira questão, “mais complexa”, foi a de “como é que se explica que num dia em que se faz um swing perfeito, no dia seguinte se falhe a bola?”, questionou Ricardo Sá Fernandes, advogado de Manuel Pinho, arrancando risos do arguido e das testemunhas. 

A anedota concluía a audição de Carlos Cortez que assumiu que durante o processo de candidatura de Portugal ao torneio mundial de golfe Ryder Cup foi discutida a possibilidade de o Banco Espírito Santo (BES) servir como garantia para assegurar as contrapartidas exigidas pela organização do campeonato, em 2018. “A Ryder Cup queria uma garantia bancária do Estado português e, para nós, isso era muito improvável, discutimos o tema e aí envolveria o BES, no fundo, para garantir as contrapartidas”, disse o gestor que administrou também a GESFIMO, um dos braços financeiros do Grupo Espírito Santo.

Manuel Pinho, em prisão domiciliária desde dezembro de 2021, é acusado de corrupção passiva para ato ilícito, corrupção passiva, branqueamento e fraude fiscal. A tese do Ministério Público é que existiu um pacto corruptivo entre o ex-ministro da Economia e Ricardo Salgado durante o exercício de funções governativas e enquanto presidente da comissão executiva para a apresentação da Ryder Cup na Federação Portuguesa de Golf.

Um dos temas centrais nesta audição foi a relação financeira que o BES tinha com os empreendimentos na Herdade da Comporta, já depois de, na sessão anterior, dois administradores ligados ao empreendimento do GES terem afirmado que existia uma política de “evitar ir muito ao BES”, como explicou Caetano Beirão da Veiga e que “havia um acordo de cavalheiros para tentar evitar que dinheiro viesse do BES”, como acrescentou Manuel Fernando Moniz Galvão, ex-gestor e presidente das holdings não financeiras do GES.

Já a posição de Carlos Cortez, que mantinha o pelouro financeiro na Herdade, difere dos testemunhos anteriores. O BES era “um parceiro importante” e havia “uma relação próxima do ponto de vista financeiro”, explicou. Já questionado sobre se o suporte financeiro do BES era importante para que a Herdade suportasse os custos da candidatura, Cortez sublinhou que “não bastava ter um campo de golfe”. “Para fazer face às contrapartidas tínhamos de ter muito mais do que isso”, destacou.

Manuel Pinho que pediu para intervir a meio da sessão, destacou, por sua vez, que as contrapartidas pedidas pela organização do campeonato eram elevadas e maioritariamente ao “nível do imobiliário e dos lucros”. Pinho pediu também para informar o tribunal que durante “grande parte do tempo da segunda fase da candidatura estava a viver nos Estados Unidos - a fase em que Portugal estava a competir com outros países para ser anfitrião do torneio, já depois de a Herdade da Comporta ser escolhida, em 2010.

Carlos Cortez detalhou ainda que era “Manuel Pinho quem levava a cabo as reuniões com os Ministérios e secretários de Estado” para coordenar o processo de candidatura ao torneio. Sobre esta candidatura disse ainda que Ricardo Salgado, “claramente, como presidente”, tinha conhecimento deste processo. “Seguramente, a decisão da candidatura passou também por Ricardo Salgado”.
 

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