As «rainhas» de Portugal que lutaram pelos seus sonhos

8 mar, 20:00
Paris 2024 (Reuters)

No dia da mulher, olhamos para um percurso que quebrou «tabus», deu asas a feitos históricos e levou Portugal ao patamar mais alto do desporto mundial

Dia 8 de março celebra-se a mulher, celebra-se a liberdade da mulher e para algumas delas, uma homenagem pela dedicação, vontade e ambição de cumprir um sonho... Representar Portugal no maior palco de todos, os Jogos Olímpicos.

Estávamos em 1952, na capital da Finlândia, a fria mas repleta de história, Helsínquia. Uma história que começou para três mulheres, todas elas ligadas à ginástica. Maria Laura Amorim e as irmãs Dália Cunha e Natália Cunha e Silva foram pioneiras de toda uma geração de atletas em Portugal que ambicionavam atingir o mesmo patamar. 

Uma dessas mulheres foi Albertina Machado, representante lusa no atletismo, nas vertentes de 800 e 3000 metros, em Los Angeles, no ano de 1984. É com saudade, mas acima de tudo com muito orgulho que Albertina recorda os tempos em que era livre e quebrou a considerada «normalidade».

«Os tempos são muito diferentes, há 40 anos não era normal uma menina andar de calções. Eu treinava numa pista de cinza e quando chovia sujava-me com a lama, hoje em dia, a minha filha tem uma pista de tartan para treinar», explica Albertina Machado, que deixa ainda uma curiosidade que a distingue das novas gerações de atletas.

«Nós não estudávamos, dedicávamo-nos ao atletismo, os nossos pais deixavam-nos treinar porque conseguíamos ganhar dinheiro com as provas de estrada. Para mim, essa é a principal vantagem que eu tinha face aos atletas de hoje. Provas como o corta-mato agora dão tostões, naquela altura davam milhões!»

Um salto no tempo permite-nos olhar para a forma como a mulher foi ganhando o seu espaço nas mais diversas modalidades. Desde a natação, passando pelo judo ou até mesmo o ciclismo, o desporto era o rosto da «revolução», essencial para o cenário a que vamos assistir este ano, em Paris, quando pela primeira vez na história, mulheres e homens estiverem representados em igual número.

Este era o sonho das «rainhas», apelidadas por Albertina Machado, quando em 1984 se deparou com uma realidade pararela, perante a forma como os Estados Unidos olhavam para o desporto, em geral.

Mais tarde, em 1996, uma jovem de 17 anos fazia história para Portugal, desta feita, na vela. Joana Pratas deixou para trás a idade e de frente lidou com a experiência das mais velhas, num momento que a marcou para sempre.

«Tinha 17 anos quando participei nos meus primeiros Jogos Olímpicos, era a mais jovem velejadora, em Atlanta, 1996. Foi a concretização de um sonho, muito difícil de alcançar. O apoio dos meus pais e da minha família foi essencial, pois sem eles jamais teria participado, nesse aspeto, os dois seguintes foram mais fáceis.»

Uma conquista acaba sempre por depender da importância que lhe dermos, mas existem algumas que marcam a história. Desde a medalha de ouro de Rosa Mota, em 1984, até à medalha de prata que Patrícia Mamona arrecadou no triplo salto, em 2021. As dificuldades foram sempre colocadas de parte por um bem maior... Gigante é mesmo o termo correto.

Foi precisamente em Tóquio, debaixo de toda a angústia e incerteza que levou ao adiamento dos Jogos Olímpicos em 2020, devido à covid-19, que Portugal teve as suas mais recentes pioneiras. O surf rumou à capital do Japão e com ele foram Teresa Bonvalot e Yolanda Hopkins Sequeira. A viagem não foi «pera doce», mas o sabor do momento satisfez o sentido de todo este processo.

«Quero chegar a Paris e ganhar uma medalha de ouro para Portugal, criar um caminho para as gerações que se seguem. A possibilidade de representar o meu país faz com que as mais novas me consigam acompanhar», refere Yolanda, que deixa ainda a certeza de que «o céu é o limite, nós mulheres temos muita força.»

Aqui chegámos, 128 anos depois da primeira edição dos Jogos Olímpicos, com sonhos realizados, outros por cumprir, mas a verdade é inegável, o desporto é cada vez mais, um mundo sem barreiras.

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