Biden disse ao príncipe da Arábia Saudita que o considerava "pessoalmente responsável" pela morte de Khashoggi

15 jul 2022, 21:54
Joe Biden e Mohammed bin Salman (AP)

Presidente dos EUA deixou claro que não pode ficar "calado num assunto de direitos humanos"

O presidente dos Estados Unidos afirmou perante o príncipe da Arábia Saudita que o considerava responsável pela morte do jornalista Jamal Khashoggi, dissidente do regime saudita que foi morto na embaixada da Turquia. “Disse a Mohammad bin Salman que pensava que ele era pessoalmente responsável pelo assassínio de Khashoggi”, afirmou Joe Biden: "Ele basicamente disse-me que não era pessoalmente responsável. Eu disse que pensava que era", acrescentou.

Numa reunião em que também se discutiram as opções energéticas dos dois países, nomeadamente o petróleo e a ecologia, este terá sido o ponto de maior tensão. “Eu disse, muito diretamente, que um presidente norte-americano ficar calado num assunto de direitos humanos é inconsistente com quem somos e com quem sou”, afirmou. Entretanto um representante da delegação saudita confirmou que o assunto foi abordado na reunião.

Jamal Khashoggi, um dos maiores críticos do regime saudita - e em particular do príncipe Mohammed bin Salman -, foi morto a 2 de outubro de 2018 no consulado da Arábia Saudita em Istambul. A versão oficial das autoridades turcas afirma que o jornalista radicado nos Estados Unidos foi assassinado e o seu corpo desmembrado e destruído por uma equipa de cerca de 15 agentes sauditas.

Nas semanas que se seguiram ao incidente, a Arábia Saudita negou oficialmente qualquer envolvimento no sucedido. Entretanto concedeu que a operação foi levada a cabo por agentes mas “sem qualquer ordem superior” e que queriam persuadir Khashoggi a voltar para o país.

Em dezembro de 2019, o Tribunal Criminal de Riade chegou mesmo a condenar à morte cinco elementos alegadamente responsáveis pelo assassínio, sentença posteriormente reduzida para 20 anos para cada um. Contudo, as autoridades turcas afirmam que os agentes atuaram sob ordens diretas de altos funcionários do governo saudita, nomeadamente de Mohammed bin Salman. Na sua investigação ao caso, as Nações Unidas consideraram que havia “provas credíveis” para investigar o príncipe herdeiro.

Energia também na agenda

A morte de Jamal Khashoggi não foi o único ponto da agenda do encontro. Segundo Joe Biden, o objetivo da viagem passa por um normalizar das relações com a Arábia Saudita, um importante parceiro dos Estados Unidos na região, nomeadamente por causa do petróleo.

Afirmando que não quer deixar uma valiosa região nas mãos da China ou da Rússia, o presidente norte-americano referiu que as duas partes tiveram uma "boa discussão" sobre a necessidade de assegurar o abastecimento e a segurança energética do mundo, numa altura em que os preços do petróleo e do gás natural flutuam de acordo com a guerra na Ucrânia. "Não vamos deixar um vazio no Médio Oriente para a China e a Rússia preencherem", afirmou Joe Biden.

Mas a transição e as relações energéticas entre Estados Unidos e Arábia Saudita também se vão fazer de energia limpa, segundo o presidente norte-americano, que anunciou uma parceria entre as partes para uma iniciativa de energia sustentável.

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