Mostre este texto aos peregrinos, traduza se for preciso - mas não deixe que tomem banho no Tejo

Beatriz Céu , (artigo atualizado)
3 ago 2023, 12:40
Calor, Lisboa, Cais das Colunas, Rio Tejo. 19 maio 2022. Foto: Horácio Villalobos/Corbis via Getty Images

Relatos de peregrinos a tomar banho no rio Tejo estão a preocupar as autoridades. "É um ótimo caldinho para propagar doenças infecciosas"

A Câmara de Lisboa enfrenta várias preocupações por estes dias, desde os constrangimentos no trânsito na cidade à garantia da segurança das centenas de milhares de peregrinos que chegam todos os dias à capital no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Mas há uma outra situação que está causar apreensão à autarquia - pessoas que se estão a banhar no rio Tejo.

"Tivemos notícias de pessoas que se estiveram a banhar no Rio Tejo, na zona de Belém. É uma preocupação”, assume o vice-presidente da Câmara de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia, em declarações à Renascença, chamando a atenção para "o perigo" de ir a banhos no rio.

E o alerta não é para menos. É que o rio Tejo não está classificado como praia balnear e, por isso, apesar de o calor convidar a mergulhos, a qualidade da água e a corrente da maré devem ser motivos suficientes para afastar banhistas daquela zona.

Não sendo uma zona balnear, "a qualidade da água não está garantida", explica Gustavo Tato Borges, médico especialista em saúde pública, assinalando que, "nos últimos anos, [a água do rio Tejo] tem registado, por exemplo, valores elevados de enterococos, salmonelas ou de outros microorganismos" capazes de "causar algum tipo de doença infecciosa" nos banhistas.

"Estamos a falar de gastroenterites, diarreias, talvez até uma patologia neurológica que possa estar associada, dependendo do agente microbiológico que possa ser encontrado", exemplifica o também presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública. Além disso, também "pode haver uma reação cutânea", dependendo, mais uma vez, da substância que possa entrar em contacto com a pele. Mas, neste caso, acrescenta, "a propagação dessas doenças é menor", uma vez que "não há um contacto físico próximo com toda a gente".

Já "as doenças infecciosas que possam ser desenvolvidas na praia têm sempre a possibilidade de serem transmitidas a pessoas que não foram para lá [para o rio Tejo]", compara. "Estamos a falar de um aglomerado de 1,5 milhões de pessoas, todas elas em espaços relativamente pequenos, porque, apesar de tudo, o Parque Tejo e o Parque Eduardo VII têm áreas que vão ficar sobrelotadas. Portanto, toda esta proximidade entre pessoas é um ótimo caldinho para propagar doenças infecciosas se as pessoas não tiverem cuidado. Por isso, e em termos de saúde pública, banhar-se em águas que não estão classificadas como praia balnear é sempre um risco."

Além dos riscos para a saúde, há também o perigo das correntes fortes do rio Tejo, sobretudo entre o Parque das Nações e Algés, onde "a corrente pode ser muito intensa", nomeadamente a partir das 16:00, quando a maré começa a vazar, explica Carlos Antunes, professor do Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia da Faculdade de Ciências de Lisboa.

Nessa altura, "qualquer nadador que saia um bocadinho da margem pode ser apanhado por correntes fortes e depois pode não ter capacidade de regressar ao ponto de partida, o que pode exigir situações de emergências", admite.

"Não havendo nadador-salvador, as autoridades não estão posicionadas no terreno e não haverá capacidade de socorro imediato. Se a pessoa não tiver capacidade física e fôlego para se aguentar à tona e nadar em direção a uma margem qualquer onde se possa agarrar, há aqui um risco elevado de ser levada pela corrente", adverte o investigador.

Os especialistas recomendam, por isso, que os peregrinos e a população no geral evitem nadar no rio Tejo. O presidente da associação ambientalista Zero apela às autoridades para que alertem a população "para que muitos dos jovens que nos visitam não mergulhem no Tejo", lembrando não só as preocupações ambientais, nomeadamente ao nível da poluição, mas também por razões associadas à segurança "num rio que não é seguro".

Autoridade Marítima garante que foram acionados meios para impedir mergulhos no rio Tejo

Entretanto, esta quinta-feira a Autoridade Marítima Nacional garantiu que foram acionados os meios necessários para impedir os peregrinos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de mergulharem em zonas não vigiadas do rio Tejo para se refrescarem.

Durante a conferência de imprensa diária sobre a operação de segurança da JMJ, o porta-voz da Autoridade Marítima Nacional, José Sousa Luís, explicou que estão mobilizados meios da Polícia Marítima, do Instituto de Socorros a Náufragos e da Marinha Portuguesa.

José Sousa Luís explicou que o dispositivo foi reforçado na sexta-feira passada e integra, “no plano de água, um conjunto diversificado de meios”, como lanchas da Polícia Marítima e lanchas salva-vidas e motas de água de salvamento marítimo do Instituto de Socorros a Náufragos.

“No caso particular do Parque Tejo, durante os eventos, vamos também ter um reforço de botes de fuzileiros da Marinha Portuguesa”, avançou o responsável, acrescentando que, na zona ribeirinha “existem diversas patrulhas quer apeadas, quer motorizadas”.

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