Violência israelita deslocou mais de 1.100 palestinianos na Cisjordânia em 2022, alerta a ONU

Agência Lusa , PF
21 set 2023, 18:49
Israel lança maior ataque em 20 anos na Cisjordânia (EPA/ALAA BADARNEH)

A violência esvaziou completamente cinco comunidades palestinianas, reduziu a metade a população de seis outras e a um quarto a de sete localidades, segundo um relatório da instituição

A violência dos colonos israelitas deslocou mais de 1.100 palestinianos na Cisjordânia ocupada desde 2022, segundo um relatório da ONU divulgado esta quinta-feira, e as autoridades descrevem um êxodo sem paralelo recente.

O relatório reportou cerca de três incidentes por dia relacionados com colonos na Cisjordânia - a maior média diária desde que as Nações Unidas começaram a documentar a tendência em 2006.

A violência esvaziou completamente cinco comunidades palestinianas, reduziu a metade a população de seis outras e a um quarto a de sete localidades, segundo o relatório.

À medida que os colonatos israelitas se expandem, sob o governo de Benjamin Netanyahu, apoiado por ultranacionalistas, os palestinianos dizem que a violência dos colonos radicais israelitas disparou.

"A ONU registou níveis sem precedentes de violência dos colonos contra os palestinianos este ano", afirmou Lynn Hastings, coordenadora humanitária para os territórios palestinianos ocupados.

"A comunidade humanitária está a responder às suas necessidades imediatas, mas não haveria necessidade de assistência humanitária se os seus direitos fundamentais fossem respeitados", considerou.

A justificação dos que decidiram sair definitivamente foram ataques a terras de pastagem e a violência dos postos avançados dos colonatos - muitos dos quais foram recentemente estabelecidos no topo das colinas que circundam as aldeias rurais palestinianas.

Segundo os especialistas, esta tendência está a transformar o mapa da Cisjordânia e a minar ainda mais as perspetivas de um Estado palestiniano independente. Os palestinianos pretendem que a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza - áreas capturadas por Israel na guerra de 1967 - componham o seu futuro Estado.

As aldeias afetadas dependem sobretudo da pastorícia e da agricultura para sua subsistência. Quase todas as comunidades referiram ter sido obrigadas a vender parte do seu gado e 70% tiveram de pedir dinheiro emprestado para pagar alimentação depois de as incursões dos colonos terem cortado o acesso às suas terras de pastagem, refere o relatório.

Mais de um terço dos residentes referiu ter mudado os seus meios de subsistência, tendo alguns abandonado completamente a pastorícia.

As comunidades palestinianas que registaram a maior perda de população situavam-se em zonas com o maior número de postos avançados de colonização, segundo o relatório.

O COGAT, o organismo de defesa israelita responsável pelos assuntos civis palestinianos, não respondeu a um pedido de comentário.

A expansão dos colonatos tem sido promovida por sucessivos governos israelitas ao longo de quase seis décadas, mas o governo de Netanyahu fez dela uma prioridade máxima. O poderoso ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, nacionalista radical e agora responsável pela política de colonatos, prometeu acelerar a construção e legalizar os postos avançados construídos sem autorização.

A comunidade internacional considera, na sua esmagadora maioria, que os colonatos são ilegais e constituem um importante obstáculo à paz.

O Presidente norte-americano, Joe Biden, reuniu-se com Netanyahu na quarta-feira à margem da Assembleia Geral da ONU, manifestando a sua preocupação com o tratamento dado pelo Governo israelita aos palestinianos.

Os palestinianos que foram deslocados referem que as autoridades israelitas, encarregadas de administrar o território, raramente respondem aos casos de violência dos colonos. De acordo com os dados da ONU, quase todas as comunidades onde ocorreram deslocações disseram ter apresentado queixas às autoridades, mas apenas 6% relataram que as autoridades israelitas deram seguimento às queixas.

O aumento da violência dos colonos ocorre numa altura em que se registam fortes combates israelo-palestinianos na região.

Este ano, cerca de 190 palestinianos foram mortos por tiros israelitas. Cerca de metade estavam ligados a grupos militantes, mas também foram mortos jovens que atiravam pedras em protesto contra incursões militares e pessoas não envolvidas nos confrontos.

Por outro lado, mais de 30 pessoas foram mortas em ataques palestinianos contra israelitas.

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