O vigarista, as suas amantes e a mãe desaparecida

CNN , Hilary Whiteman
1 abr, 19:59
Marion Barter Ilustração CNN

Durante mais de duas décadas, ninguém deu ouvidos a Sally Leydon quando esta implorou por ajuda para encontrar a sua mãe, que desapareceu misteriosamente durante uma viagem ao estrangeiro em 1997.

Na altura, a polícia australiana repudiou as suas preocupações, insistindo que a sua mãe, Marion Barter, tinha desaparecido por escolha, e que não queria ter mais nada a ver com a sua família.

Era uma história que Leydon se recusava a aceitar e, no final de fevereiro deste ano, os seus esforços para encontrar a mãe conduziram-na a uma sala de tribunal lotada no oeste de Sidney, na Austrália, onde uma magistrada provincial divulgou as suas descobertas numa investigação que durou quase três anos.

Para muitos, a audiência final do inquérito proporcionou uma derradeira atualização do podcast australiano The Lady Vanishes, que desde a estreia do seu primeiro episódio, em março de 2019, reuniu de forma meticulosa as provas do caso.

Na manhã de 29 de fevereiro, os mais leais apoiantes australianos de Leydon amontoaram-se na sala de tribunal, vestindo de verde, a cor favorita de Barter, enquanto os seguidores do caso nos Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Europa, Reino Unido e mais além sintonizaram um feed em direto no YouTube para ouvirem as descobertas da magistrada Teresa O’Sullivan.

“Marion Barter está morta e morreu numa data incerta depois de 15 de outubro de 1997”, disse O’Sullivan. O corpo de Barter nunca foi encontrado.

Leydon não precisava que uma magistrada confirmasse a morte da mãe – há muito que tinha aceitado a dolorosa verdade na ausência de qualquer prova em contrário.

Mas as palavras da magistrada confirmaram o que ela suspeitava há anos – que a investigação inicial da polícia ao desaparecimento da sua mãe foi mal conduzida e que Ric Blum – um vigarista condenado, atualmente na casa dos 80 anos, que admitiu ter mantido um caso com Barter meses antes de ela ter desaparecido – tinha mentido repetidamente em tribunal e que sabia mais sobre o desaparecimento da sua mãe do que deixara transparecer.

Uma mãe desaparece

Em 1997, Marion Barter estava pronta para uma mudança e a 22 de junho embarcou num avião em Brisbane, na Austrália, com destino ao Reino Unido, com planos de férias e possivelmente de um novo começo.

De forma bastante dramática, a professora de 51 anos despediu-se do emprego a meio do ano escolar, vendeu a sua casa e guardou as suas adoradas antiguidades, achando que um dia voltaria para as ir buscar ou então que lhe seriam enviadas se acaso se instalasse no Reino Unido.

Tanto quanto se sabe, viajou sozinha.

Após três casamentos e três divórcios, Barter era uma solteira com um filho e uma filha, ambos na casa dos 20 anos e noivos dos respetivos companheiros. Leydon disse à CNN que encorajou a mãe a ir e que Barter chegou em segurança ao Reino Unido no final de junho de 1997. Manteve-se em contacto com amigos e com a família através de postais e uma carta.

A 1 de agosto, Barter telefonou a Leydon supostamente de uma cabine telefónica pública em Tunbridge Wells, na cidade de Kent, em Inglaterra.

Leydon, então com 24 anos, disse ao podcast que tinha acabado de contar à mãe sobre o vestido de noiva que tinha comprado quando o crédito da chamada se esgotou. Nunca mais voltou a ouvir a sua mãe.

Ao início, Leydon não pensou muito sobre o silêncio da mãe, mas a 18 de outubro, quando Barter não telefonou ao filho, Owen, irmão de Leydon, para lhe dar os parabéns, começou a ficar preocupada.

Uma das primeiras chamadas que fez foi para o banco de Barter para apurar se a mãe estava a usar a conta. Havia quantias de dinheiro a sair de forma regular, disse-lhe um funcionário do banco, mas não a partir do Reino Unido.

Alguém na Austrália tinha usado a identificação da sua mãe para fazer levantamentos de 5 mil dólares australianos (cerca de 3 mil euros) por dia, todos os dias, durante três semanas num balcão em Byron Bay e noutro em Gold Coast, onde Barter costumava viver.

Chocada, Leydon tinha a certeza que não era a sua mãe que estava a levantar o dinheiro e ligou para a polícia.

Aí veio a resposta que poria Leydon num caminho que acabou por consumir grande parte da sua vida adulta.

A polícia disse-lhe que o banco tinha confirmado que a sua mãe tinha levantado o dinheiro e que tinha dito que não queria ter mais nada a ver com a sua família.

Barter tinha regressado à Austrália, disse-lhe a polícia, e queria desaparecer.

Marion Barter com os filhos, Owen e Sally (The Lady Vanishes/Facebook)

Uma nova vida e um novo nome

Passaram-se anos com pouca informação sobre o que acontecera a Barter, até uma pista intrigante emergir através de uma investigação policial que começou tardiamente, uma década depois.

Barter tinha mudado o seu nome nas semanas antes de ter abandonado a Austrália e tinha voltado ao país a 2 de agosto de 1997 – apenas um dia depois de ter falado pela última vez com Leydon.

O novo nome de Barter era Florabella Natalia Marion Remakel, e o seu cartão de embarque identificava-a como uma residente do Luxemburgo casada, de acordo com a investigação.

O nome “Remakel” abriu novas portas que conduziram a polícia até Blum.

Em 1994, Blum pôs um anúncio num jornal australiano-francês, descrevendo-se como um homem solteiro de 47 anos “alto, moreno e sóbrio”, que procurava um relacionamento com vista ao casamento.

O anúncio estava assinado “Sr. F. Remakel”, mas o número de telefone listado ia dar a um negócio de moedas na cidade de Ballina, no estado de Nova Gales do Sul, administrado por um dos muitos pseudónimos de Blum.

A investigação apurou que Blum detinha pelo menos 10 passaportes sob diferentes identidades que usava para viagens internacionais.

No decorrer do inquérito, Blum disse que adotava frequentemente novos pseudónimos por “fantasia” e porque “era legal”. “Não tinha um propósito específico”, disse.

Quanto questionado sobre o seu nome de batismo, Blum respondeu: “Na verdade não sei. Mas no meu registo de nascimento fui declarado Willy Coppenolle.”

“Isto marca o misterioso início da vida do sr. Blum”, observou a magistrada provincial nas suas descobertas.

Ric Blum disse ao tribunal forense de Nova Gales do Sul que viu Barter pela última vez em junho de 1997, mesmo antes de ela abandonar a Austrália (Cortesia Bryan Seymour)

Um homem de muitos nomes

Blum nasceu em julho de 1939 de pais não-casados em Tournai, na Bélgica, uma cidade pitoresca próxima da fronteira com França. Diz que passou algum tempo num orfanato até ter sido devolvido à sua mãe e ter adotado o apelido do seu novo marido – Wouters.

Blum chegou à Austrália como Willy Wouters em 1969, mas abandonou o país logo no ano seguinte. O seu destino seguinte foi França, onde foi preso por “fraude, falsificação, crimes contra património e uso de identidade falsa”, apurou o inquérito.

Após ter sido libertado em 1974, regressou à Austrália de barco e em fevereiro de 1976 tornou-se um cidadão australiano sob o nome Frederick de Hedervary.

Por volta da mesma altura, Blum casou com a sua quarta esposa – uma mulher de 19 anos que conheceu em 1969 a bordo de um barco vindo do Reino Unido – com quem continua casado até hoje.

Frederick e Diane de Hedervary instalaram-se na Austrália antes de se mudarem para o Luxemburgo, para a Bélgica, e para o Reino Unido vários anos depois, antes de regressarem à Austrália em 1986. Nessa altura, já tinham dois filhos.

Em 1997, a família estava a viver em Nova Gales do Sul, onde Blum recebia uma pensão de invalidez e a sua mulher uma pensão como cuidadora. Quando, em tribunal, Blum foi questionado sobre se “o dinheiro era apertado” nessa altura, anuiu.

Blum disse ao tribunal que começou a ter um caso com Barter em fevereiro desse ano, apesar de não ser claro como é que se conheceram – poderá ter sido através do anúncio pessoal que Blum tinha publicado no jornal em 1994, no qual se apresentava como “Sr. F. Remakel”.

Ele alega que poderá ter respondido a um anúncio publicado por Barter, mas a magistrada não conseguiu encontrar qualquer prova disso.

Blum diz que o caso extramarital acabou semanas antes de ela partir para o estrangeiro, em junho, quando ele lhe disse que não podia mais vê-la porque era um homem casado e com filhos.

Em tribunal, Blum testemunhou que a última vez que a viu foi três semanas antes de ela partir para o Reino Unido, quando foi a casa dele buscar caixas de chá antigas que lá tinha deixado, acompanhada por um homem de uniforme, que ele achou ser “da Marinha ou piloto”.

Amantes enganadas

O verdadeiro Sr. F. Remakel é o ex-marido de uma mulher que Blum conheceu em tempos, Monique Cornelius, que diz ter mantido um caso com ele – algo que Blum desmente.

De acordo com o testemunho lido em tribunal em fevereiro de 2022, Cornelius disse à polícia que Blum era um mentiroso em série que lhe disse que tinha trabalhado como agente especial na embaixada britânica no Luxemburgo.

Cornelius disse que ele lhe escreveu uma carta em 1980, professando o seu amor por ela e sugerindo que ia comprar um barco para que pudessem navegar juntos para longe.

“Estou intimamente convencido de que não irás arrepender-te da tua decisão de partir comigo e começar uma nova vida”, escreveu ele na carta, que foi lida em tribunal.

O caso deles acabou quando ela descobriu que ele era casado e o expulsou, contou Cornelius à polícia. Blum disse ao tribunal que Cornelius mentiu sobre o relacionamento de ambos, que segundo ele foi platónico.

No decorrer do inquérito, outras mulheres também falaram dos seus encontros com o homem que agora é conhecido como Blum. Alguns foram de índole romântica, outros não. Mas todos envolveram alegações de dolo.

Ginette Gaffney-Bowan disse ao tribunal que pôs um anúncio pessoal num jornal no final dos anos 1990 e que obteve uma resposta de Blum, que ela conheceu como Frederick De Hedervary.

Ela disse que, na altura, se sentia “extremamente sozinha” e trabalhava longas horas no seu negócio a cuidar de crianças.

Gaffney-Bowan disse que Blum lhe disse que tinha perdido a sua casa, pelo que ela lhe disse que ele podia ficar num pequeno estúdio na sua propriedade em Sidney durante as suas viagens frequentes à cidade.

Disse que a relação não era sexual e que, em vez disso, ele lhe propôs uma parceria empresarial a negociar moedas. Como tinha o sonho de encerrar a sua creche, ela deu-lhe 30 mil dólares australianos (cerca de 18 mil euros) como financiamento inicial. Pouco depois, ele propôs-lhe que vendesse a sua casa para comprarem o que ele disse ser um “lindo e espaçoso” apartamento em Paris. Ela recusou a proposta.

Gaffney-Bowan disse ao tribunal que Blum a rebaixou e tentou criar um fosso entre ela e as suas filhas por causa da venda da casa. Apesar de Blum não a ter magoado fisicamente, ela testemunhou em tribunal que ele a tentou chantagear com fotografias que lhe tinha tirado nua. Diz que ficou com medo dele, que foi à polícia e que, no início de 1999, conseguiu obter uma medida protetiva.

Blum disse ao tribunal que Gaffney-Bowan o “arrastou para a cama” e lhe pediu que tirasse fotografias “lascivas” dela, sem avançar mais detalhes. Também dementiu ter-lhe tirado dinheiro.

Janet Oldenburg, outra divorciada solitária, contou em tribunal que conheceu Blum, que se apresentou como “Rick” ou “Rich”, pela primeira vez em 1996 através dos círculos numismáticos do ex-marido onde ambos viviam em Nova Gales do Sul. Reencontraram-se em 1999 quando ela tinha 51 anos e acabado de finalizar o divórcio, disse.

Blum ofereceu-lhe trabalho, mas antes de ela iniciar o novo emprego, diz que ele lhe pediu que se mudassem juntos para a riviera francesa “para começarem uma nova vida”.

Blum negou que algum dia tenha dito a Oldenburg que nutria sentimentos por ela e disse que lhe comprou um bilhete só de ida para a Europa porque ela queria encontrar um agente e começar uma nova carreira como dançarina do ventre.

Oldenburg alegou que Blum a abandonou em Inglaterra durante as viagens de ambos após ter inventado uma história de que tinha sido atacado numa estação de comboios durante uma viagem de negócios a solo em Lille, França.

Blum admitiu em tribunal que a abandonou em Inglaterra porque já não queria ter nada a ver com ela. “A minha vida era com a minha mulher e os meus filhos na Austrália”, disse.

Também desmentiu as acusações de que lhe roubou jóias e títulos de propriedade da casa dela.

Vários anos depois, Ghislaine Danlois-Dubois conheceu Blum em 2006 através de um anúncio por ela publicado num jornal em busca de companhia. Numa videochamada a partir de Bruxelas, contou ao tribunal que o conheceu como Frederik de Hedervary.

Ric Blum numa fotografia que se crê datar de 2008 (Cortesia Joni Condos)

Na altura, Danlois-Dubois era uma viúva de 72 anos à procura de uma distração e rapidamente se apaixonou pelo estranho, que lhe disse que era um gerente bancário da Austrália com um interesse em moedas, contou ela.

Danlois-Dubois disse ao tribunal que, após um romance turbulento, De Hedervary sugeriu que deviam casar-se na ilha Indonésia de Bali, e que ela devia vender a sua casa e dar-lhe o dinheiro para ele poder abrir contas bancárias para os filhos dela, para que tivessem dinheiro à disposição quando os fossem visitar na Austrália.

Ela diz que recusou os pedidos dele para manter o seu iminente casamento secreto e escondido dos filhos, e que ele desapareceu com o dinheiro, cerca de 60 mil euros.

Blum negou as alegações e disse ao tribunal que Danlois-Dubois “não lhe deu um centavo”.

Quatro anos depois, Blum cruzou-se com Andree Flamme, uma senhora idosa que, segundo ele, estava confinada a uma cadeira de rodas, a viver com demência e que “não conseguia juntar duas palavras”.

Quando esta versão foi apresentada a Flamme, que prestou provas aos investigadores através de uma videochamada a partir de Portugal no ano passado, a idosa, então com 92 anos, riu-se. Negou algum dia ter precisado de uma cadeira de rodas enquanto ele ficou com ela e com um sorriso disse que sim, que consegue juntar duas palavras.

Flamme disse ao tribunal que o homem que ela conhecia como Frederik de Hedervary ficou com ela durante várias semanas em maio e junho de 2010. Enquanto lá esteve, ela diz que ele lhe pediu para inspecionar a coleção de moedas do seu falecido marido, e que um dia desapareceu com elas quando ela saiu de casa para tratar de um assunto.

“Ele deixou um pedaço de papel a dizer que se ia embora mas que voltaria… mas eu nunca mais o vi”, disse Flamme através de um tradutor. Blum nega as alegações.

Uma sexta mulher, Marie Landrieu, entregou uma declaração no decorrer do inquérito a alegar que foi enganada por dinheiro em 2012 por um homem que conheceu como “Willy”, que era primo do seu falecido marido.

Disse que Blum propôs que comprassem uma casa juntos em Bali, pelo que lhe deu 100 mil euros. Mas depois de terem viajado até à Indonésia, ele disse-lhe que tinha de se ausentar por causa de uma emergência de trabalho.

Ela nunca mais o viu — nem ao dinheiro.

Blum disse ao tribunal que Landrieu lhe deu 50 mil euros em dinheiro vivo que ele considerava que lhe era devido de uma herança da sua mãe.

Ele negou ter tentado seduzi-la e disse que foram até à ilha tropical porque ela estava “interessada em conhecer Bali”, mostram os registos do inquérito.

Onde está Marion?

No decorrer da sua investigação, a magistrada O’Sullivan disse que aceitou os testemunhos das mulheres, que mostram que Blum tinha um historial de deturpação da própria identidade com mulheres solteiras e vulneráveis para ganhos financeiros.

Ela descobriu que Blum “explorou” Barter, da mesma forma que mais tarde explorou as outras mulheres que apresentaram provas contra ele. O’Sullivan disse que, na ausência de provas corroborantes, “não aceitou como exato nada do que o sr. Blum declarou”.

Quanto ao papel de Blum no desaparecimento de Barter, a magistrada provincial chamou a atenção para a alegação “extraordinária” feita por Blum no último dia do inquérito judicial, que proferiu pela primeira vez apenas naquele momento, apesar das horas de interrogatório a que tinha sido submetido desde a sua primeira entrevista com a polícia em 2021.

No banco das testemunhas, Blum, hoje um homem idoso de barba branca farta, foi questionado novamente se tinha alguma informação quanto ao paradeiro de Marion Barter.

“Eu acredito que ela está viva, é nisso que acredito. Mas não sei nada sobre isso, sobre o que ela fez ou deixou de fazer, nada. Não sei”, disse a gaguejar.

O’Sullivan interveio com uma questão: “Porque é que acredita que a Marion está viva?”

“Ela disse que queria separar-se da família, que não queria ter nada a ver com qualquer membro da sua família”, disse Blum. “Ela era uma pessoa um bocado estranha.”

No dia seguinte, Blum foi novamente convocado via vídeo para explicar porque é que não tinha passado essa informação à polícia ou em qualquer momento do inquérito ao longo daqueles três anos.

Ele disse ao tribunal que não contou à polícia na entrevista em junho de 2021 “porque eles nunca perguntaram “. Pressionado por respostas, disse: “Não fazia ideia da importância disto. Estava só a falar. O que é que vos posso dizer?”

Nas suas descobertas, O’Sullivan constatou: “Esta prova, juntamente com as mentiras e embustes ao longo do inquérito, convenceram-me que ele na verdade sabe mais do que está a dizer.”

Ela descobriu que Blum desenvolveu uma relação com Barter em 1997, fazendo-se passar por Fernand Remakel, e encorajou-a a começar uma nova vida com ele” no Luxemburgo.

A magistrada apurou que Blum “persuadiu ou, de outra forma, encorajou” Barter a vender a casa dela antes de irem embora da Austrália, com as provas a sugerirem que passaram algum tempo juntos em Inglaterra.

Durante a viagem, Barter escreveu à filha Leydon num bloco de notas com a inscrição “Hotel Nikko Narita” — o mesmo hotel em que Blum ficou a caminho da Europa. Barter viajou via Coreia do Sul, de acordo com o seu registo de passageira.

Marion Barter terá viajado sozinha para a Europa em 1997 (Cortesia Sally Leydon)

A magistrada descobriu que Blum provavelmente lhe deu o bloco de notas do hotel quando se encontraram em Inglaterra. Ao regressar à Austrália, apurou também a magistrada, Barter levantou dinheiro das suas contas bancárias em agosto e outubro de 1997 “incentivada pelo sr. Blum”.

Foi revelado em tribunal que, um dia antes de Barter transferir 80 mil dólares australianos (cerca de 48 mil euros) da sua conta bancária, a 15 de outubro de 1997, Blum abriu um envelope de cofre, mas a magistrada não encontrou provas de que tenha chegado a receber os rendimentos.

O’Sullivan descobriu que Barter passou alguns meses a viver na comunidade sem ser detetada, entre agosto e outubro do mesmo ano — e que, durante aqueles meses, Blum esteve em contacto com ela.

A magistrada disse que a alegação de Blum de que viu Barter pela última vez quando ela foi buscar as caixas de chá à casa dele com um homem de uniforme em junho era “implausível”. E apesar de ter determinado que Barter estava morta, disse que não havia provas que sugerissem como, porquê ou quando é que morreu.

A magistrada explicou que não estava em seu poder atribuir a culpa pela morte de Barter. Mas remeteu o caso para o comissário da polícia de Nova Gales do Sul para que fosse aberta uma investigação por suspeitas de homicídio por resolver. 

Apesar de a equipa legal de Leyden defender que Blum deveria ser referenciado ao diretor do Ministério Público por alegado perjúrio e prestação de falsas declarações durante o inquérito, O’Sullivan disse que o melhor era deixar o caso para a polícia como parte da investigação.

A magistrada foi contundente na sua avaliação à resposta inicial da polícia, que nas suas palavras foi “inadequada” e conduziu a perda de informação que poderia ter determinado muito antes o que aconteceu a Barter. Também elogiou o “empenho inabalável” de Leydon em encontrar a sua mãe.

Sally Leydon abraça uma apoiante à porta do tribunal a 29 de fevereiro, dia em que a magistrada provincial apresentou as conclusões do seu inquérito (Angus Watson/CNN)

Até agora não foram localizados quaisquer restos mortais, mas o ADN de Leydon foi adicionado aos registos estatal e nacional, disse a magistrada.

“Isto significa que o perfil de ADN de Sally [Leydon] ficará nas bases de dados de ADN de Nova Gales do Sul e do país e será pesquisado todos os dias para comparação com [o ADN] de falecidos não identificados, disse O’Sullivan.

O’Sullivan concluiu as suas declarações lendo as palavras de Leydon sobre a mãe, Marion Barter, submetidas pela própria.

“[Ela era] uma alma gentil e carinhosa com uma gargalhada contagiante. Era inteligente, era culta, e tinha tantos amigos que a adoravam e que ainda hoje sentem a sua falta. Era a pessoa que te trazia sempre flores ou um bolo. Era um ser humano muito generoso.”

Leydon saiu do tribunal sem falar com os meios de comunicação locais, mas disse ao canal afiliado da CNN 7 News que a sua busca por respostas não acabou. “Não vai simplesmente parar só porque hoje obtive uma resposta da magistrada”, disse.

Blum estará a viver livremente no norte de Nova Gales do Sul e não enfrentou até agora quaisquer acusações formais relacionadas com Barter ou com qualquer das outras mulheres que apresentaram provas contra ele.

Através do seu advogado, Matthew White, SC, Blum declinou o pedido de comentário feito pela CNN.

Em resposta ao pedido, White escreveu: “Ele e a sua família pedem a todos os media respeito pela sua privacidade.”

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