Multas por ir à casa de banho e 12h de trabalho/dia: os abusos relatados no Qatar

7 abr 2022, 16:09
Construção do Khalifa International Stadium, um dos palcos para o Mundial 2022 no Qatar (Getty Images)

Amnistia Internacional falou com 34 migrantes que trabalham ou trabalharam para oito empresas de segurança no país que acolhe o Mundial 2022, três delas a prestar serviços a competições da FIFA

Dias consecutivos de 12 horas de trabalho sem folgas ou multas por deixar o posto de trabalho para ir à casa de banho são alguns dos abusos sofridos por trabalhadores imigrantes em empresas de segurança no Qatar, alguns deles em projetos relacionados com o Mundial 2022 de futebol, que decorre naquele país, de 21 de novembro a 18 de dezembro.

A denúncia é feita pela Amnistia Internacional (AI) num novo relatório sobre a situação dos direitos laborais dos trabalhadores estrangeiros no Qatar, no qual expõe condições de trabalho «equivalentes ao trabalho forçado», refere a AI, em comunicado, intitulando o relatório de «Eles pensam que somos máquinas».

Entre as 34 entrevistas a migrantes que trabalham ou trabalharam para oito empresas de segurança no Qatar, três das quais a prestar serviços a competições da FIFA, os trabalhadores explicaram como habitualmente tinham que trabalhar em turnos de 12 horas durante os sete dias da semana (total de 84 horas), apesar da lei no Qatar impor um máximo de 60 horas por semana.

Um trabalhador queniano explicou que trabalhou nestas condições, sem ter um único dia de folga durante meses. Já outro, bengali, durante três anos, enquanto um terceiro contou que na sua primeira semana, após 12 horas de trabalho, teve que ir para um curso que era de oito horas por dia.

Se fosse tirado um dia de folga sem autorização, apesar do direito por lei, muitas vezes significava uma penalização económica descontada no salário. O mesmo acontecia se não usassem o uniforme adequadamente ou deixassem o posto de trabalho sem autorização para ir à casa de banho, segundo a AI.

Outros abusos documentados pela AI incluem instalações superlotadas e insalubres, horas de trabalho expostas à luz solar intensa (restrito por lei nos meses mais quentes desde 2017), discriminação de salários ou tarefas com base na raça, não pagamento de horas extra ou impedimento de baixas por doença.

A AI reconheceu que o país que acolhe o Mundial 2022 introduziu importantes reformas na sua legislação laboral para evitar abusos no sistema que abrange os trabalhadores imigrantes no país, mas reiterou que «estas reformas não são implementadas de forma eficaz».

«Apesar do progresso que o Qatar fez nos últimos anos, a nossa pesquisa sugere que os abusos no setor de segurança privada, que será mais procurado durante o Campeonato do Mundo, continuam sistemáticos e estruturais», disse o responsável da organização, Stephen Cockburn, citado no comunicado.

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