Cruijff, de novo um símbolo, agora em luta contra a doença

23 out 2015, 10:28
Johan Cruijff (Reuters)

O maior futebolista holandês de sempre tem cancro do pulmão, agora quando já não se fuma nos bancos, numa luta que ele também ajudou a lançar

«Durante as últimas semanas, Johan Cruijff tem sido submetido a exames médicos num hospital em Barcelona. Durante esses exames foi revelado cancro do pulmão. Os exames continuam em curso.»

O comunicado da sua assessoria informa que, «de momento», «não pode ser prestada mais informação» e que esta será veiculada «quando os exames estiverem concluídos».

A informação revelante está prestada. O tempo de agora é o de avaliar a simbologia de uma notícia destas.

Não é só um dos maiores futebolistas de sempre que tem uma doença de incidência associada ao tabagismo; é um antigo jogador cujos hábitos de fumador eram conhecidos e que deixou de tê-los para lutar publicamente contra eles.



Estava-se nos meados dos anos 1990. Em 1991, Cruijff foi operado ao coração. Deixou de fumar por imposição médica. Passou para a equipa anti-tabagismo um ano e pouco depois.

Naquele anúncio para o Departamento de Saúde e Segurança Social da Catalunha, numa versão utilizada pelo Comité Nacional Contra o Tabagismo de França, o melhor futebolista holandês de sempre passa do que tinha sido para o que quis passar a ser.

«Tive duas paixões na vida: jogar futebol e fumar. O futebol deu-me tudo, mas o tabaco tirou-me quase tudo.»

Por quem era, pela questão médica que tinha estado em causa, pelos chupa-chupas que passou a consumir em vez dos cigarros num banco do Barcelona visto por milhões de telespectadores, Cruijff voltou a marcar uma era no futebol.

Antes, já o tinha feito enquanto jogador: enquanto um dos melhores do seu tempo que se juntava aos melhores de sempre. Já então o tabaco fazia parte da sua imagem. E os relatos não são poupados quanto à quantidade de cigarros...

Eram outros tempos, Eram tempos em que ainda se utilizava a imagem dos jogadores de futebol para promover o tabaco. Como ele o fez também nos finais dos anos 1970.
 



A relação entre o tabaco e o futebol data do início do século XX, com jogadores em maços de cigarros. E foi sobrevivendo ao longo do tempo, mesmo quando o tabagismo já começou a ser medicamente associado ao cancro entre outros problemas de saúde.

Ainda
uma década antes de Cruijff anti-tabagismo, Enzo Bearzot ganhava o título de campeão do mundo com a seleção da Itália em 1982 com o cachimbo na boca. Quatro anos antes dele, Cesar Luis Menotti também o fez perla Argentina e no clube dos fumadores.
 



A consciencialização das consequências para a saúde, essa exposição e a exposição cada vez maior, também, do futebol nos meios audiovisuais levaram a que o desporto rei se fosse afastando do tabaco.

Mas foi só cerca de dez anos depois de
Cruijff que a UEFA proibiu os treinadores de fumarem na área técnica. O organismo que regula o futebol na Europa determinou essa proibição a partir da época 2004/05 – a FIFA demorou mais tempo.

Treinadores como os portugueses Jesualdo Ferreira ou Fernando Santos deixarm de poder fumar durante os jogos, como tantas vezes fizeram e tantos outros tinham feito, como Arsène Wenger, Marcelo Lippi ou Zdenek Zeman, por exemplo. Atualmente, já em alguns países que ninguém pode fumar em estádios de futebol.

Depois de uma relação estreita, a separação entre o futebol e o tabagismo vai-se acentuando, como o mito vivo holandês simbolizou no início dos anos 1990.

Aos 68 anos, Cruijff luta agora contra uma doença com uma taxa de mortalidade muito elevada e cuja incidência devido ao tabagismo é igualmente elevada. A marca deixada por Cruijff há quase 25 anos é por ele mesmo atualizada, agora, na sua luta pela cura.
 

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