Espanhol - o «irmão pobre» de Barcelona

21 nov 2000, 01:30

Conheça melhor o adversário do F.C. Porto na Taça UEFA A imagem de «segundo clube» da capital da Catalunha não esgota a história do adversário dos portistas, que em 1988 passaram perto da glória europeia. Depois, vieram anos de crise, até a chegada de Camacho e a aposta na juventude recolocarem o Espanhol na senda do sucesso.

A página mais cruel da história do Real Club Deportivo Espanhol é a mesma pela qual entrou na história das competições europeias. Aconteceu em Leverkusen em 1988, no antigo estádio do Bayer, onde a equipa catalã jogava a segunda mão da final da Taça UEFA com três golos de vantagem conseguidos no jogo em casa. 

Numa segunda parte inacreditável, a equipa espanhola, então treinada por Javier Clemente, que depois seria seleccionador nacional, sofreu três golos, aguentou o tempo suplementar e finalmente caiu nas grandes penalidades. Foi um tristíssimo fim para uma equipa que tinha eliminado naquela época clubes como o Inter, o Milan ou o Bruges. 

Até ao maior insucesso da sua história, o Espanhol era um clube importante no futebol espanhol, mas que não tinha conseguido muitos títulos, apenas duas Taças do Rei. O Espanhol leva consigo a imagem de ser o irmão pobre da cidade, a segunda equipa de Barcelona, com menos adeptos, atenção e sucesso do que os vizinhos do Barcelona. Um clube que, além disso, tinha um significado muito especial numa comunidade onde o nacionalismo é muito importante. 

O segundo clube dos adeptos «merengues» 

Se o Barcelona era a equipa da burguesia e do tradicionalismo catalão, o Espanhol, como o seu próprio nome indica, é a equipa dos emigrantes... e dos numerosos adeptos madridistas da Catalunha, especialmente das cidades industriais junto da capital da região. As relações entre os adeptos de Espanhol e Real Madrid são óptimas, especialmente as dos grupos radicais, que muitas vezes se deslocam juntas aos dois estádios, e no Santiago Bernabeu, os golos da equipa de Barcelona são aplaudidos. 

Ainda assim, o clube tentou na década de noventa conseguir uma maior integração na sociedade catalã. Mudou o nome, escrito sempre em castelhano ¿ Español - para a escrita catalã ¿ Espanyol- e até o hino da equipa passou a ser cantado em catalão. 

Mas o Espanyol sofreu muitos problemas depois daquela famosa final da Taça da UEFA. A equipa desceu duas vezes à Segunda Divisão e começaram os grandes problemas económicos que põem em perigo o futuro da entidade. O antigo estádio Sarriá, palco de grandes momentos do futebol mundial em 1982, foi demolido e os terrenos vendidos para construir prédios, numa operação que visava solucionar a dívida do clube. Mas não foi assim, e os cerca de 10 milhões de contos que o clube obteve pela operação apenas serviram para manter a tranquilidade durante um par de épocas. 

O clube mudou de estádio e foi jogar para o Olímpico de Montjuic. Os problemas começaram muito cedo, pois os escassos adeptos que assitiam aos jogos no Sarriá não conseguiam ocupar nem metade das cadeiras do novo espaço. 

Camacho acabou com a crise 

No plano desportivo, a recuperação da equipa começou na segunda metade dos anos noventa, especialmente com a chegada do actual seleccionador nacional, José António Camacho. A equipa voltou à Taça UEFA e viu chegarem jogadores como o argentino Esnáider. 

Camacho não foi o único treinador a fazer um bom trabalho na equipa de Barcelona. O argentino Miguel Angel Brindisi chegou há três temporadas e trabalhou espectacularmente com as equipas base de um clube que não podia fazer grandes contratações. Apareceram assim muitos jovens jogadores como Capdevila, Sérgio, De Lucas, Nan Ribera, Soldevila e especilamente o avançado Tamudo. O único que saiu foi o lateral Capdevila, que há duas épocas foi para o Atlético de Madrid e agora joga no Deportivo Corunha. Mas este não foi o único jogador a suscitar o interesse das grandes equipas da Europa. O médio Sérgio foi pretendido pelo futebol italiano, e técnicos do Real Madrid estão a seguir o defesa Soldevila.  

Os jovens como prioridade 

Depois de um mau começo na época passada, Brindisi foi substituído por um técnico das equipas base, Paco Flores, que manteve a política de confiança nos jovens e conseguiu o primeiro título do clube num período de 60 anos. O Espanhol conquistou a Taça do Rei no ano passado, em Valência, perante o Atlético de Madrid. Tamudo abriu o caminho para a vitória com um golo que já passou à história do futebol espanhol.

Nesta época, os problemas económicos aumentaram. A equipa tem mais de 5.500 milhões de pesetas em dívida (mais de 6 milhões de contos), e até os jogadores tiveram problemas para receber os seus ordenados.  

A solução era a venda de jogadores e o Glasgow Rangers ofereceu 3.000 milhões de pesetas pelo avançado Tamudo, que conseguira a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Sydney. Tudo parecia resolvido, e o jogador já tinha viajado à Escócia, quando os médicos do clube britânico desaconselharam a sua contratação e os problemas económicos voltaram ao clube junto com o seu melhor jogador. 

O Porto vai defrontar uma boa equipa, com jogadores jovens e de muita qualidade, como Sérgio ou o próprio Tamudo, estrangeiros com experiência, como o defesa argentino Pochettino e o médio romeno Galca, e os descartados do principal rival como os irmãos García, Óscar e Roger, e Toni Velamazán. Uma boa equipa que quer voltar a ser conhecida na Europa e que não vai facilitar a vida ao Porto.

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