Espanholas rejeitam convocatória, Governo avisa: «Se não vão, aplicamos a lei»

18 set 2023, 23:44
A Espanha eliminou os Países Baixos do Mundial femino (AP Photo/Alessandra Tarantino)

Lista anunciada por Montse Tomé conta com 20 das 39 contestatárias e 15 campeãs do mundo. Presidente do Conselho Superior do Desporto já reagiu e lembra possíveis castigos pesados

As internacionais espanholas que exigiram, na sexta-feira, mais mudanças para voltar a representar o país, reafirmaram esta segunda-feira a recusa e a indisponibilidade para regressarem, na sequência da convocatória da nova selecionadora, Montse Tomé, para os duelos da Liga das Nações feminina ante Suécia e Suíça.

«As jogadoras da seleção principal feminina de futebol querem manifestar, a propósito da convocatória e a posterior conferência de imprensa da nova selecionadora nacional, Montse Tomé, o seguinte: o expresso no nosso comunicado de 15 de setembro de 2023 deixa claro e sem qualquer outra opção, a nossa firme vontade de não sermos convocadas pelos motivos explicados. Essas afirmações continuam plenamente em vigor», referem inicialmente as futebolistas espanholas

A lista de Montse Tomé conta com 15 campeãs do mundo e com um total de 20 das 39 jogadoras contestatárias do comunicado de sexta-feira, sendo que as atletas estão convocadas para se apresentarem ao serviço a partir das 11h30 desta terça-feira (10h30 em Portugal Continental) na Cidade do Futebol de Las Rozas, Madrid.

Na mesma nota desta segunda-feira, as atletas espanholas garantem «que nada de diferente se transmitiu a nenhum integrante da RFEF [Real Federação Espanhola de Futebol]» depois do anúncio da última sexta-feira e colocam em cima da mesa as «possíveis consequências jurídicas» a que ficam expostas pela convocatória.

«Nós, como jogadoras profissionais de elite e depois de tudo o que aconteceu no dia de hoje [ndr: segunda-feira] vamos estudar as possíveis consequências jurídicas a que a RFEF nos expõe ao colocar-nos numa lista para a qual pedimos para não ser chamadas por razões já explicadas publicamente e com mais detalhe à RFEF e, com isso, tomar a melhor decisão para o nosso futuro e para a nossa saúde», assinalam.

Parece-nos relevante salientar, neste sentido, que a convocatória não se realizou no tempo e na forma, em conformidade com o artigo 3.2 do Anexo I do Regulamento do Estatuto e Transferência de Jogadores da FIFA, pelo que entendemos que a RFEF não se encontra em posição de exigir a nossa presença. Lamentamos, mais uma vez, que a nossa Federação nos coloque numa situação que nunca desejámos», finalizam.

«Se as jogadoras não vão, o Governo vai aplicar a lei»

Na sequência da posição anunciada pelas atletas que mantêm a recusa em ir à seleção, o presidente do Conselho Superior do Desporto (CSD) de Espanha, Víctor Francos, deixou claro esta noite que o Governo vai aplicar a lei caso as atletas que constam na lista de Montse Tomé não se apresentem à chamada.

«Se não se apresentarem, o Governo vai fazer o que tem a fazer, que é aplicar a lei, para minha vergonha e infortúnio. Mas a lei é a lei. Porém, confio que possa haver uma solução», referiu Francos, em declarações ao programa El Larguero, da Cadena SER.

Na sua declaração, Francos alude à Lei do Desporto (em específico ao artigo 65.º do Código de Disciplina da RFEF), sendo que os castigos por não se comparecer numa convocatória da seleção vão dos 3 mil aos 30 mil euros, mas também possível suspensão da licença federativa ou habilitação equivalente entre dois e 15 anos e também proibição de acesso aos estádios ou locais que são palco das competições por um período até cinco anos.

Nesse sentido, Francos mostrou disponibilidade para falar com as capitãs da seleção espanhola na manhã desta terça-feira, altura em que as jogadoras devem comparecer para o início dos trabalhos.

«Estamos fortemente a favor das jogadoras da seleção. Esta terça-feira vou ligar logo pela manhã e vamos falar com elas. O Governo tem obrigação de fazê-lo. Nós temos a obrigação de dar a cara e tentar resolver o problema. Vamos dizer às jogadoras que o compromisso do Governo é com todas as consequências posteriores. Vamos fazer o que for necessário para regularizar a situação da RFEF, mas pedimos que vão a estes jogos. Queremos que sejam campeãs olímpicas. Queremos que ganhem. Ajudamos e acompanhamos a fazer as mudanças e, em paralelo, pedimos um compromisso. Vou tentar falar com as capitãs. Se não quiserem falar, vou respeitar. Eu nunca falei com nenhuma delas, tenho a sensação de que querem falar», referiu Francos, criticando, por outro lado, o comportamento da RFEF.

«Com ameaças e intimidações não se vai a lado nenhum. Habituámo-nos a comentários como: “Já sabes o que é que enfrentas” e isto não é do nosso agrado. Preocupa-nos o espetáculo que estamos a dar. Falei com o Pedro Rocha [ndr: presidente da RFEF] esta segunda-feira e disse-me que estavam a negociar, que provavelmente lançariam uma convocatória em que não iam contar com elas, mas não deu mais detalhes. Depois, a notícia que tenho é uma convocatória na qual consta quem não quer ir. Estou há uma semana a perguntar à RFEF o que é que se passa e como isto está. O resumo é devastador. Tem de haver mudanças estruturais. À frente da RFEF continuam pessoas que mandavam quando se passou o que se passou. A Federação prometeu coisas que não se cumpriram», alertou.

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