Entre as promessas que brilham na Indonésia sobressaiu o 10 da Argentina, o miúdo que se mudou para o River Plate aos nove anos, deu nas vistas em Itália aos 11 e está há muito no radar dos grandes da Europa.
Claudio Echeverri terminou em lágrimas a meia-final do Mundial sub-17 que a Argentina perdeu nos penaltis para a Alemanha, mas depois também disse que não tem dúvidas de que o futebol dará desforra a uma geração promissora, iluminada pelo seu talento. O Diablito confirmou na Indonésia que é um dos grandes nomes para o futuro, alimentando de caminho as comparações com Messi.
Esse é um peso de que o jovem médio ofensivo não precisa, mas a comparação é inevitável quando ele faz, com o número 10 nas costas e usando a braçadeira de capitão, o que fez frente ao Brasil nos quartos de final do Mundial. Um hat-trick que terminou com este golo. Tirado a papel químico de outro que Messi apontou num… hat-trick ao Brasil.
Lionel Messi vs. Brazil 🤝 Claudio Echeverri vs. Brazilpic.twitter.com/c63H3Tbr0f
— Roy Nemer (@RoyNemer) November 24, 2023
Foi a primeira vez desde esse particular em 2012, uma vitória da Argentina por 4-3, que um jogador argentino marcou três golos ao Brasil. E Claudio Echeverri foi o primeiro a fazê-lo num jogo oficial.
Já conviveu de perto com Messi e com a seleção principal. Em março, foi chamado por Lionel Scaloni para participar num treino com os campeões do mundo. E no fim ouviu elogios de Di María. «Esteve bastante intenso, estivemos a vê-lo. Tem muito para dar», disse o extremo do Benfica.
¡UN DIABLITO DE SELECCIÓN! Claudio Echeverri, jugador de la Selección Sub-17 y de River, se sumó a la práctica junto a los Campeones del Mundo.
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— SportsCenter (@SC_ESPN) March 21, 2023
«Se a minha mãe não vier, volto para Chaco»
Está lançado o miúdo que nasceu em 2006 em Resistencia, na província de Chaco, e que já aos 11 anos tinha rótulo de craque. Ainda antes, na verdade, quando seduziu à primeira vista os olheiros do River que o foram observar no seu clube de infância, o Deportivo Luján. Hincha do River, Claudio só pôs uma condição.
«Estávamos em frente do Monumental e o Echeverri disse-me: ‘Sou adepto do River e amo isto, mas se a minha mãe não vier para cá, volto para Chaco’», contou Daniel Brizuela, o olheiro que o descobriu, à TyC Sports. «Disse-lhe que íamos fazer todos os possíveis para que isso acontecesse, mas era difícil instalar um miúdo de nove anos num apartamento, com a família.»
Mas os Millonarios não deixaram fugir a oportunidade e, com a intervenção do presidente e do então treinador Marcelo Gallardo, conseguiram juntar mesmo em Buenos Aires os pais e o irmão mais novo de Echeverri.
Quatro golos à Juventus aos 11 anos
Claudio começou rapidamente a justificar as expectativas e aos 11 anos teve o seu primeiro momento de fama, quando brilhou em Itália, num torneio internacional em que marcou quatro golos num jogo à Juventus – o Venice Champions Trophy, onde esteve também o Benfica, finalista vencido frente ao Atlético Madrid.
É dessa altura esta entrevista em que o Diablito Echeverri, alcunha inspirada no boliviano Etcheverry, a quem chamavam Diablo, revela que o seu ídolo é Messi, pois claro, e responde tímido quando lhe perguntam se joga como ele. «Alguma coisa…»
—¿Por qué jugás a la pelota, Claudio?
— Roberto Parrottino (@rparrottino) November 24, 2023
—Porque me gusta, por diversión.
—Los chaqueños hablan del “ídolo”. ¿Sabés el significado de la palabra?
—Sí.
—¿Quién es tu ídolo?
—Y Messi…
—¿Jugás parecido?
—Y algo…
Claudio "Diablito" Echeverri. pic.twitter.com/s1gi3PScTx
As coisas «em que se parece com Messi»
Há coisas de Messi em Echeverri e estão lá desde cedo, como recorda Pablo Fernández, que o orientou ainda nos iniciados do River e mais tarde nas reservas dos Millonarios. «Tem muita inteligência para entender o futebol, o jogo», disse o técnico ao Infobae: «Essa é uma das coisas em que se parece com Messi. Está sempre à procura da posição. Se contares quantas vezes por minuto analisa o terreno de jogo para ver a localização da bola, dos rivais e dos companheiros, vais-te surpreender. Sempre que a recebe está sozinho. Isso é um mérito muito grande, somado à habilidade.»
As comparações de estilo e talento, da leitura de jogo às fintas e aos passes decisivos, não se resumem a Messi e quem o acompanha desde cedo encontra também semelhanças em referências do River, como Ariel Ortega, o próprio Marcelo Gallardo ou Pablo Aimar, que aliás também o treinou na seleção sub-17. Para o menino Echeverri, há outra referência - ele cresceu a ver e a admirar Juan Quintero, ex-jogador do FC Porto e ídolo dos Millonarios.
O Diablito é também uma combinação rara de talento e maturidade precoce. «Uma chave é a personalidade dele. É muito humilde, trabalhador. É um miúdo muito educado», diz Pablo Fernández, dando como exemplo também a resistência mental que revelou quando sofreu no ano passado uma fratura numa vértebra lombar que o afastou vários meses dos relvados: «Teve uma lesão grave e nunca o vimos em baixo, nem fica muito eufórico quando se lhe diz que é um fenómeno. É muito focado.»
Do hat-trick ao Brasil às lágrimas com a Alemanha
Há muito que Echeverri não é segredo. Está no radar de muitos dos grandes da Europa e o River procurou blindá-lo em janeiro deste ano. No dia em que cumpriu 17 anos assinou o primeiro contrato profissional e ficou com uma cláusula de rescisão de 25 milhões de euros. O clube procura agora prolongar o vínculo, válido até final de 2024.
Em abril deste ano, Claudio brilhou no torneio sul-americano de sub-17 e selou a caminhada da Argentina até ao segundo lugar com cinco golos. O Mundial da Indonésia foi o palco que se seguiu e Echeverri liderou a caminhada da Argentina, culminando com o seu momento para a história no jogo grande dos quartos de final, frente a um Brasil também recheado de talento, o campeão sul-americano em título. Com esse hat-trick, passou a somar cinco golos no Mundial.
Na meia-final com a Alemanha, ainda encontrou alma para empurrar a decisão para os penáltis. Já nos descontos, foi dele o passe para Agustín Roberto completar um hat-trick – outro produto da formação do River, o ponta de lança é outra promessa confirmada na Indonésia, com oito golos marcados na Indonésia.
Echeverri não conseguiu converter o seu penálti, o guarda-redes Heide adivinhou o lado do remate. É a Alemanha que discutirá o título com a França, à Argentina resta o jogo pelo terceiro lugar frente ao Mali, no sábado. No relvado, Echeverri não segurou as lágrimas. Depois, deixou uma mensagem de capitão nas redes sociais.
Entre a afirmação no River e a cobiça dos tubarões
Agora volta ao River Plate, ele que foi lançado em junho na equipa principal, mas conta apenas quatro aparições pelos Millonarios, sempre a sair do banco e com poucos minutos em campo. É grande a pressão dos adeptos sobre Martin Demichelis, o sucessor de Gallardo no banco, para que tenha mais tempo de jogo.
O treinador diz que ele precisou de tempo de adaptação. «Quando cheguei ao River sabia que Echeverri era o diamante em bruto a potenciar. Gostamos dele, gosta muito do clube e vamos desfrutar dele», afirma Demichelis: «Ninguém discute o talento técnico que tem o Claudio e a inteligência para resolver em diferentes circunstâncias. Mas custou-lhe muito ao início do ponto de vista físico. Com a convivência com os líderes que temos no balneário e o treino intenso, posso assegurar que melhorou muito no aspeto físico e técnico.»
Com a atual temporada prestes a terminar, é na próxima época que se focam já as expectativas em relação a Echeverri. Resta saber por quanto tempo o River conseguirá manter a sua joia.