João Cotrim defende que se estão a registar deficiências graves no funcionamento de hospitais e de centros de saúde
A Iniciativa Liberal considerou esta quarta-feira que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) está em colapso e criticou os preconceitos ideológicos da esquerda, com o PS a contrapor que está em curso uma reorganização do setor.
Estas posições foram transmitidas no período do plenário da Assembleia da República dedicado às declarações políticas das diferentes bancadas, na sequência de uma intervenção do ex-líder da Iniciativa Liberal João Cotrim de Figueiredo.
Uma intervenção em que o deputado destacou os objetivos do projeto liberal intitulado “SUA Saúde”, que estará em debate na sexta-feira e que motivou duras respostas por parte do Bloco de Esquerda e do PCP, assim como um tenso debate com o deputado do Livre, Rui Tavares.
João Cotrim de Figueiredo apontou casos em que disse estarem a registar-se deficiências graves no funcionamento de hospitais ou de centros de saúde, falou na multiplicação de greves, num “desalinhamento” ao nível da concessão de incentivos e nos atuais “altíssimos índices de procura da medicina privada", concluindo que “o SNS está em colapso”.
Do ponto de vista político, o ex-presidente da Iniciativa Liberal acusou o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, de “esconder a cabeça na areia” e a esquerda “de se ter tornado altamente preconceituosa”, contrapondo que Portugal precisa de um sistema com mais concorrência e maior liberdade de escolha por parte dos cidadãos, sem que paguem mais impostos ou taxas moderadoras.
O diagnóstico de João Cotrim de Figueiredo foi depois partilhado pelo deputado do Chega Diogo Pacheco Amorim e pelo vice-presidente da bancada social-democrata Miguel Santos, que acusou o Governo de estar a “desmantelar” o SNS e de haver já 3,5 milhões de portugueses com seguros de saúde.
Pela parte do PS, Jorge Seguro Sanches defendeu a importância de haver uma discussão construtiva sobre saúde, sustentando que o SNS é uma importante forma de combater as desigualdades, e considerou que a atual equipa de Manuel Pizarro está “empenhada”, tendo em curso uma reorganização de serviços, designadamente com uma maior interligação dos cuidados primários.
Na sua intervenção, Jorge Sanches Seguro recusou uma discussão simplista baseada em ideias de que o público é 100% bom ou é 100% mau, contrapondo com a necessidade de se encontrarem e reforçarem parcerias.
Mais tenso foi o debate com o Bloco de Esquerda, com Isabel Pires a afirmar que a bancada liberal devia antes agradecer ao Governo do PS pelo que está a fazer contra o SNS e em benefício dos privados.
“O PS toca a cassete da Iniciativa Liberal. Por isso, a IL devia homenagear o PS” disse, com Cotrim de Figueiredo a responder da seguinte forma: “Ou não leu o projeto da IL, ou é desonestidade intelectual”.
A seguir, Rui Tavares falou para criticar este estilo de respostas do ex-líder da Iniciativa Liberal.
“Pelos vistos, quem critica a IL ou não leu ou é intelectualmente desonesto. Essa é uma visão muito pouco liberal, porque é contrária ao pluralismo. A IL quer um salto de fé na saúde, pondo as pessoas a experimentar o incerto, mas isso não é científico”, observou.
Na resposta, Cotrim de Figueiredo recusou a forma como Rui Tavares interpretou a sua referência à desonestidade intelectual e disse ter identificado “uma irritante superioridade intelectual” no deputado único do Livre.
Pela parte do PCP, João Dias leu algumas passagens do projeto da IL, destacando o princípio de que “o Estado deve assegurar um mercado de soluções”, assim como a ideia de que os subsistemas privados passam a ser prestadores em igualdade com o SNS.
“O objetivo da IL é ter um SNS degradado e para quem não tem dinheiro. Preconceitos ideológicos são aqueles que pretendem concluir que a gestão privada é melhor do que a do Estado e os que subprestadores de cuidados são melhores do que o SNS”, acrescentou João Dias.