Após a demissão de cinco chefes de equipa da urgência de Obstetrícia e Ginecologia do centro hospitalar de Santa Maria, a Ordem tenta "estabelecer uma ponte entre os médicos que estão exaustos, com um Conselho de Administração que me apareceu muito aberto a querer ouvir os médicos e tentar encontrar um consenso”
A Ordem dos Médicos (OM) apelou esta segunda-feira ao diálogo entre os médicos do serviço de ginecologia e obstetrícia e a administração do Hospital Santa Maria, para assegurar o plano de contingência de verão.
“Fiz um apelo para que haja conversações com o Conselho de Administração e que o Conselho de Administração ouça os médicos”, afirmou à agência Lusa o tesoureiro do Conselho Regional Sul da Ordem dos Médicos (OM), Luís Campos Pinheiro, no final de uma reunião com os médicos do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina de Reprodução do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), que integra o Hospital Santa Maria, na sequência da demissão dos responsáveis das urgências.
"O papel da OM foi o de estabelecer uma ponte entre os médicos que estão exaustos, e que qualquer pequeno problema atua como uma faísca, com um Conselho de Administração que me apareceu muito aberto a querer ouvir os médicos e tentar encontrar um consenso”, disse o médico, comentando que saiu satisfeito da reunião, que aconteceu depois de na sexta-feira cinco chefes de equipa da urgência de Obstetrícia e Ginecologia do centro hospitalar terem apresentado a demissão na sequência do encerramento do serviço devido às obras de beneficiação da nova maternidade do Hospital Santa Maria.
Luís Campos Pinheiro, que foi acompanhado por Sandra Carmo, secretária do Conselho Regional do Sul, adiantou que antes de se reunirem com os médicos, tiveram uma reunião com o Conselho de Administração, liderado por Ana Paula Martins, que “foi muito clarificadora” do projeto de remodelação e das obras.
“Foi feita uma exposição [do projeto] e um pedido para que transmitíssemos aos médicos que estavam abertos ao diálogo e a encontrar uma solução para conseguir passar estes meses que vêm, com o plano contingência do verão, e também porque as obras implicam esse plano de contingência”, adiantou.
Segundo o responsável, o conselho de administração também pediu à OM que clarificasse “três pontos” junto dos médicos, nomeadamente que “não haverá alteração do pagamento das horas extraordinárias, não haverá alteração ao plano de férias e que apenas irão passar para o Hospital São Francisco Xavier os médicos que assim o entenderem, de uma forma voluntária”, o que foi feito durante a reunião com os clínicos.
Questionado sobre se viu abertura por parte dos médicos para dialogar com o Conselho de Administração depois de ter explanado estes três pontos, disse que notou “uma pequena divisão” entre os profissionais de saúde, sendo que “há um grupo que está um bocadinho mais aberto ao diálogo e a conseguir estabelecer de uma forma construtiva um plano para aguentar os meses de verão”.
“Mas há efetivamente alguns resistentes que durante a reunião mantinham a dúvida se os tais três pontos que referi se eram mesmo válidos ou não”, contou.
Durante a reunião, houve ainda por parte dos médicos “uma crítica a como todo o processo tem decorrido”, disse, sustentando que “o objetivo da Ordem dos Médicos foi o de acalmar os ânimos e apelar para que haja bom senso e que haja discussão e intervenção no plano de obras e de contingência que os médicos que têm criticado não estarem a ser ouvidos, mas que neste momento, aparentemente pelo menos há uma possibilidade de o fazerem”.
Luís Campos Pinheiro adiantou que a especialidade de obstetrícia é “uma especialidade muito fustigada pelas urgências e pelos planos de contingência sucessivos” desde a pandemia e, portanto, os profissionais “estão exaustos”, mas, vincou, “achei que era um grupo de profissionais muito focado no tratamento das suas grávidas e, portanto, fiquei com uma sensação de que se vai conseguir chegar a um consenso e a uma estratégia construtiva”.