Foi 'scout' do Benfica e é um nome grande no hip hop nacional

3 fev 2021, 09:48
Frank Moreira (arquivo pessoal)

Frank Moreira faz carreira no mundo da música e mantém a ligação ao futebol através das transmissões televisivas. «Mostro os replays que tiver de mostrar contra o meu clube.»

30 de julho de 2007, o Maisfutebol bate à porta de Francisco Moreira, o scout mais jovem do futebol português. Tem 14 anos, trabalha para o Benfica e sonha ser arquiteto. Gaba-se de ter uma base de dados com mais de três mil atletas analisados, vê três/quatro jogos por fim-de-semana e tem na ponta da língua a sua equipa-ideal da Liga 2006/07.

«Helton (F.C. Porto) na baliza, Abel (Sporting), Luisão (Benfica), Pepe (F.C. Porto) e Léo (Benfica) na defesa. Petit (Benfica) e Anderson (F.C. Porto) como médios-centro, Quaresma e Simão nas alas. Na frente, Miccoli (Benfica) e Liedson (Sporting)».

E o que é feito de Francisco, 13 anos e meio depois? A vida muda, surpreende e Francisco é Frank Moreira, nome grande no hip hop nacional. Licenciou-se em Cinema, Televisão e Áudio na Universidade Católica, continua apaixonado por futebol, trabalha nas transmissões de jogos e fala com a segurança que já revelava em 2007.

«Fui o scout mais jovem do país. Um cargo dessa intensidade e responsabilidade não era de fácil compatibilização com as exigências próprias de um adolescente. Com muita boa vontade fui continuando na área até ser forçado a deixar isso de lado», explica ao Maisfutebol neste reencontro, mais de uma década depois. E o hip hop, como entra nesta história?

VÍDEO: ‘Quarto’ (o ultimo single de Frank Moreira)

«Tive a oportunidade de entrar no mundo da música. Não só pelo lado técnico, mas também como artista, como autor. A minha formação estava virada para audiovisuais – vídeo e música – e quando terminei o curso já tinha algum sucesso no hip hop nacional.»

Aos 17 anos, Francisco desiste das manhãs à chuva a ver jogos das camadas jovens, muitas vezes em bancadas desertas e em campos sem as mínimas condições. O som do alarme despertador torna-se insuportável e a liberdade que a música lhe sugere é um apelo irresistível.

Francisco no 'making of' do último vídeoclipe (arquivo pessoal)

«A música cresceu mais do que eu estava à espera. Sempre tive duas paixões, o futebol e a música, mas olhava para elas como um amador, um leigo. Não tinha formação específica. Tinha alguns amigos que já estavam no mundo do hip hop e comecei a acompanhá-los em alguns concertos, até que lancei a minha primeira música no youtube», explica Francisco, ou Frank.

«A minha formação permitiu-me fazer logo um acompanhamento videográfico em cada música, e sempre com investimentos quase simbólicos», confidencia o ex-scout do Benfica na zona norte. «Tive essa diferenciação: era amador e lançava vídeos com uma qualidade profissional. O bicho da música passou a ser quase uma empresa. Consegui ter estabilidade financeira com a música.»

VÍDEO: ‘O Som que Tu Não Gostas’ (uma das primeiras músicas)

Apesar disso, Francisco/Frank Moreira não vive da música. Como a vida tem razões que a própria razão desconhece, o futebol voltou a cercá-lo e o artista de hip hop rendeu-se.

«Nunca deixei de gostar de futebol, apenas me cansei dele durante uns anos. Fiz boas amizades quando era scout do Benfica – o Fábio Cardoso (Santa Clara), por exemplo – e anos mais tarde a minha formação de vídeo/televisão permitiu-me entrar nas transmissões em direto dos jogos de futebol», acrescenta Francisco Moreira.

Enquanto freelancer, o jovem de Vila Nova de Gaia colabora com vários canais de televisão e segue nos carros de exteriores as transmissões dos jogos. «Fui fazer a final da Liga Europa ao Azerbaijão, Arsenal-Chelsea. O futebol anda atrás de mim, e ainda bem. É uma área que me fascina.»

Francisco na final da Liga Europa, em Baku (arquivo pessoal)

«Adoro fazer isto. Entro no jogo, vivo-o de forma intensa e os 90 minutos passam a correr», continua o antigo responsável pela observação de atletas. «Vejo o jogo de uma forma que mais ninguém vê. Há 12 câmaras ao nosso dispor, temos detalhes incríveis que, normalmente, não chegam a quem está em casa. É tudo numa dimensão muito maior.»

Música, futebol, televisão, a vida de Francisco volta a girar em redor destes três pontos. E para quando uma música de hip hop da sua autoria sobre futebol? Não vale a pena criar falsas expetativas, adverte. Há um motivo forte para isso.

«Nunca escrevi sobre futebol nas minhas músicas porque sou benfiquista assumido e não quero misturar as coisas», explica, lembrando essa outra paixão antiga, desde o berço.

«Tenho de ser imparcial nas transmissões televisivas e não é o meu clube que me paga. Mostro os replays que tiver de mostrar contra o Benfica. Sou o responsável por essa parte, esclareço os lances e escolho as jogadas que considero mais relevantes.»

Acabamos em 2021 como acabámos em 2007. Francisco Moreira escolheu a equipa ideal da Liga, Frank Moreira escolhe a equipa ideial da Liga. Espírito de scout.

«Vlachodimos (Benfica); Ricardo Esgaio (Sp. Braga), Pepe (FC Porto), Fábio Cardoso (Santa Clara) e Grimaldo (Benfica); Corona (FC Porto), João Neto (Famalicão), Pizzi (Benfica) e Nuno Tavares (Benfica); Darwin Nuñez (Benfica) e Pedro Gonçalves (Sporting).»

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