Organização das Migrações alerta para agravamento da situação humanitária no Haiti

Agência Lusa , PF
4 abr, 18:51
Bandeira do Haiti (AP)

“Apesar do agravamento da situação de segurança, 13 mil migrantes foram devolvidos à força ao Haiti pelos países vizinhos em março, 46% mais do que no mês anterior”, aponta a OIM, mencionando a dificuldade na obtenção de um passaporte, que pode demorar meses ou até um ano

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) alertou hoje para o agravamento da situação humanitária e de segurança no Haiti, em resultado da vaga de violência sem precedentes que abala o país desde fevereiro.

Em comunicado, a organização afirma que “está a soar o alarme sobre o agravamento da situação humanitária e a crise de segurança”, que levou à deterioração do acesso à alimentação e em deslocações da população.

O chefe da OIM no Haiti, Philippe Branchat, assinala no comunicado que, devido à violência, a prestação de assistência a uma população em desespero e com necessidades básicas é “uma tarefa cada vez mais difícil”, em comparação com o apoio dado no seguimento dos terramotos catastróficos em 2010, que provocaram dezenas de milhares de mortos e devastaram o país.

“O pessoal humanitário, incluindo o nosso, enfrenta desafios de segurança sem paralelo, equilibrando o imperativo de ajudar os outros com a dura realidade do risco pessoal”, lamentou.

A atual crise, segundo a OIM, estende-se além dos limites da capital Port-au-Prince, afetando comunidades em todo o país e deixando mais de 360.000 pessoas deslocadas, das quais quase um terço vive em “condições deploráveis”.

A OIM também aponta uma economia em dificuldades e refere que a sua equipa psicossocial “encontrou casos de tendências suicidas que já foram um tema tabu, mas que agora estão a tornar-se mais comummente divulgadas, especialmente entre as populações deslocadas”.

A falta de oportunidades económicas, aliada a um sistema de saúde em colapso e ao encerramento de escolas, “lança uma sombra de desespero, levando muitos a considerar a migração como o seu único recurso viável”, alerta a organização, frisando que a maioria só o conseguirá fazer de forma irregular.

“Apesar do agravamento da situação de segurança, 13 mil migrantes foram devolvidos à força ao Haiti pelos países vizinhos em março, 46% mais do que no mês anterior”, aponta a OIM, mencionando a dificuldade na obtenção de um passaporte, que pode demorar meses ou até um ano.

No comunicado, a OIM elenca o apoio que tem prestado à população, levando mais de 1,5 milhões de litros de água a locais que acolhem pessoas deslocadas, bem como utensílios domésticos básicos.

“A resposta humanitária da OIM incluiu a prestação de assistência com serviços médicos básicos, apoio psicossocial no local com aconselhamento em grupo e sessões individuais de psicoterapia. Uma linha direta gratuita também está disponível para deslocados internos necessitados ou que desejam levantar questões”, segundo a organização, que está a recolher igualmente informação sobre o movimento da população para avaliar as necessidades dos mais vulneráveis.

O país tem sido devastado durante décadas pela pobreza, desastres naturais, instabilidade política e violência de gangues.

Desde finais de fevereiro, poderosos gangues do Haiti uniram esforços para atacar esquadras de polícia, prisões, o aeroporto e o porto marítimo, mergulhando o país no caos e forçando a saída do primeiro-ministro, Ariel Henry, que renunciou em 11 de março para dar lugar a um conselho de transição.

Mais de três semanas depois, a formação do conselho ainda não foi concluída, devido a divergências entre os partidos políticos e outras partes interessadas que deveriam nomear o próximo primeiro-ministro e dúvidas sobre a própria legalidade de tal organismo.

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