Quem é Aleksey Kuzmenkov, o substituto do "carniceiro de Mariupol" - e o que revela a sua escolha

3 mai 2023, 13:13
Aleksey Kuzmenkov, chefe de logística das forças russas (Foto Mil.ru via Wikicommons)

Mikhail Mizintsev, conhecido como o "carniceiro de Mariupol", foi destituído ao fim de oito meses à frente da logística das Forças Armadas de Moscovo. Problemas de aprovisionamento das tropas terão levado à sua substituição por Aleksey Kuzmenkov, elogiado pela prestação na mobilização das forças de Moscovo para a Síria em 2015

Foi no domingo que o Ministério da Defesa da Rússia anunciou a substituição de Mikhail Mizintsev, o principal responsável pela logística das Forças Armadas da Rússia. Era vice-ministro da Defesa e conhecido como "o carniceiro de Mariupol", alcunha ganha entre os funcionários ocidentais devido à brutalidade com que dirigiu o cerco à cidade portuária ucraniana. 

Mizintsev foi destituído sem serem apresentadas razões para a exoneração e, para o seu lugar, foi nomeado Aleksey Kuzmenkov, coronel-geral que já ocupou vários cargos de liderança nas Forças Armadas russas. Até agora vice-chefe da Guarda Nacional, Kuzmenkov nasceu em Donetsk, na região ucraniana agora ocupada pelos russos, e tem ampla experiência de bastidores.

A sua nomeação procura, aparentemente, resolver um dos maiores problemas do exército de Moscovo: a falha no abastecimento de munições, que o próprio Putin já reconheceu e da qual tem dado vários vezes conhecimento, de forma pública e até indignada, o líder do Grupo Wagner, cuja milícia está na dianteira pelo combate da cidade de Bakhmut.

Prova de que a logística militar russa - durante a invasão da Ucrânia - não é uma adversidade nova é o facto de que Mizintsev, agora demitido depois de oito meses no cargo, já ter vindo substituir, em setembro do ano passado, Dmitry Bulgakov. O chefe histórico da logística das forças russas foi demitido então já devido aos problemas de aprovisionamento em solo ucraniano.

Segundo o El País, alguns meios de comunicação próximos do Kremlin indicaram mesmo que as dificuldades com o aprovisionamento das forças russas estiveram efetivamente na origem da substituição algo surpreendente de Mizintsev e na nomeação de Kuzmenkov para chefe da logística militar russa. Até porque Kuzmenkov tem provas dadas: os meios russos elogiaram a sua participação no plano para fornecer rapidamente armamento e meios a todas as unidades russas mobilizadas para a guerra da Síria em 2015.

O novo chefe de logística de Moscovo formou-se na Escola Superior Militar de Logística de Volsk em 1992, de acordo com as autoridades russas e, ao longo dos anos, Kuzmenkov serviu nas Forças Armadas da Rússia como chefe do quartel-general de logística, como comandante de logística no Distrito Militar do Sul e como diretor-adjunto da Guarda Nacional Russa, cargo para o qual foi nomeado em 2019.

A Guarda Nacional Russa (a Rosgvardia) é um organismo que não está sob a tutela do Ministério da Defesa e responde apenas ao presidente russo. Kuzmenkov foi eleito para supervisionar todo o abastecimento desde a retaguarda. 

Kuzmenkov sancionado pela UE

Desde julho de 2022 que Kuzmenkov também está na lista de altos funcionários russos sancionados pela União Europeia e, aponta o El País, a razão pela qual foi incluído o número dois da Guarda Nacional Russa tem a ver com a repressão dos protestos da população de Kherson perante a ocupação russa da cidade. Kuzmenkov também terá estado envolvido no tristemente célebre massacre de Bucha, nos arredores de Kiev, em março de 2022, e é igualmente acusado pelas instâncias europeias de mandar deter civis ucranianos e instaurar uma administração militar nas zonas ucranianas ocupadas pelas forças de Moscovo.

A importância da nomeação de Kuzmenkov é proporcional à das cadeias logísticas de Moscovo, que desempenham um dos principais papéis na invasão russa da Ucrânia: os militares russos têm-se esforçado por manter as forças da linha da frente constantemente abastecidas de armas e de outros equipamentos mas, relatórios recentes, citados pela CNN Internacional, indicam que os oficiais já estão a retirar tanques mais antigos dos armazéns.

Os ucranianos, por seu lado, têm tentado interromper as linhas de abastecimento com fogo de longo alcance e já divulgaram atos de "preparação" da contraofensiva tão divulgada: no fim de semana passado, destruíram um depósito de combustível na Crimeia e, já esta quarta-feira, foi reportado novo incêndio de um reservatório perto da península anexada pela Rússia em 2014. Os depósitos de armamento e munições têm sido igualmente alvos privilegiados por ambos os lados: na madrugada de domingo, a Rússia lançou uma ronda de ataques - que fez dezenas de feridos em várias cidades ucranianas - e anunciou que tinha destruído com sucesso instalações onde estava armazenado armamento fornecido pelo Ocidente.

Mas Kiev, debatendo-se também com os seus próprios problemas de falta de munições, continua a controlar, por exemplo, a principal estrada para abastecimento em Bakhmut, ainda que admita que a situação "continua difícil". E, nos últimos dias, o líder do grupo mercenário russo Wagner, Yevgeny Prigozhin, alertou para a necessidade de retirar da cidade ucraniana, um dos atuais epicentros da guerra na Ucrânia, após lamentar as pesadas baixas e a falta de abastecimento.

"Todos os dias temos pilhas de milhares de corpos que colocamos em caixões para enviar para casa", disse Yevgeny Prigozhin, numa entrevista publicada pelo blogger russo Semyon Pegov, especializado em assuntos militares.

O chefe do grupo Wagner, cujas forças têm vindo a ganhar destaque desde o início da invasão russa, disse que as perdas sofridas em Bakhmut foram cinco vezes mais do que o necessário devido à falta de munições para a artilharia. Yevgeny Prigozhin confirmou também que já escreveu ao ministro da Defesa, Sergei Shoigu, a pedir novos fornecimentos. "Se não conseguirmos resolver este défice de munições, teremos de recuar ou morrer para não acabarmos por fugir como ratos", alertou.

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