Análise: 72 horas caóticas mostram a falta de preparação da Rússia para a contraofensiva da Ucrânia

CNN , Nick Paton Walsh
1 mai 2023, 08:30
Destruição em Uman, na Ucrânia, depois de um ataque russo. (AP Photo/Bernat Armangue)

A muito aguardada contraofensiva da Ucrânia parece iminente - e a forma como cada lado se está a preparar diz muito sobre a sua prontidão.
As linhas da frente de Kiev estão a fervilhar com o movimento de veículos e ataques de artilharia, com explosões frequentes a atingirem alvos russos vitais nas áreas ocupadas.

O ministro da Defesa da Ucrânia afirmou que os preparativos estão “a chegar ao fim” e o seu Presidente, Volodymyr Zelensky, garantiu que uma contraofensiva “vai acontecer”, embora tenha hesitado em indicar uma data exata para o seu início.

Ela pode já ter começado; ou pode estar a semanas de distância. Não sabemos - e esse facto é uma medida forte do sucesso da Ucrânia neste arranque.
Moscovo, por outro lado, está numa fase final da sua guerra. Depois de ter perdido Kharkiv e Kherson, teve pelo menos sete meses para preparar o próximo alvo provável do ataque ucraniano: Zaporizhzhia.

Isso aconteceu, com vastas redes de defesa de trincheiras que podem ser vistas do espaço. Este reconhecimento da sua enormidade não é necessariamente um elogio em 2023. São grandes, sim, mas também são algo que qualquer pessoa pode ver no Google. O que não é muito bom numa era de mísseis de precisão e de rápidos avanços blindados.

Mas foram as últimas 72 horas que talvez tenham traído a Rússia pela mais sua falta de preparação: primeiro, o aparente despedimento do vice-ministro da Defesa responsável pela logística, Mikhail Mizintsev. O Ministério da Defesa russo não explicou a sua demissão, limitando-se a emitir um decreto segundo o qual Aleksey Kuzmenkov ficou com o seu lugar. 

O “carniceiro de Mariupol”, como Mizintsev é conhecido, teve certamente falhas suficientes durante a desastrosa guerra da Rússia para merecer o seu despedimento. Mas isso não satisfaz a pergunta: Porquê agora? Ao demitir ministros importantes no momento em que o seu exército enfrenta o contra-ataque da Ucrânia, Moscovo envia uma mensagem de desordem.

E depois há a nova ronda de críticas de Yevgeny Prigozhin. O senhor da guerra mercenário Wagner escolheu este domingo para dar mais uma longa entrevista, na qual pôs a nu a dimensão dos problemas que os seus mercenários enfrentam. De acordo com o chefe do grupo Wagner, os seus combatentes têm tão poucas munições, o que poderá levá-los a terem de retirarem-se de Bakhmut - a cidade sem importância estratégia onde desperdiçaram milhares de vidas a tentar conquistar. (Uma advertência: Prigozhin não é a fonte mais fiável e fornece poucas provas do que diz. Mas este tipo de discussão pública não é algo que Moscovo encorajaria neste momento sensível).

A erosão das provisões de munições da Rússia era conhecida há muito tempo, mas sugerir um fracasso iminente mesmo antes da contraofensiva parece ser uma tentativa de transferir culpas. Resumindo: as horas antes de a Ucrânia agir estão a diminuir. O que sabemos sobre o seu estado emocional, ou alvo, é quase nada. E a dimensão da indecisão interna, das rivalidades e da desunião em Moscovo só aumenta.

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