"Pode ser uma precipitação" de Zelensky. Afinal, quantos caças F-16 vai a Ucrânia receber dos Países Baixos e da Dinamarca?

20 ago 2023, 20:00

Presidente ucraniano já conta com 42 caças dos Países Baixos, mas o primeiro-ministro do país nunca prometeu esse número. Por outro lado, da Dinamarca já há um número concreto

42+19. Esta foi a conta que o presidente da Ucrânia fez na sequência da visita aos Países Baixos e à Dinamarca. Ambos os países anunciaram o envio de caças F-16, mas não ficou claro quantos vão ser os fornecidos por Haia.

Apesar disso, Volodymyr Zelensky parece ter entendido que serão 42. Um número que não surge do nada, uma vez que o primeiro-ministro, Mark Rutte, anunciou que o país tinha precisamente 42 caças nas suas reservas, ainda que não se tenha comprometido a entregá-los todos.

"Hoje podemos anunciar que os Países Baixos e a Dinamarca se comprometem a transferir caças F-16 para a Ucrânia e para a Força Aérea ucraniana, incluindo uma cooperação com os Estados Unidos e outros parceiros", anunciou.

Um acordo que Zelensky entende ser "inovador", mas que acabou por lançar uma dúvida: o próprio presidente ucraniano disse que o número de caças que a Ucrânia vai receber será discutido "um pouco mais tarde", mas na rede social X anunciou que seriam os tais 42.

"O primeiro-ministro Mark Rutte e eu chegámos a um acordo sobre o número de F-16 que serão transferidos para a Ucrânia assim que os nossos pilotos e engenheiros terminarem a sua formação: 42 jatos, e isto é apenas o começo", disse Zelensky.

Para Tiago André Lopes as palavras do primeiro-ministro neerlandês não são assim tão taxativas. O especialista em Relações Internacionais explicou à CNN Portugal que esta é uma dimensão "curiosa do ponto de vista diplomático". "Zelensky falou em números, Rutte disse que tinha 42 aviões em stock e mostrou disponibilidade para enviar 16. Estes 42 podem ser uma precipitação ou uma não compreensão", diz.

O especialista refere, assim, que este número - os tais 42 caças - pode não ser necessariamente o número de aviões que vão ser enviados. "São duas agendas políticas internas diferentes. Para Zelensky é importantíssimo os aviões o mais rapidamente possível, para Rutte a questão não só não é essencial, como tem outra nuance - as eleições", sublinha Tiago André Lopes, lembrando que o sufrágio que aí vem nos Países Baixos colocam o governo numa posição sensível junto da opinião pública.

Para o especialista em Ciência Política Nuno Sampaio esta é "uma vitória política que Zelensky precisava". Em conversa com a CNN Portugal o professor da Universidade Católica fala num "momento moral" para as forças ucranianas, mas também para a coligação internacional que as apoia.

O especialista lembra que é preciso perceber ao certo quanto tempo demorará o treino e quais as condições necessárias para que os F-16 estejam ao dispor da Ucrânia. "Temos de ser prudentes. A contraofensiva ucraniana não tem corrido à velocidade que as expectativas mais otimistas fariam supor", lembra, aguardando pela chegada destes novos meios para perceber qual o real papel que poderão ter os aviões.

Entretanto, e se dúvidas havia sobre qual a interpretação do presidente da Ucrânia, o próprio fez questão de as desfazer. Numa nova publicação no X Zelensky disse que "os nossos guerreiros vão receber 42 grandes aviões de combate", referindo-se às negociações com os Países Baixos.

Caças sim, mas só daqui a uns meses

O problema está mesmo na chegada dos meios. Numa conferência de imprensa prévia realizada ao lado do chefe de Estado ucraniano, Rutte afirmou que é "crucial que os pilotos sejam treinados" e que as infraestruturas necessárias sejam preparadas para os F-16, sublinhando que estes aviões "não vão ajudar imediatamente [na guerra], mas fazem parte do compromisso a longo prazo" dos Países Baixos com Kiev.

"Queremos que estejam operacionais o mais rapidamente possível. Faremos o nosso melhor para o conseguir", prometeu Rutte, que então não precisou o número de caças a enviar para as forças armadas ucranianas.

E o treino é um dos pontos essenciais. É que, como o próprio ministro ucraniano da Defesa confirmou, existe um "período mínimo de treino de seis meses", pelo que a Ucrânia nunca poderá começar a utilizar os caças antes de 2024. Oleksii Reznikov referiu que serão os instrutores a anunciar quando o treino estiver completo, assim que os pilotos tenham adquirido todas as competências necessárias.

Volodymyr Zelensky e Mark Rutte com um caça F-16 (Peter Dejong/AP)

Já Zelensky congratulou-se, na conferência de imprensa, com o acordo dos Países Baixos em prestar este tipo de assistência militar.

"Foi a primeira vez que ouvi o acordo mais importante, que é o facto de, além dos Estados Unidos - e estamos gratos por isso -, os Países Baixos serem o primeiro país a concordar em entregar F-16 à Ucrânia após a formação. Não quis falar sobre o número, e Mark disse que estamos a discutir o número 42", acrescentou Zelensky, voltando a referir-se a um número com o qual o governante neerlandês não se comprometeu de forma taxativa.

A esses vão juntar-se 19 caças dinamarqueses, sendo que esse número foi mesmo confirmado, no caso pela primeira-ministra dinamarquesa, que recebeu Zelensky ao fim da tarde deste domingo. Mette Frederiksen espera que a primeira entrega possa acontecer por altura do Ano Novo, com seis caças, mas reiterou que o apoio não vai parar aí: em 2024 vão ser entregues oito caças, com a ajuda a ficar completa apenas em 2025, com o envio de outros cinco aviões.

Os Países Baixos foram mais cautelosos no anúncio de uma data para o envio, com o primeiro-ministro a lembrar a necessidade de haver treino, dizendo apenas que o envio deve acontecer "o mais depressa possível".

A Dinamarca assume-se, assim, como um dos países que lideram uma coligação de 11 países para o treino de pilotos ucranianos com caças F-16. O próprio Ministério da Defesa do país confirmou que os treinos com pilotos ucranianos vão começar já no fim deste mês, não se sabendo ainda quantos militares farão parte do acordo, que depois também incluir treinos na Roménia.

O presidente ucraniano também já recorreu ao X para agradecer à Dinamarca, acrescentando que os pilotos e engenheiros "já começaram a treinar na Dinamarca".

Do outro lado a Rússia vê este novo avanço da ajuda ocidental como uma nova provocação. O ministro dos Negócios Estrangeiros já disse que o envio de caças será visto como uma ameaça nuclear, uma vez que aqueles aviões têm capacidade para transportar armas atómicas.

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