"Abrimos as fronteiras, mas todos os refugiados são verificados". Entrevista à embaixadora da Polónia em Portugal

15 mar 2022, 18:00
Joanna Maria Pilecka

A Polónia é o país que mais refugiados ucranianos está a receber. Mais do que corredores humanitários para outros países, como Portugal, Joanna Maria Pilecka insiste que a prioridade é a cooperação europeia. Desta embaixadora polaca vem uma garantia: as portas do país estão abertas, mas verificam-se todos os que entram e todos os que saem

O número cresce a cada dia. Pelas fronteiras da Polónia chegaram já quase dois milhões de refugiados ucranianos. “É a maior crise que temos na Europa depois da Segunda Guerra Mundial”, resume Joanna Maria Pilecka, a embaixadora da Polónia em Portugal, em entrevista à CNN Portugal.

“Se me perguntar qual é o limite, não tenho resposta para isso”. A resposta polaca a quem foge da guerra é feita em três frentes complementares: a governamental, a das organizações e a da própria população que se dispõe a ajudar quem chega.

Mas, com uma guerra sem perspetiva de fim, sabe-se que a pressão na economia polaca far-se-á sentir mais cedo ou mais tarde. E é aqui que o projeto europeu tem, uma vez mais, de entrar em cena. “Claro que precisamos de ajuda dos nossos parceiros internacionais. É óbvio”, diz a diplomata.

“Somos membros da mesma família”

Da Polónia a Portugal são cerca de três mil quilómetros de distância. Daí que a hipótese de percorrer a Europa toda para encontrar refúgio não seja a opção mais imediata. Mas poderiam os dois governos trabalhar para permitir esse fluxo para Portugal, criando corredores humanitários?

Joanna Maria Pilecka vê a questão por outro prisma: o europeu. “Não precisamos de criar corredores humanitários para Portugal. Estamos na União Europeia, somos membros da mesma família”, responde. A prioridade está na cooperação, sim, mas noutras matérias, como a dos passaportes biométricos para os refugiados.

Até porque os receios de organizações não-governamentais e voluntários quanto a potenciais redes de tráfego humano estão a ganhar escala – da Ucrânia vêm sobretudo mulheres e crianças, mais vulneráveis a este risco. Desta representante da Polónia vem uma garantia: há controlo de quem entra e sai do país.

“O facto de termos aberto as nossas fronteiras, não quer dizer que toda a gente cruza a fronteira. Todas as pessoas estão a ser verificadas. E posso garantir que também estão a ser verificadas as pessoas que saem para outros países. Há controlo. É do interesse de todas as partes”, afirma, à CNN Portugal.

Política de migrações: dois pesos, duas medidas?

Com as portas abertas aos vizinhos ucranianos que fogem da guerra, a Polónia tem vindo a ser acusada de ter dois pesos e duas medidas na sua política de migrações. Joanna Maria Pilecka admite que a proximidade com a Ucrânia é determinante, mas assegura que a “Polónia está aberta a migantes” de outras origens. "Só" há uma condição: têm de o fazer de forma legal. E dá um exemplo: “Queria mencionar o caso do Afeganistão. A Polónia recebeu 1300 pessoas”.

No ano passado, a fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia foi notícia, com centenas de migrantes retidos. Na sua maioria, vindos do Médio Oriente. A Polónia acabou por aprovar uma lei que pemitia a expulsão imediata daqueles que entrassem de forma ilegal no país.

“A certo ponto, percebemos que era uma operação criada artificialmente [pela Bielorrússia], com a intenção de criar uma certa pressão e debate contraprodutivos para o meu país”, justifica a embaixadora em Portugal.

As portas estão abertas, resume, “se a Polónia for o país escolhido”. “É muito importante não atuar como o país que dá as autorizações e depois essas pessoas acabam na Alemanha ou nos Países Baixos. É também uma defesa para os nossos parceiros europeus”, conclui.

O próximo alvo?

Com o território polaco ao lado da Ucrânia, e tendo em conta o longo histórico de conflitos com a Rússia, impõe-se uma questão: poderá a Polónia ser o próximo alvo de Moscovo? “Eu não gostaria de traçar esses cenários”, responde Joanna Maria Pilecka, em Lisboa, num edifício hoje convertido em hotel mas que outrora acolheu a primeira representação diplomática polaca em Portugal.

E é na diplomacia que estão depositadas as esperanças para o fim da guerra na Ucrânia: “Há muitos esforços diplomáticos que estão a ser tomados e o mundo democrático ocidental trabalha em conjunto para parar a agressão."

A União Europeia já avançou para o quarto pacote de sanções à Rússia, onde se acaba com o investimento no setor energético, mas mantendo as importações de petróleo e gás natural. Joanna Maria Pilecka diz que é aí que está parte fundamental da solução. “Se não pararmos o gás e o petróleo russos, estamos a dar oxigénio a esta agressão. Se cortarmos este financiamento à Rússia, a guerra terá de parar”, sintetiza, lembrando que a própria Polónia é muito dependente destas matérias-primas russas, ao contrário de Portugal.

Um dos sinais de solidariedade polaca foi dado esta terça-feira, com a viagem para Kiev do primeiro-ministro Mateusz Morawiecki, com os homólogos checo e esloveno, para se encontrarem com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

“Na família europeia, temos de nos ouvir uns aos outros, atentamente, para estarmos conscientes de certas ameaças. A unidade é a única resposta. Espero que essa agressão termine rapidamente”, refere a embaixadora polaca em Portugal.

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