"Tão grande quanto a velha Estocolmo". Uma base escavada nas montanhas é o novo "forte" da marinha sueca

18 abr, 21:06
Base naval de Muskö, na Suécia (Lolita Baldor/AP)

Uma labiríntica rede de túneis navais construída pela Suécia durante a Guerra Fria caiu em desuso para, em 2019, ser reativada face à ameaça russa nos últimos anos.

A invasão da Rússia à Ucrânia em fevereiro de 2022 forçou a Suécia a pôr um ponto final no estatuto de neutralidade que manteve desde o início do século XIX, na sequência de um conflito que culminou na perda da Finlândia para o império russo. Durante 200 anos virou costas a grandes guerras mundiais até março deste ano, aquando da sua adesão à NATO, temendo que os impulsos expansionistas da Rússia não ficassem apenas pela Ucrânia.

Um símbolo dessa neutralidade interrompida é a Base Naval de Muskö, que 25 anos depois de assistir à retirada da marinha sueca voltou a cumprir o seu propósito militar pouco antes da pandemia da covid-19. Começou a ser construída na década de 50 no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, num período em que os países vizinhos Noruega, Islândia e Dinamarca se juntavam à NATO e a Suécia desenvolvia novas formas de defesa em segredo.

Levou 19 anos a ser construída. Em 1950, no início da Guerra Fria, os Estados Unidos e os soviéticos apressavam-se a testar a primeira bomba de hidrogénio enquanto a Suécia, em simultâneo, começava a extrair 1,5 milhões de toneladas de rocha na encosta de uma montanha na ilha de Muskö. Ali, a cerca de 40 quilómetros de Estocolmo, surgia uma instalação ultrassecreta subterrânea com capacidade suficiente para resistir a ataques nucleares, servir submarinos e contratorpedeiros. Quando finalizada, aquela labiríntica rede de túneis navais podia até mesmo caçar submarinos soviéticos.

Mas a ameaça acabou por se dissipar na sequência do conflito, na qual a Suécia também não se posicionou, levando ao início de um processo de retirada das suas forças armadas que durou quase 30 anos e incluiu a doação de milhares de caças, bem como o encerramento das suas bases. Segundo o The Guardian, o país reduziu drasticamente os gastos militares, de cerca de 2,5% do PIB em 1990 para apenas 1% em 2010. Seis anos antes já só tinha tropas a combater no Afeganistão e a patrulhar a costa do Líbano.

Apesar de o Parlamento defender publicamente que, uma vez que o país não enfrentava ameaças significativas devia reduzir o seu exército, Muskö resistiu devido aos elevados custos de limpeza dos túneis e foi apenas desativada. Uma pequena equipa encarregava-se diariamente daquelas instalações, que eram utilizadas por empreiteiros e visitadas por turistas. Assim se manteve até 2019, quando a marinha sueca regressou.

“Os russos podiam usar armas poderosas que exigem o nível de proteção que só Muskö pode fornecer”, disse Niklas Granholm, analista da Agência Sueca de Investigação de Defesa ao The Guardian. Rebecca Landberg, chefe de comunicações da marinha sueca, descreve-a como “única do ponto de vista da fortificação”. “É uma área subterrânea tão grande quanto a cidade velha de Estocolmo”, cita o mesmo órgão.

Um mês depois da adesão da Suécia à Aliança Atlântica, Muskö retoma agitação que outrora ali se fazia sentir, com os refeitórios repletos de fuzileiros e estacionamentos de bicicletas cheios. Desde a sua reativação que as instalações têm vindo a ser modernizadas depois de caírem em desuso em 1990.

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