Sirenes voltam a tocar em Kiev enquanto Moscovo abre corredores humanitários. O que aconteceu durante a madrugada?

7 mar 2022, 07:54
Habitantes de Irpin a fugir da cidade, a 5 de março. (AP Photo/Vadim Ghirda)

Nova noite de confrontos e bombardeamentos em várias cidades, incluindo Mykolayiv. Em Kiev, as sirenes voltaram a tocar, num momento em que Moscovo anunciou um corredor humanitário na capital (que vai dar à Bielorrússia). Insegurança da guerra faz disparar valor do ouro e do petróleo

Nos últimos dois dias, duas operações de evacuação nas cidades de Mariupol e na cidade de Volnovakha falharam. Ainda assim, a Rússia anunciou esta segunda-feira um cessar-fogo a partir das 10:00 horas de Moscovo (07:00 em Lisboa) para permitir que corredores humanitários circulem em várias cidades, incluindo a capital, Kiev.

Esta medida foi tomada a pedido do presidente francês, Emmanuel Macron, e foi divulgada pela agência de notícias russa Interfax, cerca de trinta minutos depois da Ucrânia ter denunciado uma série de bombardeamentos e de ataques durante a madrugada, incluindo na cidade de Mykolaiv, que tem cerca de 480 mil habitantes e na vila de Tuzla, em Odessa.

Nesses ataques, o Ministério da Defesa ucraniano afirma que as tropas de Putin agiram de forma “insidiosa”, sublinhando que “violaram” as regras do direito internacional humanitário, nomeadamente fazendo mulheres e crianças reféns e abrindo fogo em áreas residenciais. 

Segundo um comunicado do governo russo, citado pela agência estatal RIA, "os civis poderão deixar Kiev, Mariupol, Kharkiv e Sumy. Ao mesmo tempo, durante a abertura de corredores humanitários, as Forças Armadas da Federação Russa vão monitorizar o objetivo contínuo da evacuação, inclusive com o uso de veículos militares. Portanto, alertamos que todas as tentativas do lado ucraniano de mais uma vez enganar a Rússia e todo o mundo civilizado ao interromper a operação humanitária, supostamente por culpa das Federações Russas desta vez, são inúteis e inúteis”.

No entanto, as rotas concebidas para a retirada de civis vão, em alguns casos, envolver a passagem por cidades russas. De acordo com as rotas publicadas pela agência de notícias RIA, o corredor de Kiev levará à Bielorrússia, e os civis que procuram fugir de Kharkiv terão apenas um corredor que leva à Rússia. Os corredores humanitários de Mariupol e de Sumy levarão tanto a outras cidades ucranianas, como à Rússia.

Rússia está a "acumular recursos" para tomar Kiev. Sirenes voltam a tocar na capital ucraniana

Em Mykolaiv, após uma batalha feroz de três dias que culminou com as tropas ucranianas a expulsarem as forças russas, voltaram a surgir violentos bombardeamentos e imagens mostraram como o seu impacto iluminou o céu noturno ao longo de uma grande faixa da cidade. Antes do ataque, a cidade estava relativamente calma, com pedestres e tráfego retornando às ruas. Por outro lado, em Tuzla, militares russos dispararam mísseis, a partir do mar, atingindo "infraestruturas estratégicas".

 

 

De acordo com o Ministério da Defesa ucraniano, durante a madrugada, a ofensiva russa continuou os esforços para cercar as cidades de Kiev, Kharkiv Chernihiv, Sumy e Mykolayiv, conseguindo alcançar as fronteiras administrativas de Lugansk e Donetsk e criando um corredor terrestre na direção de Mariupol a Novoazovsk.

Na capital, o governo ucraniano alerta mesmo para o facto de a Rússia estar a planear avançar com um ataque para tomar Kiev, de acordo com um relatório do estado-maior das forças armadas da Ucrânia.

 

Segundo esse relatório, publicado pelo Serviço Especial de Comunicações da Ucrânia na sua página oficial no Telegram, as tropas russas “começaram a acumular recursos para invadir Kiev”. Na cidade de Irpin, na periferia oeste de Kiev, tropas russas estão a avançar em direção à capital com tanques e unidades de infantaria motorizada, bem como a tentar chegar à periferia leste de Kiev através dos distritos de Brovarsky e Boryspil.

De resto, cerca das 05:00 horas locais (03:00 em Lisboa), as sirenes voltaram a soar em Kiev, anunciando que um ataque pode estar iminente.

Por outro lado, segundo avançou o Ministério da Defesa britânico durante a madrugada, as tropas de Putin fizeram, durante o fim de semana, “avanços terrestres mínimos”. “As forças russas provavelmente fizeram avanços mínimos no terreno no fim de semana. É altamente improvável que a Rússia tenha alcançado com sucesso os seus objetivos definidos, até ao momento.”

Já esta segunda-feira, uma terceira ronda de conversações entre a Ucrânia e a Rússia é esperada, segundo anunciou no sábado um membro da delegação ucraniana, David Arakhamia. "A terceira ronda de negociações realiza-se na segunda-feira", escreveu na sua página da rede social Facebook, ao décimo dia da invasão russa da Ucrânia.


 

Ouro e petróleo disparam

Com a incerteza provocada pela guerra, as bolsas asiáticas abriram a madrugada em queda, com os preços do petróleo e do ouro a disparar.  A bolsa de Hong Kong caiu mais de 3%, sendo que os mercados continentais chineses também caíram, mas menos: a bolsa de Xangai desceu 0,26% e a bolsa de Shenzhen 0,53%. A bolsa de Tóquio abriu em baixa, com o principal índice, o Nikkei, a perder 3,46%.

O preço do petróleo aumentou mais de 10 dólares por barril. O Brent, o petróleo de referência da Europa, subiu brevemente mais de 10 dólares para quase 130 dólares por barril. A cotação do crude norte-americano subiu quase nove dólares para mais de 124 dólares por barril.

Já o preço do ouro atingiu o nível mais alto desde setembro de 2020, ao subir acima dos dois mil dólares por onça no comércio asiático, com investidores a procurarem um refúgio seguro face ao impacto económico da guerra.

Antes, a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi tinha afirmado que a Casa Branca está a "explorar" formas de impor legislação para travar importações de petróleo russo. Na mesma linha, o governo do Japão garantiu estar a discutir com as autoridades norte-americanas e europeias a possibilidade de banir as importações de combustíveis fósseis da Rússia.

Europa

Mais Europa

Patrocinados