Porque não estão os EUA a enviar tropas para a Ucrânia

CNN , Análise por Paul LeBlanc
28 fev 2022, 17:37
Soldados norte-americanos. Foto: AP Photo/Nathan Posner

O ataque não provocado da Rússia à Ucrânia, agora no seu quinto dia, foi alvo da condenação universal das potências ocidentais.

As sanções contra a Rússia e a ajuda à Ucrânia chegaram de muitas direções. Mas colocar tropas no terreno, na Ucrânia, que não é um país membro da NATO, é uma linha que os EUA e outros aliados ocidentais não têm estado dispostos a cruzar.

A embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, disse a Dana Bash, no programa "State of the Union" da CNN, que a administração Biden “deixou bem claro” que os EUA não “colocariam soldados no terreno”.

“Não vamos colocar soldados americanos em perigo”, disse ela.

Mas que outros fatores mantêm as tropas americanas fora da Ucrânia? Eis o que precisa de saber:

Porque não enviam os EUA tropas para a Ucrânia?

Embora os EUA tenham condenado as ações da Rússia, em todas as oportunidades possíveis, o presidente Joe Biden esforçou-se por deixar bem claro que os soldados norte-americanos não entrarão na Ucrânia para enfrentar a Rússia diretamente.

E porquê? Como Biden disse à NBC News, no início deste mês, “Quando os EUA e a Rússia começam a disparar um contra o outro, é uma guerra mundial”. Por outras palavras, a entrada dos EUA no conflito tem o potencial de desencadear uma guerra global.

O tenente-general na reserva Mark Hertling, analista militar e de segurança nacional da CNN, disse no “What Matters”, no domingo: “A chave para a diplomacia é limitar o potencial de guerra. Embora a atual guerra relacionada com a invasão ilegal russa à Ucrânia seja trágica, caótica e devastadora, não deixa de ser um conflito regional.”

“Se a NATO ou os EUA enviassem tropas para a Ucrânia para ajudar o país a combater os russos, a dinâmica mudaria para um conflito multinacional com potenciais implicações globais devido ao estatuto de potências nucleares dos EUA e da Rússia. Por causa disso, os EUA e a NATO, e outros países de todo o mundo - estão a tentar influenciar o sucesso da Ucrânia e a derrota da Rússia providenciado outro tipo de apoio”, disse Hertling.

E as tropas norte-americanas na Europa?

Os EUA destacaram milhares de soldados por toda a Europa, tanto antes como durante a invasão da Ucrânia por parte da Rússia.

Barbara Starr, da CNN, informou no domingo que mais de 4000 soldados do Exército dos EUA que foram enviados para a Europa temporariamente terão de prolongar os seus destacamentos, provavelmente por várias semanas, como parte do esforço dos EUA de tranquilizar os aliados do leste europeu, durante a crise atual.

Mas esses soldados não estão presentes para lutar contra os russos.

As forças dos EUA “não estão e não estarão envolvidas num conflito com a Rússia na Ucrânia”, disse Biden na Casa Branca, na quinta-feira.

Pelo contrário, as tropas dos EUA têm a tarefa de defender “os nossos aliados da NATO e tranquilizar os aliados a leste. Tal como deixei bastante claro, os Estados Unidos defenderão cada centímetro do território da NATO com toda a força do poder americano”, acrescentou Biden.

Em algum cenário os EUA podem envolver-se diretamente com a Rússia?

A Ucrânia faz fronteira com os seguintes países membros da NATO: a Polónia, a Eslováquia, a Hungria e a Roménia. Se a Rússia ameaçar um destes países, os EUA - juntamente com a França, a Alemanha, o Reino Unido e os restantes membros da aliança de 30, - seriam obrigados, pelo Artigo 5 do Tratado do Atlântico Norte, a responder.

O Artigo 5 garante que os recursos de toda a aliança podem ser usados ​​para proteger qualquer país membro. A primeira e única vez em que foi invocado foi após os ataques de 11 de Setembro de 2001 aos EUA. Em resultado, os aliados da NATO juntaram-se à invasão do Afeganistão.

As tropas americanas ajudarão a criar uma zona de exclusão aérea na Ucrânia?

Os Estados Unidos não vão colocar pilotos norte-americanos no ar para criar uma zona de exclusão aérea na Ucrânia, disse Thomas-Greenfield no domingo.

A postura da administração Biden de manter as forças norte-americanas fora da Ucrânia significa que “também não vamos colocar soldados norte-americanos no ar, mas trabalharemos com os ucranianos para lhes dar a capacidade de se defenderem”, disse ela.

Embora algumas autoridades ucranianas tenham apelado aos países da NATO que “fechassem os céus” sobre a Ucrânia, estabelecer uma zona de exclusão aérea colocaria os EUA em contato direto com os militares russos, algo que a Casa Branca deixou claro que não está interessada em fazer.

De que outra forma estão os EUA a ajudar a Ucrânia?

O Secretário de Estado Antony Blinken disse no sábado que autorizou um novo pacote de ajuda militar à Ucrânia no valor de 350 milhões de dólares.

“Hoje, enquanto a Ucrânia luta com coragem e orgulho contra o ataque brutal e não provocado da Rússia, autorizei, por delegação do Presidente, um terceiro pacote presidencial, sem precedentes, de até 350 milhões de dólares, para o apoio imediato à defesa da Ucrânia”, disse o mais alto diplomata dos EUA em comunicado.

Os pacotes anteriores foram de 60 milhões e 250 milhões de dólares, colocando o total, ao longo do último ano, em mais de mil milhões de dólares, segundo um funcionário do governo.

Além disso, Blinken anunciou no domingo que os EUA vão enviar quase 54 milhões de dólares em ajuda humanitária à Ucrânia, para apoiar aqueles afetados pela invasão da Rússia.

Como é que os EUA castigaram a Rússia?

Numa palavra, sanções.

Os EUA e os países ocidentais impuseram várias rodadas de sanções à Rússia, visando os setores bancário, aeroespacial e tecnológico. Essas sanções decretam penalidades em todos os setores, incluindo:

• O congelamento de ativos para os maiores bancos

• Restrições de dívida e património em empresas essenciais de minas, transporte e logística

• Um esforço em larga escala para bloquear o acesso a tecnologia essencial para os principais setores militares e industriais russos

Na sexta-feira, os EUA, juntamente com a União Europeia, o Reino Unido e o Canadá, anunciaram sanções diretas ao presidente russo, Vladimir Putin, e ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov.

E no sábado, os EUA e a Comissão Europeia, juntamente com a França, a Alemanha, a Itália, o Reino Unido e o Canadá, anunciaram que expulsariam certos bancos russos da SWIFT, a rede de alta segurança que liga milhares de instituições financeiras no mundo inteiro.

“Com sanções, bloqueios, influências económicas, criação de alianças contra as ações de Putin e, ao mesmo tempo, ao providenciarmos armas e outras ajudas à Ucrânia, esperamos evitar escaladas da situação e consequências mundiais indesejáveis”, disse Hertling.

E a opinião pública?

Tal como escrevemos na semana passada, os norte-americanos estão cautelosos acerca da intervenção dos EUA no conflito Rússia-Ucrânia, segundo pesquisas realizadas no período que antecedeu a invasão por parte da Rússia.

• Numa sondagem da AP-NORC, apenas 26% dos norte-americanos acreditavam que os EUA deveriam desempenhar um papel importante na situação entre a Rússia e a Ucrânia. Cerca de metade, 52%, disse que o país deveria desempenhar um papel menor e outros 20% afirmaram que não deveria desempenhar papel algum.

• Um terço dos democratas (32%) e 22% dos republicanos queriam que os EUA desempenhassem um papel importante. Os independentes foram mais propensos a dizer que os EUA não deveriam desempenhar nenhum papel. Eram 32% os que pensavam assim, em comparação com 22% dos Republicanos e 14% dos Democratas.

E o que vem a seguir?

Thomas-Greenfield disse no domingo que os EUA “não tiraram nada de cima da mesa”, quando questionada sobre atacar o setor energético russo com sanções, algo que até agora não aconteceu.

“Estamos a aumentar as sanções à medida que os russos aumentam as suas ações, portanto, há mais para vir”, disse Thomas-Greenfield a Bash.

As autoridades norte-americanas e europeias falaram em punir o Banco Central da Rússia com sanções, um passo sem precedentes para uma economia do tamanho da Rússia. Thomas-Greenfield não deu um momento exato para isso, mas disse: “Vai acontecer muito, muito depressa.”

A escala das sanções ao banco central ainda está em discussão e pode ter ainda mais impacto do que aquele calculado pelas autoridades, informou Phil Mattingly, da CNN.

E.U.A.

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