Ludmila Artysh vivia sozinha há 20 anos no Porto. Agora recebeu a família obrigada a fugir da Ucrânia

Agência Lusa , BMA
9 mar 2022, 20:58
Aeroporto

“Para eles é muito difícil abandonar as suas casas, a sua pátria. Foi uma luta eu convencer a mãe a sair de lá com os filhos. Para as crianças é um grande trauma psicológico, mesmo conseguindo fugir da guerra”, disse emocionada

Ludmila Artysh vive há 20 anos no Porto e a chegada quinta-feira de cinco familiares refugiados da Ucrânia vai mais do que duplicar a convivência em casa, nada que a preocupe pois, assegura a Lusa, o problema é a guerra.

Desde 24 de fevereiro que as comunicações entre o Porto e Rivne, no noroeste da Ucrânia, assumiram outra dimensão, desde logo, porque assim que as tropas russas invadiram o país o aeroporto local foi destruído, relatou a enfermeira, ainda “longe” de conseguir afastar-se da preocupação nascida nessa data.

Com quatro pessoas a residir na sua casa depois de em dezembro de 2021 o pai, viúvo, ter rumado a Portugal, a chegada na quinta-feira de três sobrinhos, a cunhada e a mãe desta surgem como uma espécie de triunfo para a enfermeira.

“Para eles é muito difícil abandonar as suas casas, a sua pátria. Foi uma luta eu convencer a mãe a sair de lá com os filhos. Para as crianças é um grande trauma psicológico, mesmo conseguindo fugir da guerra”, relatou, emocionada, Ludmila, sempre com o irmão, que ficou “no apoio à defesa territorial”, presente na conversa com a Lusa.

Ele é engenheiro civil e “está a ajudar no que pode para potenciar os pontos de defesa”, contou, confirmando que, para já, ainda não teve que pegar em armas.

Com o relógio em contagem decrescente para receber os familiares é de angústia e de coração apertado que fala dos dias passados, de cujo início, assumiu, “já não se recorda”.

Neste contexto, assumiu, o ter de “reorganizar a casa, nomeadamente o quarto grande, onde dorme o pai, e que passará ou para o quarto do filho ou para a sala”, é “o menor dos problemas”.

“Na verdade, é o mínimo que eu posso fazer. Reorganizar a nossa vida não é o problemático. O coração dói quando vejo nas notícias a destruição das cidades, dos hospitais. É a guerra que é o problema”, enfatizou.

Depois de há dias terem atravessado a “fronteira para a Polónia, no ponto mais a norte, junto à Bielorrússia, num local onde não tem tanta confusão”, a viagem para o Porto já começou, numa carrinha da delegação de Vila Nova de Gaia da Associação dos Ucranianos de Portugal, com chegada prevista para quinta-feira.

“Quando amanhã [quinta-feira] os puder abraçar irei sentir uma mistura de tristeza e de felicidade”, disse, antes de garantir que ficará com eles “o tempo que for preciso”.

E com as questões da legalização entre as tarefas para os próximos dias para a família de refugiados, a preocupação de Ludmila centra-se agora em definir quando irão os “sobrinhos para a escola” e se a cunhada “tem condições emocionais para começar a trabalhar”.

A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de mais de 2,1 milhões de pessoas para os países vizinhos – o êxodo mais rápido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, e muitos países e organizações impuseram sanções à Rússia que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.

A guerra na Ucrânia provocou um número ainda por determinar de mortos e feridos, que poderá ser da ordem dos milhares, segundo várias fontes.

Embora admitindo que “os números reais são consideravelmente mais elevados”, a ONU confirmou hoje a morte de pelo menos 516 civis até terça-feira, incluindo 41 crianças.

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