Como os fuzileiros ucranianos estão a abrir uma nova frente de batalha

10 nov 2023, 22:00
Um grupo de fuzileiros navais ucranianos navega a partir da margem do rio Dnipro, na linha da frente, perto de Kherson, na Ucrânia, a 14 de outubro de 2023. Alex Babenko/AP

Após mais de seis meses de preparação, os soldados ucranianos estão a encontrar novas brechas nas defesas russas

Uma das operações mais difíceis de executar para um exército é o desembarque de soldados em território inimigo do outro lado de um rio. Os militares chamam-lhe cabeça de ponte e, ao longo das últimas semanas, foi precisamente isso que os fuzileiros ucranianos conseguiram de forma arrojada na localidade de Krynky, na margem leste do rio Dnipro. Agora, a Ucrânia está a aumentar a pressão e arrisca-se a criar uma nova frente de batalha que pode ameaçar o controlo russo da Crimeia.

Mas as difíceis ações destes militares treinados especialmente para fazer assaltos anfíbios não começaram este mês. É preciso recuar ao mês de maio, quando a Ucrânia começou por fazer vários ataques de reconhecimento contra as posições russas no outro lado do rio. Em simultâneo, o comando ucraniano deu ordem de preparação logística para o início da operação.

O primeiro passo dado foi a preparação das condições tecnológicas. O impacto dos drones no campo de batalha é algo que ambos os exércitos aprenderam a respeitar. Por isso, a chefia militar ucraniana deslocou para a área mecanismos de bloqueadores de rádio que impedem o funcionamento dos drones russos num raio de quase 20 quilómetros. Ao mesmo tempo, os soldados ucranianos passaram a utilizar drones de maiores dimensões que operam com outras frequências para “caçar” os instrumentos de guerra eletrónica.

Com quase todos os recursos focados na frente sul, foi preciso esperar até ao dia 15 de outubro para o desembarque dos fuzileiros acontecer. Várias unidades de militares ucranianos desembarcaram em diferentes pontos e espalharam o caos na linha defensiva russa, que não esperar um ataque.

A região era defendida pelos soldados russos de um regimento de infantaria motorizada. Quando estes detetaram o desembarque, enviaram vários veículos blindados para a zona de Krynky. Mas sem medidas de guerra eletrónica adequada, os ucranianos devastaram as forças blindadas russas com sucessivos ataques de drones.

A cada dia que passa, as posições dos fuzileiros foram sendo reforçadas com mais homens e mais equipamento. Atualmente, cerca de 300 soldados operam em Krynky. Kiev encontrou também uma forma de conseguir utilizar a pouca força aérea que lhe resta para apoiar o desembarque. Vários ataques ucranianos Mi-24 foram vistos a fazer voos a baixas altitude e a disparar rajadas de foguetes para o outro lado do rio.

Esta semana, vídeos partilhados em canais de Telegram russos mostram que a Ucrânia já enviou veículos blindados para a outra margem do rio. Através de uma pequena embarcação anfíbia de fabrico soviético, é possível ver os ucranianos a transportarem um moderno veículo blindado de transporte de pessoal BTR-4. 

De acordo com o jornal ucraniano Kyiv Post, um segundo desembarque aconteceu mais a norte, a cerca de 25 quilómetros, no dia 25 de outubro. Desde então, á relatos de quatro desembarques em vários pontos do rio. Além de Krynky, os fuzileiros têm posições em Kusaseve, Peschanivka e no norte da ilha de Aleshkin.

Mas as chuvas estão prestes a chegar e com elas todos os avanços se tornam mais lentos. Porém, estes soldados operam a pé e avançam devagar. A incapacidade russa em lidar com estas incursões parece também já ter criado algum mal-estar em Moscovo. O principal comandante russo na região foi removido do posto, sem que qualquer justificação tenha sido dada para isso.

"O inimigo [fuzileiros ucranianos] é capaz de agir de forma tão descarada porque conta com um grande número de drones FPV (First Person View) e um sistema de guerra eletrónica, centros de drones e estações de guerra eletrónica que estão localizados nas ilhas. Sem desativar estes pontos, a coragem da infantaria não pode, por si só, resolver a situação”, afirma o autor de um dos principais canais de Telegram russo, o Rybar.

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