EUA e Israel chocam após declarações do líder da maioria do Senado (e republicanos ameaçam com consequências para a Ucrânia)

14 mar, 17:48
Chuck Schumer (J. Scott ApplewhiteAP)

Afirmações de Chuck Schumer caíram muito mal em Telavive mas também do lado republicano. Para já a Casa Branca está em silêncio

É o ponto de tensão mais elevado entre Estados Unidos e Israel em muito tempo. Depois de o presidente norte-americano ter criticado, ainda que suavemente, algumas das ações israelitas na Faixa de Gaza, o líder da maioria do Senado veio endurecer o discurso.

Chuck Schumer criticou abertamente o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, dizendo mesmo que devem ser marcadas eleições antecipadas.

“Como um grande apoiante de Israel, tornou-se claro para mim: a coligação liderada por Netanyahu já não serve as necessidades de Israel depois do 7 de outubro. O mundo mudou radicalmente desde então e o povo israelita está a ser sufocado por uma visão de governo que está agarrada ao passado”, afirmou o responsável, ele que é o judeu com o cargo político mais elevado nos Estados Unidos, facto que o próprio não quis deixar passar no discurso.

“Cinco meses com este conflito tornaram claro que os israelitas precisam de perguntar se devem mudar de curso. Nesta conjuntura crítica, acredito que uma nova eleição é a única forma de permitir um processo saudável e aberto de decisão sobre o futuro de Israel, numa altura em que muitos israelitas perderam a confiança na visão e direção do governo”, acrescentou.

Esta é apenas mais uma fonte de pressão ao presidente Joe Biden, com o Partido Democrata a começar a perder a paciência com Telavive e a aplicar uma linha mais dura às ações israelitas, nomeadamente pelas sanções contra os colonos estabelecidos na Cisjordânia.

Apesar disso, Schumer, também ele do Partido Democrata, quis deixar bem claro que condena o ataque do Hamas e que os Estados Unidos devem continuar a apoiar Israel, enquanto tentam mediar negociações para um cessar-fogo e para a libertação de todos os reféns que ainda estão presos na Faixa de Gaza.

Ainda assim, o responsável entende que nem tudo justifica algumas ações israelitas. “Angustia-me que a campanha israelita tenha matado tantos palestinianos inocentes”, afirmou, dizendo que os seus “concidadãos norte-americanos sentem a mesma angústia quando veem imagens de morte e de crianças a morrer à fome”.

A Casa Branca não se pronunciou sobre as críticas do líder da maioria no Senado nem sobre os seus apelos à realização de novas eleições no país. 

"Sabemos que o líder Schumer tem uma opinião forte sobre o assunto", disse o porta-voz da segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, aos jornalistas. "Então, certamente vamos deixá-lo falar sobre isso."

Kirby disse ainda que o governo Biden iria "manter o foco em garantir que Israel tenha o que precisa para se defender, enquanto faz tudo o que pode para evitar vítimas civis". O foco segue em conseguir um cessar-fogo.

Já o Departamento de Estado decidiu mesmo distanciar-se destes comentários, afirmando que o Congresso é um órgão independente e que as palavras são do líder da maioria no Senado, e não do presidente Joe Biden.

Republicanos ameaçam com Ucrânia

Como se esperava, não demoraram as críticas às palavras de Schumer. Uma das primeiras foi do líder do Partido Republicano no Senado, Mitch McConnell, que falou precisamente a partir da câmara alta do Congresso.

“Israel não é uma colónia norte-americana de quem os líderes no poder em Washington DC se servem a belo. Só os cidadãos israelitas devem poder dizer quem governa”, afirmou, antes de referir que é “grotesco e hipócrita” que alguns norte-americanos falem de interferência na democracia para depois pedirem a “remoção do líder democraticamente eleito de Israel”.

“Isto não tem precedentes. Não devemos tratar as democracias amigas assim, de todo”, reiterou McConnell.

Também o presidente da Câmara dos Representantes criticou as palavras de Schumer. O republicado Mike Johnson falou em declarações “altamente inapropriadas”, criticando o “papel divisivo” na política israelita.

O responsável acrescentou, em declarações à CNN, que estas novas declarações fazem o Partido Republicano “considerar” a separação do pacote de ajuda externa, que até agora estava a ser negociado em conjunto com o apoio a enviar à Ucrânia, o que deixa no ar a possibilidade de ficar ainda mais difícil a aprovação de uma ajuda militar a Kiev.

“Isto provavelmente altera o cálculo, pelo que estamos a considerar”, afirmou.

Israel reage

Não era difícil de imaginar a reação de Israel, que veio em força criticar as afirmações de Chuck Schumer. Uma das primeiras vozes foi o partido do principal visado, Benjamin Netanyahu, que afirmou que Israel não é uma "República das Bananas".

O Likud rejeitou um cenário de demissão do primeiro-ministro. "Ao contrário das palavras de Schumer, Israel apoia publicamente uma vitória total sobre o Hamas, rejeita quaisquer ditados internacionais para estabelecer um Estado terrorista palestiniano e opõe-se ao regresso da Autoridade Palestiniana a Gaza", pode ler-se.

"Espera-se que o senador Schumer respeite o govern eleito de Israel e não que o mine. Isto é sempre assim, ainda mais em tempo de guerra", refere a nota.

Também o embaixador israelita nos Estados Unidos criticou estas palavras. Michael Herzog lembrou que Israel é uma "democracia soberana", acusando as palavras de Schumer de serem "contraproducentes" em tempos de guerra e com os dois países a terem "objetivos comuns".

E.U.A.

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