A nova vice-governadora do Banco de Portugal é casada com o ex-secretário de Estado do Tesouro que esteve no cargo até março e que entretanto foi nomeado para a presidência da Infraestruturas de Portugal
Em apenas um mês, o Governo escolheu marido e mulher para dois altos cargos do Estado. Miguel Cruz, o ex-secretário de Estado do Tesouro do segundo ministro das Finanças de António Costa (João Leão), foi nomeado presidente da Infraestruturas de Portugal; e a mulher, Clara Raposo, vai ser vice-governadora de Mário Centeno no Banco de Portugal.
A nomeação de Clara Raposo, até agora presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), que já passou por várias universidades, foi conhecida no início de setembro e já teve o parecer favorável da Comissão de Orçamento e Finanças da Assembleia da República. Nenhum partido criticou a escolha, mas vários deputados da oposição desconheciam a relação familiar que leva agora o PSD e o Chega a repensarem a opinião que tinham.
Questionada pelo Exclusivo da TVI, do grupo da CNN Portugal, a futura vice-governadora do Banco de Portugal defende que não vê qualquer conflito de interesses e sublinha que o seu nome passou pelo Parlamento.
“O meu marido não é, nem sequer foi, membro do atual Governo que me nomeia. Não exerce atualmente quaisquer funções no setor financeiro, nem teve qualquer intervenção enquanto secretário de Estado em área relevante para o Banco de Portugal”, refere Clara Raposo.
Já a ida de Miguel Cruz para a liderança de uma das maiores empresas públicas foi conhecida no final de agosto e segue aquilo que já começa a parecer ser uma tradição de indicação para altos cargos no Estado ou na Europa de governantes que passaram pelo Ministério das Finanças nos governos de António Costa.
Mário Centeno, o ex-ministro, foi o primeiro ao ser escolhido para governador do Banco de Portugal, para onde levou o seu ex-secretário de Estado do Tesouro, Álvaro Novo, que é hoje seu chefe de gabinete no regulador da banca.
O antigo secretário de Estado Adjunto e das Finanças de Mário Centeno, Ricardo Mourinho Félix, é há dois anos vice-presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI), depois de o seu nome ter sido apontado pelo Ministério das Finanças na altura liderado por João Leão.
Cláudia Joaquim, ex-secretária de Estado do Orçamento de 2020 a 2022 e ex-secretária de Estado da Segurança Social de 2015 a 2019 é desde maio presidente da Agência para o Desenvolvimento e Coesão, principal responsável pela execução dos muitos milhões de euros dos fundos comunitários do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Também João Leão foi indicado pelo seu sucessor na pasta do Ministério das Finanças, Fernando Medina, como candidato a diretor-geral do Mecanismo Europeu de Estabilidade, uma candidatura que acabou por ser retirada, em setembro, por falta de apoios.