Sp. Braga-V. Guimarães, 0-0 (crónica)

2 fev 2002, 23:58

Ameaças frouxas de um derby «ibérico» Os arsenalistas foram melhores, atacaram mais e acertaram várias vezes no poste. Um penalty não assinalado e três expulsões estragaram o que poderia ter sido um grande jogo.

«Nós somos Portugal». A mensagem surgia estampada num pano colocado nas redes do Estádio 1º de Maio. Quem a exibia com orgulho era uma das claques do Braga, que procurava provocar os adeptos do Guimarães, eternos rivais no futebol e na vida. Estes respondiam com uma lacónica inscrição: «A nossa História é feita de conquistadores portugueses. E a vossa?»  
 
Um despique de palavras interessante, que chega a motivar risos, mas que nunca atinge o nível do desrespeito, porque esta gente é acima de tudo vizinha, colega e amiga no dia-a-dia, que se servem destas pequenas tradições para animarem o sentimento de patriotismo. É que apesar da Nação ter nascido em Guimarães, em Braga é usual chamar-se aos vimaranenses espanhóis, enquanto os bracarenses são os portuguesas. Obviamente por razões geográficas, porque Guimarães fica mais a norte.  
 
Este alimentar saudável da história dos confrontos entre os dois clubes era o mote para o que se desejava ser um grande espectáculo, para além disso animado por milhares de pessoas presentes no 1º de Maio, por duas equipas moralizadas pelos resultados recentes e a expectativa de saber até onde o Vitória poderia ir para consolidar o sexto lugar na classificação.  
 
Braga dominador  
 
A postura das duas equipas cedo se percebeu, com o Braga a assumir claramente o domínio do jogo e definindo claras e sistemáticas jogadas de ataque, obrigando o adversário a recuar. As intenções do Guimarães ficaram-se por um susto inicial, provado num canto, mas que não passou de uma bola ao lado, com a necessária confusão na área. Caso acontecesse, seria aquela tipo de golos em forma de bicada de ferrão, com o espeto venenoso a ficar cravado e a não sair se o antídoto não fosse encontrado.  
 
As ameaças de um jogo melhor não passaram aos actos. Ou seja, as oportunidades de golo surgiram de todas as formas e quase sempre por intermédio dos jogadores orientados por Cajuda. O Braga jogou melhor e merecia vencer. Fez por isso, mas para além de ter falhado muito à frente da baliza e de Palatsi ter estado em grande nível, também teve azar, porque ainda viu a bola bater nos ferros por três vezes.  
 
Sem golos, o jogo parece estagnar, com os arsenalistas sempre no limiar do sucesso. Cléber é expulso nos minutos finais da primeira parte e Inácio vê-se obrigado a tirar Fangueiro, que tem marcado muitos golos nos últimos jogos, para não ficar com a defesa desguarnecida. Cajuda sorria e esfregava as mãos de contente, mas esperava até ao início da segunda parte para tirar um defesa (Zé Nuno) e lançar mais um avançado (Riva). O seu amigo Quinito, que assistia na bancada, poderia usar uma das suas frases célebres nestas circunstâncias: «Meteu a carne toda no assador».  
 
Só que a ousadia do treinador quase o levava a engolir em seco, com a catadupa de acontecimentos nos minutos finais da partida. Lima foi adaptado a lateral-direito e viu-se em situações complicadas, quando Lixa entrou no Guimarães. O avançado mostrou, uma vez mais, estar a regressar aos melhores tempos e «forçou» a expulsão do seu antigo colega por duas faltas duras, quando tentava isolar-se no lado esquerdo do ataque. Este foi apenas um dos elementos da escaldante parte final do encontro.  
 
Expulsões e casos, claro  
 
As inevitáveis dúvidas na interpretação de certos lances teriam de surgir num jogo tão quente como o derby minhoto. O árbitro João Ferreira esteve no centro das atenções, primeiro por consequência de algumas decisões dos seus auxiliares, depois devido aos nove amarelos que provocaram duas expulsões para cada lado e finalmente numa grande penalidade não assinalada a favor do Guimarães, que pôs Pimenta Machado com os cabelos em pé de tanta indignação.  
 
Depois de Cléber, Ricardo Rocha empatou o número de jogadores em campo (10 para cada lado) já na segunda parte, tal como o seu congénere também vendo dois amarelos num curto espaço de tempo. Lima ainda foi expulso, numa decisão discutível do juiz da partida, que só serviu para incendiar um jogo já de si muito aquecido. A partir do momento em que o árbitro começou a excluir jogadores, as equipas perderam a sua estrutura e o encontro ficou sem nexo. Os arsenalistas continuaram a atacar, a criar perigo, a enviar bolas ao poste, mas não dava para marcar.  
 
O Guimarães, por seu lado, tentava o contra-ataque e a possibilidade de um golpe de sorte que pudesse deitar por terra toda a estratégia do adversário. Chegaram quase a conseguir encontrar o caminho para o triunfo, com uma magnífica jogada de Nuno Assis, que fintou quatro adversários e quando já estava na área parece ter sido derrubado por Tito. João Ferreira estava bem colocado e mandou seguir o lance, mas o banco do Guimarães não escondeu o seu descontentamento, com todos os elementos a levantarem-se em uníssono, um impulso de indignação. Ficou a dúvida se a falta teria sido dentro ou fora da área, mas o árbitro nada marcou.

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