A farta produção de Tozé
Não terá sido por acaso que a sua entrada em cena coincidiu com a impensável reviravolta, em que talvez só o próprio e Manuel José secretamente acreditavam. Não pisou o relvado por muito mais de quinze minutos e marcaria pouco depois do sinal da cruz e dos exercícios de aquecimento que o antecederam. Mais uns instantes e estava diante de Quim, isolado, para não falhar. Por fim, numa produção alucinante, serviu o golo a Dinda, que agradeceu no drible e no remate indefensável.
Todo ele, artista de raros e invejados requintes, foi subtilezas num jogo de duros. Do calcanhar à ponta dos cabelos, do drible à simulação, Edmilson interpretou os gestos mais doces e finos de um jogo que teve pouco de delicado. Em pés de lã, com fintas aveludadas, gerou um amontoado de desequilíbrios, que, para seu azar, jamais lhe renderiam o golo, que construiu exclusivamente para gozo alheio.
Marcou, mas não roçou o brilho do companheiro predilecto de diabruras. Pior ainda, quase se extinguiu depois da saída de Edmilson. Um perigo frequente, antes da «perda» do ponto de referência para qualquer movimento de ataque, e um caso de súbita inconsequência, a partir do instante em que a fadiga e as queixas de Edmilson o privaram de uma espécie de «alma gémea», que lhe lê, como ninguém, todos os planos e intenções.
O médio, de quem já se disse estar a caminho das Antas e em quem se detectaram fartas semelhanças com Zahovic, mostrou muito mais do que o labor de um incansável recuperador. Em longos períodos, o jogo desafiou-o a conjugar rigor táctico, arte e imprevisto. O resultado confundiu-o, novamente, com o esloveno. Terá sido aquele que menos mereceu a derrota.
A face mais visível do contra-ataque do Leiria e o rosto mais crispado do inconformismo. Fez os dois golos que relançaram o jogo, quando o Braga parecia embalá-lo na certeza de que a vitória jamais lhe escaparia, e assinou participação nos lances mais arrepiantes para Quim.
